sexta-feira, maio 31, 2013

Erros que ficam impunes e custam caro à economia mundial

Conhecido é o erro de Carmen Reinhart e Kenneth Rogoff. Sem dúvida, uma vez descoberto este erro, em vez de pedir desculpas, Reinhart e Rogoff sustêm que o seu trabalho foi honesto e verosímil.
Mas como pode defender-se a honestidade de um trabalho cheio de falácias e de erros intencionais? Uma vez detectado o erro demonstra-se que não há nada de semelhante a um descalabro quando a dívida pública supera 90% do PIB, como concluiam Reinhart e Rogoff no seu falacioso relatório publicado em 2010.
O certo é que o relatório de Reinhart e Rogoff foi o principal instrumento para elaborar os planos de austeridade que hoje afundam a Europa. O pretexto era a dívida pública. Mas, pode ter importância a dívida pública num momento de um colapso como aquele em que vivem hoje as economias europeias? É mais importante ocupar-se, nestes momentos, de pagar a dívida ou de reactivar a economia?
Ambas são circunstâncias dramáticas mas está claro que há uma opção que perspectiva a superação dos problemas e outra que é simplesmente o suicídio. Pensemos, por exemplo, numa família que investiu numa fábrica de sapatos, sem pensar que a liberalização do comércio a faz competir com sapatos chineses a um terço do seu valor. A pequena empresa familiar não é capaz de vender um só par de sapatos ante a avalanche de sapatos chineses que a um terço do preço inundam o mercado. Que faz a família da pequena fábrica de sapatos que se endividou para produzi-los? Nesta situação crucial e quase terminal vai dar prioridade ao pagamento aos seus credores ou sobreviver? E como poderá pagar aos seus credores se não tem rendimentos, ou se existem são muito exíguos? Se suicida entregando tudo aos seus credores, ou luta por sobreviver e deixar “para mais tarde” o pagamento da dívida?
(continuar a ler no Blogsalmon)

quinta-feira, maio 30, 2013

(acrílico, carvão e sanguínea sobre papel, 35x70cm, 1997)
C S

quarta-feira, maio 29, 2013

poupam-se os ricos e sacrificam-se os pobres

Chegamos a um tempo em que o bem ou o mal-estar dos portugueses é ditado pelo “bom ou mau humor” dos mercados financeiros. Triste país que se deixou colocar em tão miserável posição. E tudo aconteceu com a maior rapidez. De um dia para o outro, os portugueses acordaram com a corda na garganta. Em 2004, a Dívida Pública Portuguesa tinha um valor abaixo da média europeia de 58,3% do PIB e mesmo em 2007 não ia além dos 65% do PIB. Será que o aumento da dívida para os actuais 127,3% também tem alguma coisa a ver (além da crise gerada pela especulação financeira) com a nossa entrada e permanência no euro? Bem, enquanto o crescimento económico do país na década de 1990 a 2000 se cifrava numa média anual de 2,5% do PIB, na década de 2000 a 2010 ele desceu para 0,5%.
Conhecem seguramente todos os sábios austeristas que esta coisa do financiamento do Estado nos mercados financeiros nem sempre foi assim. Em 1996 os residentes detinham 75% de dívida pública do Estado português e os não residentes 25%, em 2008, os residentes detêm apenas 22% e os não residentes 78%. Foi com a entrada no euro que Portugal se colocou nas mãos dos mercados financeiros como pode ler-se na documentação de então.
No período 1997-2000, surge a preocupação da preparação e adaptação da gestão da dívida ao EURO. Em 1998 é reforçado o papel dos Operadores Especializados em Valores do Tesouro (OEVT), enquanto agentes de distribuição e colocação da dívida em mercado primário e como “market makers” em mercado secundário. Por outro lado o objectivo da liquidez da dívida leva à criação no ano de 2000, do MEDIP, que se caracteriza por ser um mercado especializado para a negociação por grosso dos instrumentos da dívida pública baseado na utilização da plataforma electrónica de negociação MTS”.
A impossibilidade de emissão de moeda torna o financiamento do país refém da “boa vontade” dos mercados financeiros. Cujo objectivo é sempre a obtenção de maiores ganâncias. E sujeita-o à economia de casino porque se regem tais mercados. É uma situação impossível de se manter a longo prazo. A nossa economia não se pode tornar competitiva quando as empresas do norte europeu se financiam a juros de 2% e as empresas portuguesas se financiam a 4,5,ou 6%. Por outro lado, o país não tem controlo na política monetária. Não pode desvalorizar a sua moeda e tornar as suas exportações mais competitivas. O país está atado de pés e mãos às políticas e aos interesses das economias dos países mais poderosos da União Europeia.
Estas duas situações, a impossibilidade de desvalorização da moeda para ajustamento da competitividade e os juros sempre mais altos do financiamento, face aos seus parceiros europeus, bastam para tornar insustentável a nossa permanência no euro a manterem-se as actuais regras e tratados do euro.
Até lá, os nossos incompetentes governantes irão continuar a defender a permanência do euro e a austeridade que daí decorre. São governantes que pertencem ao extracto mais rico da população e como sabemos aos ricos a austeridade não lhes toca porque não estão dependentes das políticas sociais do Estado. Não vão aos hospitais públicos, nem colocam os seus filhos na escola pública. Daí que defendam em suas políticas a sua classe de ricos e super ricos sacrificando os mais pobres. Não se discute seriamente as PPP, as rendas da EDP, ou impostos de “solidariedade” sobre as fortunas e grandes empresas ou sobre as transacções financeiras. Não, poupam-se os ricos e sacrificam-se não apenas os mais pobres como a generalidade da população, trabalhadores, pequenos e médios empresários e comerciantes. 
  É tempo de chamar os bois pelos nomes.

(acrílico sobre tela, 77x109 cm, 1998)
C S



terça-feira, maio 28, 2013

A ilusão da austeridade

LONDRES – A doutrina que dita que se deve imprimir dor no presente com o fim de receber um benefício futuro tem uma larga história, que remonta a Adam Smith e à sua sua exaltação da “parcimónia”. Esta doutrina é especialmente vociferante em “tempos difíceis”. No ano de 1930, o presidente dos Estados Unidos Herbert Hoover recebeu o seguinte conselho de Andrew Mellon, seu secretário do Tesouro: “Liquide os trabalhadores, liquide as acções em bolsa, liquide os agricultores. Isto purgará a podridão do sistema… as pessoas... viverão uma vida mais moral... e as pessoas empreendedoras colhem o ferro-velho deixado pelas pessoas menos competentes”.
 Para os “liquidacionistas” do nível de Mellon, a economia antes de 2008 estava cheia de tumores cancerosos –na banca, no mercado da habitação, nas acções de renda variável – os quais teriam que ser eliminados antes de que se possa restaurar a saúde. Sua posição é clara: o Estado é um parasita, que chupa o sangue vital da libre empresa. As economias naturalmente gravitam até um equilíbrio de pleno emprego, e, depois de uma comoção, o logram com bastante rapidez se não se o impedisse a intervenção governamental mal guiada. É por esta razão que se opõem ferozmente ao intervencionismo keynesiano.
A austeridade é exactamente o contrário daquilo que se necessita. Um governo não pode liquidar o seu défice se a fonte dos seus ingressos, a receita nacional, é cada vez menor. É a redução do défice, não a dívida, o que está causando esbanjamentos, porque implica o desperdício de capital humano e físico disponível, além da miséria resultante.
Robert Skidelsk
(continuar a ler em project-syndicate)

domingo, maio 26, 2013

A Europa mergulha na recessão.

Com Portugal logo a seguir à Grécia.

quarta-feira, maio 08, 2013

"A crise da Europa e o fim do euro"


terça-feira, maio 07, 2013

"destruição criativa"

Afinal qual é o preço da nossa permanência no euro?
E quem paga esse preço?
Será aceitável que para manter a sua permanência no euro com o benefício exclusivo de uma minoria (10%) da população portuguesa se empobreça os 90% da população restante?
Compreendo que para banqueiros, grandes accionistas de grandes empresas, gestores financeiros de grandes empresas e elites políticas da área governativa a saída do euro lhes cause dissabores financeiros mas para o resto da população, sem dúvida que seria um grande alívio.
Até quando estes 10%, o seu governo  e os seus sábios ideólogos espalhados pela comunicação social continuarão com a “destruição criativa” da sociedade, do estado social, a favor das maiores ganâncias da sua classe?

sábado, maio 04, 2013

Hollande, a desilusão

A social-democracia francesa havia prometido um mundo melhor, um país apaziguado, uma gestão mais humana, uma dimensão profundamente social da acção política. “O liberalismo parlamentar tem os dentes muito sólidos para ser vencido apenas com palavras”.
A frase com a qual, em Janeiro de 2012, Hollande lançou a sua campanha soa hoje como uma canção de infância que se entoa para não esquecer que, alguma vez, a realidade foi melhor: “meu inimigo não tem nome, não tem rosto nem partido, nunca apresentará sua candidatura e jamais será eleito; no entanto, esse inimigo governa. Esse adversário é o mundo das finanças”. E esse adversário segue governando com um eixo director que vem da Europa e de cuja disciplina os socialistas nunca se afastaram. Os eleitores da esquerda vêem o socialismo governante como uma equipe sem os atributos necessários para confrontar os impérios das finanças, os mercados sem regulação, a especulação financeira e os governos de direita liberal que pululam na Europa.
Eduardo Febbro

quarta-feira, maio 01, 2013

Concertação ou luta de classes?

Compreendeu a Troika, Cavaco Silva e Passos Coelho, que o governo não possui condições sociais para a “Refundação do Estado” materializada no corte brutal das funções sociais do Estado. Primeiro anunciado em 4.000 milhões de euros mas que já vai em 6,5 mil milhões. O governo tem condições políticas para este agressivo ataque social, dado ter o apoio do CDS e a maioria no Parlamento, mas não tem o apoio social necessário.
É por esta razão que aparece agora, vindo do nada, porque em dois anos o governo rejeitou, alias com extrema arrogância, qualquer aproximação ao PS, esta obsessiva vontade de uma “concertação” com o PS. O Objectivo torna-se bem visível. Procura-se o apoio social que uma concertação social com o PS lhe facultaria. Na velha política de Passos Coelho do “custe o que custar” pressiona-se por todos os meios o PS para ceder à estratégia do governo. Com Cavaco Silva a entrar também nesta manigância.
Do que se trata em realidade, é do assalto pela classe política dominante, constituída pelos banqueiros e grandes accionistas das grandes empresas, gestores financeiros das grandes empresas e elites políticas, aos rendimentos dos trabalhadores, pequenos comerciantes e agricultores. E, para este efeito, esta nova direita, esta “nova” classe política dominante tem hoje ao seu dispor uma poderosíssima arma que são os mercados financeiros. Os mercados financeiros são o tenebroso rosto desta classe social de uma ganancia sem limites.
O seu horror a tudo o que é social e o desprezo que manifesta pelos trabalhadores só é comparável ao comportamento das velhas ditaduras do século passado.
Os cidadãos apanhados de surpresa no turbilhão desta nova realidade, ainda não terão compreendido bem da luta desta classe dominante pela apropriação da riqueza socialmente gerada, empobrecendo o país e miserabilizando os trabalhadores.
Os partidos socialistas, a social -democracia europeia, também não têm ajudado ao esclarecimento desta desgraçada e desastrada situação política e social a que chegaram os países do Sul da Europa. Até aqui, têm igualmente alinhado com os interesses da “nova” classe dominante, não se distinguindo politicamente da direita europeia. O certo é que, tanto a esquerda social-democrata (socialistas e trabalhistas) como a direita (liberal e democrata cristã) que têm governado a Europa, vêm aplicando com igual rigor, numa “santa concertação” o receituário neoliberal, as chamadas “reformas estruturais”, que não visam outra coisa senão a alteração da distribuição da riqueza criada no país, desviando rendimentos do trabalho para o capital financeiro. Uma “concertação” que o movimento social europeu não irá permitir por muito mais tempo.