domingo, janeiro 29, 2012

Patrões preguiçosos

O anedótico ministro da economia, vem justificando todo o seu programa neoliberal de embaratecimento do trabalho - a meia hora de trabalho diário a mais, o corte nos dias de férias, o corte nos quatro dias feriados, etc – com a necessidade de aumentar a produtividade do país. Para ele, pelos vistos, a questão do aumento da produtividade resume-se a tornar o trabalho mais barato. A inovação, a modernização dos meios de produção, os custos de produção sempre crescentes e muito superiores aos da média europeia, relativos aos preços da energia (combustíveis e electricidade), aos preços das portagens das vias de comunicação, das telecomunicações, não entram nas suas contas.
Basta olhar para a Europa, para verificar que não são os salários mais baixos que tornam os países com mais altas produtividades ou com maiores crescimentos económicos. Pelo contrário. Os países nórdicos apresentam os maiores índices de produtividade e crescimento, praticando uma política de salários altos a par de condições sociais muito amplas. Eles compreenderam há muito que a inovação e a constante modernização tecnológica dos meios de produção são os factores decisivos para se atingir uma alta produtividade. Eles compreenderam que a política dos baixos salários torna os patrões preguiçosos; porquê investir, gastando capital, na modernização do parque industrial se baixando os salários se obtém os mesmos lucros?
A política de baixos salários apenas se torna competitiva nos tempos que correm quando é possível manter o custo do trabalho a preços miseráveis, como acontece em países como a China. Uma tal exploração do trabalho só se torna possível em países antidemocráticos. Em países democráticos é impossível baixar os salários ao ponto de ser significativo o seu incremento na produtividade.
As medidas anunciadas pelo ministro da economia vão assim no sentido contrário a um efectivo crescimento económico ou a um aumento da produtividade.
É preciso voltar a enunciar os velhos conceitos. As medidas de embaratecimento do trabalho não aumentam a produtividade e o crescimento mas unicamente os lucros dos patrões.

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terça-feira, janeiro 24, 2012

O “Provedor”

O presidente da república não pode limitar-se a receber “queixinhas” dos portugueses. Reduzir as funções do presidente às de mero provedor é objectivamente diminuir a dimensão e o estatuto da presidência da república. Transformar a presidência da república numa figura de protocolo, de adorno da democracia, politicamente amorfo e inconsequente, será conveniente a governos saídos de partidos com interesses corporativos mas não à maioria dos portugueses. Se Cavaco Silva se presta a esse infeliz e lastimável papel, enfim, apenas dá mostra de uma senilidade precoce.
Cavaco Silva não se tem apenas prestado a esse tão deplorável papel mas contribuído e permitido, por omissão, a que governantes sem escrúpulos retirem dividendos da passividade de Cavaco Silva. Os recentes “elogios” de Passos Coelho ao papel do presidente no “acordo” entre a UGT e o patronato são um bom exemplo.
Ao presidente da república exige-se que demita um governo quando este não cumpre com as promessas eleitorais, quando actua precisamente de modo contrário ao que prometeu em campanha eleitoral. Um governo assim, torna-se democraticamente ilegítimo e deverá ser demitido por quem jurou defender a democracia, a legitimidade democrática e a constituição portuguesa – o presidente da república.
Um presidente da república que manifesta a falta de equidade de um orçamento deve ser consequente com o que afirma negando-lhe a assinatura. 
Um presidente da república não deve transformar-se numa figura de decoro da república, nem deixar-se manipular por governos oportunistas e manhosos.

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sexta-feira, janeiro 20, 2012

Produtividade

Duas empresas vizinhas fabricam o mesmo produto.
Uma, tem 100 trabalhadores e fabrica por dia 1.000 peças. A outra, resolveu modernizar-se e adquiriu novas máquinas e tecnologia, conseguindo fabricar as mesmas 1.000 peças por dia com apenas 50 trabalhadores e com idêntico horário laboral.
Será justo ou correto considerar que os trabalhadores da primeira empresa são malandros e preguiçosos por apenas conseguirem metada da produção dos seus colegas vizinhos?

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quinta-feira, janeiro 19, 2012

o sabujo

Portugal concluiu a reforma trabalhista para ter acesso ao socorro financeiro da troika do euro. Sob a promoção do consórcio FMI-BCE e conservadorismo local as mudanças 'facilitam' demissões, cortam indemnizações, suprimem dias de férias, arrocham custo da hora trabalho e eliminam feriados. O governo Passos Coelhos não conseguiu, ainda, aprovar a pretendida ampliação da carga de trabalho, sem remuneração correspondente, um saudosismo feudal-salazarista que vocaliza o ponto a que se chegou na Europa para preservar a ordem neoliberal. Chegou-se a esse ponto, saliente-se, em boa parte graças à lubrificante parceria com amplas parcelas daquilo que anacronicamente ainda se denomina de esquerda e progressista. No caso português o 'ajuste' sancionado teve a chancela das centrais, excepto da Central Geral dos Trabalhadores Portugueses. Vale a pena assistir à brilhante entrevista do seu dirigente Arménio Carlos a um jornalista local, Mário Crespo, um ventríloquo dos mercados. Dessa garganta lusa, síntese de um padrão de subserviência conhecido do público brasileiro, ecoa mesma ladainha aqui condensada no emblema do 'custo-Brasil'. A diferença é que em Portugal a direita ainda abre espaço e tempo para lideranças como Arménio Carlos expressarem seu ponto de vista. Resultado: uma surra histórica do sindicalista no sabujo.

quarta-feira, janeiro 18, 2012

Bandidos e governantes

Aos jovens não resta outra alternativa. Com o embaratecimento e as gravosas condições de trabalho, com a precariedade e, por último sem perspectivas de receber a reforma que descontam (o Coelho diz que quebra para metade), aos jovens só resta então como alternativa a emigração. Não se afigura assim tão tolo o recente discurso do Coelho. O homem sabia do que falava.
Por cá ficam os velhos, os bandidos, os assaltantes das caixas de multibanco, das casas, das ourivesarias, os marginais, os estúpidos e incapazes e os políticos e governantes. Avizinha-se uma fuga em massa dos nossos jovens. É a única saída possível para gente normal.

segunda-feira, janeiro 16, 2012

Kike Estrada

quinta-feira, janeiro 12, 2012

a verdadeira face do império

Como señala Die Zeit, los fabricantes de armas de Alemania, Francia y Estados Unidos, han llevado a cabo negocios por varios miles de millones de euros aprovisionando a Grecia de todo tipo de armas: 3.900 millones de euros por 60 aviones de combate; 400 millones de euros por fragatas patrullas; 2.000 millones por un par de submarinos y otros 3.000 millones por helicópteros Apache made in usa. Lo insólito es que mientras a Grecia se le obliga a realizar descomunales recortes presupuestarios, reducir los salarios, postergar la edad de jubilación y reducir gastos en salud y educación, se permite olímpicamente que Grecia duplique su presupuesto de armamento. Con estos datos el país heleno es el que más gasta en armamento en Europa y es el mayor comprador de armas de Alemania.

segunda-feira, janeiro 09, 2012

Social Democracia e Passos Coelho

Nele se verifica que "Portugal é o único país com uma distribuição claramente regressiva, com perdas percentuais que são consideravelmente maiores no primeiro e segundo decil do que nos grupos mais altos da distribuição do rendimento. É o oposto do caso da Grécia onde as perdas percentuais são maiores nos decis do topo e aqueles na base perdem relativamente pouco" (sic)

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quarta-feira, janeiro 04, 2012

Kike Estrada

domingo, janeiro 01, 2012

2011-2012: Foi a pobreza que gerou a crise, não o inverso

Prolongar a jornada de trabalho, sem contrapartida salarial, é a contribuição que Portugal e Espanha oferecem ao mundo no apagar das luzes de 2011. Uma alternativa neoliberal ao colapso do neoliberalismo. Antes de dar a isso o epíteto de uma excrescência conservadora talvez fosse mais justo creditar a Passos Coelho e a Mariano Rajoy o benefício da coerência. Nada mais fazem os dirigentes ibéricos do que radicalizar os factores que deram origem ao colapso mundial, assente, entre outros pilares, em três décadas de espartilho sobre o rendimento do trabalho nas principais economias ricas, associado a mimos tributários que promoveram o deleite dos endinheirados.
Para clarear as coisas: não foi a crise que gerou o sufoco e a pobreza em desfile no planeta, mas sim a desigualdade neoliberal que conduziram ao desfecho explosivo, exacerbado agora por direitistas aplicados, que dobram a aposta no veneno. A ordem dos factores altera a agenda futuro: a crise não é apenas financeira; controlar as finanças desreguladas é um pedaço do caminho para controlar a redistribuição do excedente económico, ferozmente concentrado nas últimas décadas na base do morde e assopra - aperto de um lado, crédito e endividamento suicida do outro, falindo famílias e governos.
Saul Leblon, (leia mais no “cartamaior”)

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