quinta-feira, dezembro 22, 2011

Testas de ferro


Esta agressiva ofensiva do capital financeiro por uma nova ordem social neoliberal, aproveitando a oportunidade que as debilidades orçamentais dos estados lhe oferecia, estados a braços com os problemas resultantes dos défices e dívidas públicas elevadas, como enunciámos no último post, necessitava do apoio dos governos dos países escolhidos como primeiros alvos. E, perante a recusa dos governos da Grécia e da Itália em adoptarem as mais severas medidas de austeridade que se lhes exigiam, beneficiando por outro lado dos receios, das dúvidas e incertezas das populações que o rápido desencadear da crise nelas provocava, não hesitaram em saltar por cima da democracia e colocar os seus algozes directos, executivos da banca, como testas de ferro da execução das suas políticas anti sociais.
Não foi o caso português. Por cá temos um governo e um primeiro-ministro que se prestam a esses execráveis desígnios. Demonstrando até uma incompreensível satisfação no cumprimento desse odioso papel. Esforçam-se por “ir mais além da troika” o que significa gozar da ambição de sacrificar mais o seu povo ultrapassando as exigencias da troika.
São governantes despossuídos de qualquer sensibilidade social. Defendem exclusivamente os interesses do capital financeiro na fundada suposição que serão por ele, mais tarde, bem recompensados.
Na História figurarão apenas como lacaios dos interesses estrangeiros e traidores do seu povo.

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quarta-feira, dezembro 21, 2011

Nova ordem social neoliberal


Passos Coelho, Victor Gaspar e todo o séquito de politólogos, economistas e comentadores que aparecem nas televisões, apoiantes das políticas de austeridade que nos são impostas, não deixam de ter razão quando afirmam “a necessidade imperiosa dos portugueses apertarem o cinto”.
Na verdade, na nova ordem social neoliberal que perfilham, exigem-se transformações profundas e radicais nas condições de vida dos trabalhadores e na generalidade dos trabalhadores por conta de outrem, quanto à protecção social, leis laborais, redução de salário, património e funções sociais do Estado.
Exige-se um empobrecimento “ajustado” de modo que toda a riqueza deste modo subtraída aos trabalhadores, seja canalisada para as instituições financeiras através do pagamento dos juros da dívida pública (em 2012, prevê-se em orçamento do Estado o pagamento de 9.363 milhões de euros, só em juros).
Uma nova ordem social, sonhada de há muito pelas instituições e oligarquias financeiras europeias e dos EEUU e que agora, depois da crise financeira que elas próprias originaram e de que são as únicas responsáveis, num claro aproveitamento dos desequilíbrios orçamentais dos países da UE (desequilíbrios por ironia ampliados pelos apoios financeiros às próprias instituições financeiras descapitalizadas) de que resultou um intempestivo e acelerado aumento da dívida pública (no nosso caso a dívida pública que era de 68,3% do PIB em 2007 passou para 100,8% em 2011).
Aproveitando-se da debilidade financeira em que caíram os países, passam de devedores a credores, exigindo agora aos estados que precisam de empréstimos, juros altíssimos e, mais do que isso, programas de austeridade que outra coisa não são que a aplicação da nova ordem social neoliberal que ambicionavam há décadas. Uma nova ordem social apadrinhada e impulsionada pela Comissão Europeia, hoje visivelmente dominada pela alta finança europeia. Compreende-se assim, que para investir/especular nas dívidas públicas dos estados europeus com juros superiores a 5% o BCE empreste dinheiro aos bancos a juros de 1% enquanto nega empréstimos aos estados. Não haveria lugar a programas de austeridade, de igual natureza aos que estão a ser impostos pela troika, se o BCE emprestasse aos estados a juros de 1%.
Mas, como vimos, o objectivo último da Comissão Europeia não é a solvência dos estados, a manutenção das funções sociais do estado ou a melhoria das condições de vida dos cidadãos, antes pelo contrário, num retrocesso social sem precedentes, procura o empobrecimento generalizado das populações (os chamados “ajustamentos”) através da redução salarial, desregulação do trabalho e diminuição das funções sociais do Estado na mais profunda e retrograda alteração da ordem política e social que há memória nas últimas décadas.


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domingo, dezembro 18, 2011

As dívidas que não se podem pagar não se pagam

Uma austeridade orientada a favor dos credores, está a ser imposta na Europa pelo Banco Central Europeu (BCE) e pela burocracia da UE. Ostensivamente, os governos sociais - democratas se preocuparam mais em salvar os bancos do que em reanimar o crescimento económico e o emprego. As perdas pelos empréstimos bancários tóxicos e pelas especulações passaram para as finanças públicas enquanto se vão reduzindo as despesas públicos e incluso se vendem infra-estruturas públicas. A reacção dos contribuintes que têm que carregar com a dívida resultante, foi sair à rua em protesto a partir da Islândia e Letónia em Janeiro de 2009, com manifestações mais generalizadas na Grécia e na Espanha, este Outono, para protestar contra a não realização de referendos relativamente a estes nefastos resgates dos donos estrangeiros de dívida pública.

Toda a economia está planificada. Tem sido tradicionalmente a função dos governos. A renúncia a este papel sob o lema do “livre mercado” deixa-a nas mãos dos bancos. Ao procurar os seus próprios benefícios, os bancos tendem a destruir a economia. O excedente termina consumido pelos juros e outros encargos financeiras, o que não deixa rendimentos para novos investimentos de capital ou gastos sociais básicos.
Por isso, a abdicação do controle da política em favor de uma classe credora, poucas vezes combinou com o crescimento económico e o aumento dos níveis de vida. A tendência de que as dívidas cresçam mais rápido que a capacidade de pagamento da população tem sido uma constante básica de toda a história escrita. As dívidas aumentam exponencialmente, absorvendo o excedente e reduzindo a população à escravidão das dívidas.

O sector financeiro obteve suficiente influência para aproveitar semelhantes emergências como uma oportunidade para convencer os governos de que a economia se colapsará se não “salvarem os bancos”. Na prática, isto significa a consolidação do seu controlo sobre a política, que utilizam de modo que polarizam ainda mais as economias. Dar prioridade aos banqueiros e deixar que a UE, o BCE e o FMI, ditem a planificação económica.
As dívidas dos bancos privados incorporadas aos balancetes na Irlanda e na Grécia converteram-se em obrigações dos contribuintes.
Isto, o ditam os testa-de-ferro financeiros denominados “tecnocratas”. Designados por lobistas dos credores, o seu papel é calcular exactamente quanto desemprego e depressão é necessário para exprimir um excedente para pagar aos credores pelas dívidas que têm em carteira. O que faz com que o cálculo seja contraproducente é o facto de que a contracção económica – deflação da dívida – faz que o seu peso se torne ainda mais impagável.
Um princípio matemático e político básico entra em acção: As dívidas que não se podem pagar não se pagam.
Michael Hudson ( ler em counterpunch)

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quinta-feira, dezembro 15, 2011

Jens Weidmann, presidente do banco central alemão (Bundesbank) e membro do Conselho do Banco Central Europeu, comparou hoje os países endividados às pessoas que têm problemas com a bebida.
Questionado sobre se o BCE está disposto a aumentar a compra de dívida soberana para ajudar os Estados-membros do euro com problemas, Weidmann indicou que isso seria o mesmo que dar um último trago a um alcoólico: "Não creio que seja bom dar uma garrafa a um alcoólico. Não servirá para o ajudar a resolver o seu problema".
A Alemanha já destruiu a Europa duas vezes. Prepara-se, a manterem-se as políticas da UE decididas e controladas pela senhora Merkel, a arruiná-la uma vez mais. Urge que tal poder decisório no seio da UE seja retirado de vez à Alemanha.
Antes que seja tarde demais.

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quarta-feira, dezembro 14, 2011

Os “mercados” já não toleram o Estado Social

Josetxo Ezcurra
As empresas de rating, as três agências de qualificação (Fitch Ratings, Moody’s y Standard & Poor’s) gozam de uma desmedida e escandalosa importância pois da nota de confiança que atribuem a um país depende o juro que ele pagará para obter crédito dos mercados. Quanto mais baixa a nota, mais alto será o juro.
Estas agências não só costumam equivocar-se, em particular em suas opiniões sobre as “subprimes” que deram origem à crise actual, senão que, num contexto como o de hoje, representam um papel execrável e perverso. Como é óbvio que todo o plano de austeridade, de cortes no seio da zona euro se traduzirá numa queda do índice de crescimento, as agências de qualificação baseiam-se nisso para degradar a nota do país. Consequência: este deverá dirigir mais dinheiro ao pagamento da sua dívida. Dinheiro que terá que obter aumentando impostos e cortando ainda mais nas suas funções sociais. Com o qual a actividade económica se reduzirá inevitavelmente assim como as perspectivas de crescimento. E então, de novo, as agências degradarão a sua nota...
Este infernal ciclo de “economia de guerra” explica por que razão a situação da Grécia se degradou tão drasticamente à medida que o seu governo multiplicava os cortes e impunha uma férrea austeridade. De nada serviu o sacrifício dos cidadãos. A dívida da Grécia baixou ao nível dos “bonos” de lixo.

Deste modo os mercados obtiveram o que queriam: que os seus próprios representantes acedessem directamente ao poder sem terem que submeter-se a eleições. Tanto Lucas Papademos, primero- ministro da Grécia, como Mario Monti, Presidente do Conselho de Itália, são banqueiros. Os dois, de uma maneira ou de outra, trabalharam para o banco Goldman Sachs, especializado em colocar homens seus nos postos de poder.
Estes tecnocratas deverão impor, custe o que custar socialmente, na lógica de uma “democracia limitada”, as medidas (mais privatizações, mais cortes, mais sacrifícios) que os mercados exigem. E que alguns dirigentes políticos não se atreveram a tomar por temor da impopularidade que isso acarreta.
A União Europeia é o último território no mundo em que a brutalidade do capitalismo é ponderada por políticas de protecção social. Isso, ao que chamamos Estado Social. Os mercados já não o toleram e querem demoli-lo. Essa é a missão estratégica dos tecnocratas que acedem aos orçamentos dos Estados mercê de uma nova forma de tomada de poder: o golpe de Estado financeiro. Apresentado aliás como compatível com a democracia.
É pouco provável que os tecnocratas desta “era pós-política” consigam resolver a crise (se a sua solução fosse técnica, já a tinham resolvido). Que se passará quando os cidadãos europeus constatem que os seus sacrifícios foram em vão e que a recessão se prolonga? Que níveis de violência alcançarão os protestos? Como se manterá a ordem na economia, nas mentes e nas ruas? Se estabelecerá una tripla aliança entre o poder económico, o poder mediático e o poder militar? Se converterão as democracias europeias em “democracias autoritárias”?

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terça-feira, dezembro 13, 2011

cumplicidade activa

Está claro que não existe, no seio da União Europeia (UE), nenhuma vontade política de enfrentar os mercados e resolver a crise. Até agora atribuía-se à lamentável actuação dos dirigentes europeus à sua desmedida incompetência. Mas esta explicação (ainda que justa) não basta, sobretudo depois dos recentes “golpes de Estado financeiros”, na Grécia e na Itália. Torna-se óbvio que não se trata apenas de mediocridade e de incompetência, mas de cumplicidade activa com os mercados.
A que chamamos “mercados”? A esse conjunto de bancos de investimento, companhias de seguros, fundos de pensões e fundos especulativos (hedge funds) que compram e vendem essencialmente quatro tipos de activos: divisas, acções, obrigações dos Estados e produtos derivados.
Para ter una ideia da sua colossal força basta comparar duas cifras: em cada ano, a economia real (empresas de bens e de serviços) cria, em todo o mundo, uma riqueza (PIB) estimada em 45 bilhões de euros. Enquanto, no mesmo tempo, à escala planetária, na esfera financeira, os “mercados” movem capitais num valor de 3.450 bilhões de euros. Ou seja, setenta e cinco vezes o que produz a economia real...
Consequência: nenhuma economia nacional, por mais poderosa que seja (Itália é a oitava economia mundial), pode resistir aos assaltos dos mercados quando estes decidem atacá-la de forma coordenada, como acontece desde há mais de um ano contra os países europeus depreciativamente qualificados de PIIGS (porcos, em inglês): Portugal, Irlanda, Itália, Grécia e Espanha.
O pior é que, contrariamente ao que poderia pensar-se, esses “mercados” não são forças exóticas vindas de algum horizonte distante para agredir as nossas gentis economias. Não. Em sua maioria, os “atacantes” são os nossos próprios bancos europeus (esses mesmos que, com o nosso dinheiro, os Estados da UE salvaram em 2008). Para dizê-lo de outra maneira, não são só fundos estadounidenses, chineses, japoneses ou árabes os que estão atacando massivamente algunos países da zona euro.
Trata-se, essencialmente, de uma agressão desde dentro, vinda do interior. Dirigida pelos próprios bancos europeus, as companhias europeias de seguros, os fundos especulativos europeus, os fundos europeus de pensões, as instituições financeiras europeias que administram as poupanças dos europeus. Eles são quem possui a parte principal da dívida soberana europeia. E quem, para defender – em teoria – os interesses dos seus clientes, especulam fazendo aumentar os juros que pagam os Estados endividados, até levar a vários destes (Irlanda, Portugal, Grécia) a muito perto da bancarrota. Com o consequente castigo para os cidadãos que devem suportar as medidas de austeridade e os brutais ajustes decididos pelos governos europeus para acalmar os “mercados”, ou seja, os seus próprios bancos...

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segunda-feira, dezembro 12, 2011

A AGENDA DO DINHEIRO E A DAS RUAS

Na véspera da cúpula de Bruxelas, o BC europeu sinalizou a natureza estrita do que seria a prioridade do encontro encerrado nesta 6ª feira. A instituição dirigida pelo italiano Mario Draghi, não por acaso ex-vice presidente do Goldman Sachs para Europa, tratou de resgatar os bancos e deixou a sociedade nas mãos dos mercados. Draghi cortou juros e ofereceu liquidez ilimitada ao crédito interbancário, o que é importante, mas não resolve impasses estruturais da UE. A começar pelo facto de que o banco central que ele dirige não é um instrumento de soberania da sociedade sobre os mercados, muito ao contrário. Ao aderirem ao euro, os Estados não dispõem mais de uma autoridade monetária capaz de emitir dinheiro e administrar a dívida pública; por lei, o BCE é proibido de comprar títulos oficiais, excepto emprestando dinheiro a bancos para que o façam, com lucro. O mundo não teria vencido a crise de 1929 se essa fosse a regra. Ela subordina o financiamento público (leia-se, investimento estatal, políticas sociais e de emprego e a taxa de juro) à chantagem especulativa dos 'livres mercados'. Essa é uma das causas da crise actual que a cúpula do euro, longe de corrigir, radicalizou. Não por acaso, o encontro, cercado de expectativas, dissipou-se em conflitos e tensão. Não se ouviu em Bruxelas qualquer menção a palavras como crescimento, democracia e trabalho. Faz todo sentido: o lugar para discutir isso, cada vez mais, é a rua.

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o exemplo

Islândia triplicará o seu crescimento em 2012, depois de meter na cadeia os políticos e banqueiros.
Islândia conseguiu acabar com um governo corrupto e parasita. Encerrou os responsáveis da crise financeira na cadeia e começou a redigir uma nova Constituição feita por eles e para eles. (maestroviejo)

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sábado, dezembro 10, 2011

Os portugueses são os que mais trabalham na Europa

Cada vez que se fala de trabalho e produtividade existe o estereótipo da eficiência alemã e da indolência grega (ou portuguesa). Diz-se que os gregos são uns preguiçosos e que os alemães são os campeões da produtividade na Europa. Contudo, estes dados publicados pela Oficina de Estatísticas Europeia (Junho 2011) para as horas de trabalho nos 27 países da União Europeia dizem outra coisa: os alemães não são os mais produtivos da Europa e os gregos não têm nada de indolentes. De facto são os que mais trabalham na Europa, como mostra a figura. (elblogsalmon)
Eram, já não são os que mais trabalhavam na Europa. Hoje, depois do governo de Passos Coelho oferecer ao patronato mais 2,5 horas semanais de trabalho gratuito, passam os trabalhadores portugueses a serem aqueles que mais trabalham na Europa: 44,8 horas.
É um record que deverá de encher de orgulho Passos Coelho e o seu “boy de Chicago” ministro das Finanças, mas que deverá merecer o maior desprezo, indignação e revolta dos trabalhadores portugueses.

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sexta-feira, dezembro 09, 2011

"união fiscal"

Ahora proponen lo que llaman una “unión fiscal”, que en realidad es sólo la imposición de mayor austeridad. Reclamar austeridad ahora es una forma de asegurarse que las economías colapsen. Creo que el esquema que Alemania está imponiendo al resto de Europa va a conducir a la misma experiencia que Argentina tuvo con el FMI, con austeridad, PBI cayendo, magros ingresos fiscales y, por eso, la supuesta necesidad de reducir más el déficit. Eso genera una caída en espiral, que conduce a más desempleo, pobreza y profundiza las desigualdades. El déficit fiscal no fue el origen de la crisis, sino que fue la crisis la que generó el déficit fiscal.

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segunda-feira, dezembro 05, 2011

Josetxo Ezcurra

sexta-feira, dezembro 02, 2011

Salvam-se os bancos, exploram-se as nações

Não é verdade que os portugueses tenham alguma vez vivido “acima das suas possibilidades” como se pretende fazer crer com a manipuladora e vergonhosa campanha dos meios de comunicação social inequivocamente paginados com os interesses do governo. E, quando escutamos os políticos da “situação” ou toda a vasta casta de “comentadores” pagos das televisões, todos eles não deixam de vincar bem que os tais portugueses que têm vivido “acima das suas possibilidades” são aqueles portugueses que vivem do rendimento do seu trabalho por conta de outrem ou do seu pequeno comércio ou industria, isto é, 90% da população (uma vez que aos outros 10% nunca lhes faltou dinheiro algum).
Como se fosse lícito e justo culpar os portugueses por terem recorrido ao crédito para comprarem as suas casas (porque só o crédito imobiliário atinge valores significativos). Esta campanha inequivocamente mistificadora e manipuladora, procura atingir um único objectivo - a resignação dos portugueses face às medidas de austeridade que o governo vem impondo e se prepara para agravar.
Como se torna cada vez mais claro, não são as dívidas públicas a verdadeira causa da crise orçamental e financeira que atinge os países da UE. A verdadeira causa, não é o endividamento das famílias mas o endividamento da Banca que tem vivido – essa sim - muito acima das suas possibilidades.
Uma Banca que se endividou até ao tutano, especulando com toda a gama de “produtos financeiros”, tóxicos, semi-tóxicos e não tóxicos, na ânsia de alcançar cada vez mais e maiores ganâncias. E, quando a “toxidade” explodiu, somaram-se perdas enormes que a descapitalizaram e a colocaram próxima da falência, valendo-lhe então a intervenção dos Estados. O que não tem sido suficiente, mantendo-se a ameaça de ruptura do sistema financeira, visível nos últimos dias pela própria ameaçada à derrocada da moeda europeia (dizem-nos que a reunião dos próximos dias 9 e 10 são decisivas).

É verdade que os défices orçamentais elevados não são desejáveis. E a má gestão associada à corrupção institucional praticada pelos governos nas últimas duas décadas sobretudo, atiraram os défices públicos do país para valores demasiado altos. Contudo, o país continuava e continuaria a financiar-se normalmente, isto é, a financiar-se com juros a taxas absolutamente razoáveis, não fora o eclodir e o posterior desenvolvimento da crise financeira internacional. Só quando as oligarquias financeiras, aproveitando-se da fragilidades das nações mergulhadas na crise, entenderam ser oportuno especular com as dívidas soberanas dos países, em sintonia (mais que em sintonia, em conluio) com os governos, o BCE, o FMI e a Comissão Europeia (CE), só então, os cidadãos se tornaram vítimas das medidas de austeridade que miserabilizam as suas vidas.
O BCE, o FMI e a CE, constituíram-se objectivamente em mentores e apoiantes da especulação financeira levada a cabo pelas oligarquias financeiras internacionais. A União Europeia ao invés de criar mecanismos que rompessem com a especulação de que são vítimas os seus países, sobretudo os economicamente mais frágeis, optaram antes por sacrificar as populações das nações intervencionadas aliando-se à especulação das oligarquias financeiras.
A verdadeira causa da intervenção da Troika e das medidas de austeridade por ela impostas e agravadas pelo governo, não foram os défices públicos elevados ou o endividamento das famílias, mas unicamente a desabrida e feroz especulação financeira sobre a dívida pública levada a cabo pelas oligarquias financeiras.
Obrigam os países intervencionados ao pagamento de juros elevadíssimos (dos 78.000 milhões de euros de “empréstimo”, Portugal pagará, só em juros, cerca de 35.000 milhões) convertendo o “empréstimo” num negócio altamente rentável. Retirando-se desta forma dinheiro às famílias endividadas para o transferir para as mãos das oligarquias financeiras através do BCE e do FMI.
A operação, o negócio, é simples e macabro. Especula-se com a dívida pública aguardando que os países percam resistência, até que finalmente, prostrados, sem forças para negociar, aceitem contrair empréstimos sob as mais severas condições e a qualquer preço. Ao ponto de abdicarem da própria Democracia, de eleições e de governos constitucionais, como aconteceu agora na Grécia e na Itália.
Contrariamente, há dois dias, um grupo dos maiores bancos centrais (BCE incluido) decidiu injectar dinheiro na banca europeia descapitalizada, a juros baixíssimos. É comovente esta aliança do apoio da banca mundial aos seus parceiros europeus.
Maior clareza e transparência quanto às verdadeiras intenções das forças que dominam hoje a economia globalizada, será difícil de encontrar.
Salvam-se os bancos, exploram-se os povos e as nações.

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