domingo, dezembro 29, 2013

A Mensagem de Natal de Passos Coelho

A mensagem de Natal de Passos Coelho foi uma mensagem desonesta e mentirosa para com os portugueses. O primeiro-ministro, que ganhou as eleições com mentiras, continua a mentir sempre que tal lhe convenha para impor a sua política de favorecimento dos banqueiros, dos grandes empresários e dos detentores das grandes fortunas. Da classe de topo da pirâmide populacional. Como diz o prémio Nobel da economia Joseph Stiglitz “os ricos do topo aprenderam a extrair dinheiro dos outros com métodos que esses outros mal conhecem – é essa a sua verdadeira inovação” (deixarei para uma próxima ocasião a demonstração de como os ricos de topo em Portugal extraem dinheiro dos outros e de modo “legal”, aquilo a que chamo corrupção institucional).
Uma mensagem desonesta, uma vez que afirma que as suas políticas combatem a desigualdade social e promovem a igualdade de oportunidades, Passos Coelho como político e economista sabe que as suas políticas, ao contrário do que proclama, estão a promover e de modo acelerado as desigualdades sociais – os ricos são cada vez mais ricos e em maior número. Passos Coelho e o seu governo são fiéis seguidores da chamada economia trikle-down, fiéis seguidores que acreditam que o crescimento económico só é possível favorecendo os ricos, dando mais dinheiro aos ricos, porque isso gera investimento e crescimento e tal será bom para todos.
Uma mensagem mentirosa, porque pretende fazer crer aos portugueses que todos os indicadores económicos estão mais positivos e mais favoráveis ao crescimento económico. A descida do desemprego está inequivocamente relacionada com a emigração. Repare-se que se no 3º trimestre de 2013 a população activa era de 5.392 milhares enquanto no período homólogo de 2012 era de 5.527 milhares. Verifica-se ainda, que a população empregada perdeu de mais de 100.000 pessoas do 3ºtrimestre de 2012 em que era de 4.656.600 para 4.553.600 no 3ºtrimestre de 2013.
Mas em muitos outros indicadores a situação da economia portuguesa não apresenta dados favoráveis como poderemos constatar.
VOLUME DE NEGÓCIOS
O Índice de Volume de Negócios Total na Indústria apresentou, em termos nominais, uma diminuição homóloga de 0,5% em outubro, o que compara com o aumento de 1,6% verificado no mês anterior. O índice de vendas com destino ao mercado externo registou um crescimento de 1,7% (5,3% em setembro), enquanto o índice relativo ao mercado nacional apresentou uma redução de 2,1%, mais intensa em 1,1 pontos percentuais (p.p.) que a observada no mês precedente.
Mercado Nacional
Em termos homólogos, o índice de vendas na indústria com destino ao mercado nacional registou uma variação de -2,2% em outubro (-1,0% no mês anterior).
Mercado Externo
A variação homóloga do índice de vendas na indústria com destino ao mercado externo situou-se em 1,7% em outubro (5,3% no mês anterior).
Índice de Volume de Negócios nos Serviços apresentou variação homóloga mais negativa
O índice de volume de negócios nos serviços apresentou, em outubro, uma variação homóloga nominal de -4,0% (-2,9% no mês anterior). O índice de emprego diminuiu, em termos homólogos, 3,5% (variação de -3,1% em setembro).
Contas Económicas da Agricultura – 2013 – 1ª Estimativa
Produção do ramo agrícola
Em termos globais, a Produção do ramo agrícola deverá registar um decréscimo ligeiro (-0,1%) em volume e um acréscimo em termos nominais (+3,1%).
Consumo intermédio
O Consumo intermédio (CI) do ramo agrícola deverá registar, em 2013, um decréscimo nominal ligeiro face a 2012 (-0,2%), resultante de uma diminuição do volume (-2,6%) e de um aumento dos preços (+2,4%).
Obras Licenciadas e Concluídas mantêm tendência decrescente
No 3º trimestre de 2013 foram licenciados 4,1 mil edifícios e concluídos 4,7 mil edifícios em Portugal. Os edifícios licenciados diminuíram 20,6% face ao 3º trimestre de 2012, correspondendo a um decréscimo menos acentuado que no trimestre anterior (-18,4%). Os edifícios concluídos continuaram a diminuir em termos homólogos (-27,6%), e de forma mais acentuada que no trimestre anterior (-16,6%).
População activa
3º trimestre de 2012------ 5.527.000
3º trimestre de 2013 ------5.392.000
População empregada
3ºtrimestre de 2012-------4.656.600
3ºtrimestre de 2013-------4.553.600
No ano de 2013, a população empregada diminuiu 2,6% em relação ao ano anterior (121,2 mil pessoas). (INE 05.02.2014)
Crédito malparado
O crédito malparado das empresas atingiu um record desde que o Banco de Portugal publica estes dados (1977), (4.265 e 2.341 milhões de euros só nos sectores da construção e actividades imobiliárias, respectivamente); o crédito malparado nos empréstimos à habitação igualmente atingiu em Outubro o seu máximo histórico de 2.390 milhões de euros.
(Boletim Mensal de Estatística - Novembro de 2013)
Investimento directo estrangeiro em Portugal
Jan/Set 2012-------------35.817 milhões de euros
Jan/Set2013--------------21.922 milhões de euros
Exportações dos quatro maiores sectores
Máquinas, aparelhos
Jan/Set 2012------------15,2%
Jan/Set 2013------------14,7%
Veículos, Outro Material de Transporte
Jan/Set 2012------------11,9%
Jan/Set 2013------------10,7%
Metais Comuns
Jan/Set 2012------------8,2%
Jan/Set 2013------------7,9%
Combustíveis Minerais
Jan/Set 2012------------8,6%
Jan/Set 2013------------10,6%
(dados do AICEP, Dezembro de 2013)

domingo, dezembro 22, 2013

Novos sísifos


É curioso que ninguém se pergunte por que razão, uma crise que começou há cinco anos nos EE. UU., continua a afectar unicamente os países da Eurozona e mais concretamente os países do Sul. A resposta é simples. Como novos sísifos,  vemo-nos obrigados a arrastrar essa enorme pedra que é o euro, uma carga excessivamente pesada. Os deuses condenaram Sísifo a empurrar sem cessar uma rocha até ao cima de uma montanha, para aí, a pedra voltar a cair pelo seu próprio peso. Isto é o que ocorre às nossas economias. Qualquer tentativa de recuperação resultará abortada de novo pelo facto de pertencermos à União Monetária.
Albert Camus, comentando o mito, aponta que os deuses pensaram com algum fundamento que não há castigo mais terrível que o trabalho inútil e sem esperança. Que razão a sua!
(Juan Francisco Martín Seco)

A tese alemã


Tribunal constitucional alemão considera que as reformas são um direito dos trabalhadores idêntico à detenção de uma propriedade privada, cujo valor não pode ser alterado. Tribunal Europeu dos Direitos do Homem segue a mesma linha
O Tribunal Constitucional alemão equiparou as pensões à propriedade, pelo que os governos não podem alterá-las retroactivamente. A Constituição alemã, aprovada em 1949, não tem qualquer referência aos direitos sociais, pelo que os juízes acabaram por integrá-los na figura jurídica do direito à propriedade. A tese alemã considera que o direito à pensão e ao seu montante são idênticos a uma propriedade privada que foi construída ao longo dos anos pela entrega ao Estado de valores que depois têm direito a receber quando se reformam. Como tal, não se trata de um subsídio nem de uma benesse, e se o Estado quiser reduzir ou eliminar este direito está a restringir o direito à propriedade. Este entendimento acabou por ser acolhido pelo Tribunal Europeu dos Direitos do Homem.

quarta-feira, dezembro 18, 2013

Acordo PS/governo sobre o IRC

Um imposto não é uma taxa. É também o tipo de bens sobre os quais a taxa incide. Em 20 anos, os rendimentos sujeitos a IRC têm-se reduzido drasticamente.
Ao longo de duas décadas, o imposto sobre os resultados das empresas tem vindo a pesar cada vez menos na sua actividade. Em 1990, o IRC liquidado pelo Estado representava 27% dos resultados contabilísticos positivos declarados pelas empresas. Passados 20 anos, o IRC pesou já só 6% desses resultados.
Estes valores extraem-se das estatísticas do IRC divulgadas pela administração fiscal. Os valores mais recentes referem-se ao exercício de 2010, mas os seus valores prolongam uma trajectória descendente verificada desde a década de 1990. De 1990 a 2010, o montante dos resultados contabilísticos positivos multiplicou-se por 13, enquanto a receita de IRC apenas triplicou.
Em boa medida, essa redução pronunciada do peso da tributação deve-se a diversos motivos, como a permanente evasão fiscal à tributação das empresas ou a progressiva redução das taxas de IRC. Mas também é fruto da política fiscal destas duas décadas, de que são exemplo os benefícios e prejuízos fiscais e diversas medidas legais.
Como foi então possível uma erosão tão forte da matéria colectável do IRC? Primeiro, houve uma redução para mais de metade do peso do lucro tributável nos resultados contabilísticos positivos. Ou seja, beneficiando das regras legais, metade dos resultados contabilísticos deixou de ser tributada. Como se não bastasse, a passagem dos lucros tributáveis para a matéria colectável - via prejuízos fiscais e benefícios fiscais - significou uma perda de dois terços dos lucros tributáveis. Em terceiro lugar, a matéria colectável apurada foi afectada pela progressiva redução das taxas de IRC. Ou seja, a própria colecta tem vindo a reduzir-se ao longo dos 20 anos - desceu cerca de 25%. Finalmente, surgem as deduções à colecta de IRC. Na última década, essas deduções representaram 10% da colecta.
Tudo isso fez com que, quando se compara o peso do IRC liquidado face aos resultados contabilísticos positivos, se verifique a queda abrupta da receita de IRC - de 27% para 6% dos resultados contabilísticos.
Quem mais beneficiou?
No início do século XXI, as empresas com um volume de facturação anual até cinco milhões de euros contribuíam com um IRC que representava entre 21% e 23% dos resultados contabilísticos. Mas as maiores empresas - com facturações acima de 250 milhões de euros - "pagavam" 9,3% dos resultados contabilísticos.
Resumindo: em 1990 cerca de 55% das empresas pagaram uma quantia de IRC que representou 27% dos resultados. Em 2010 só cerca de 29% das empresas pagaram um IRC de 6% dos resultados contabilísticos. (Jornal Público 06.08.2012)


O jornal I publica hoje um alerta do Tribunal de Contas relativo às Conta Geral do Estado de 2012,titulado:
 Governo esconde benefícios fiscais de 1045 milhões a grandes grupos económicos”

“As contas do Estado não revelam a totalidade da despesa com benefícios fiscais às empresas. No parecer à Conta Geral do Estado de 2012, o Tribunal de Contas destaca a "omissão de 1045 milhões de euros, por benefícios atribuídos a SGPS (sociedade gestoras de participações sociais)", modelo de organização usado por grupos económicos.
Entre 2010 e 2012, os benefícios fiscais às empresas aumentaram 157 milhões de euros. No mesmo período, os benefícios aos particulares caíram 130 milhões de euros. Estes números são conhecidos um dia depois do governo e do PS terem chegado a acordo para a reforma do IRC que baixa a taxa de imposto com maior efeito nas pequenas empresas.
O Tribunal de Contas volta a alertar para a excessiva concentração dos benefícios fiscais em poucas empresas e entidades públicas. Considerando os cinco principais tipos de benefício em sede de IRC, que correspondem a mais de 60% de toda a despesa fiscal, quase metade (48,2%) está concentrada nos dez maiores beneficiários que deixaram de pagar 132 milhões de euros. O grau de concentração cresceu em relação a 2011, ano em que as dez principais beneficiárias absorveram 44% destes benefícios”.

terça-feira, dezembro 17, 2013

irrevogáveis farsantes


josetxo Ezcurra
Falam em melhoria da “economia”, seja lá o que isso for. Aqui e na Europa. Não se atrevem contudo, os nossos governantes e os seus parceiros da Troika, a falar de uma melhoria das condições de vida do povo ou da melhoria das condições sociais das populações. Não, as palavras social e povo parecem queimar-lhes a boca.
Mostram não compreender que o êxito ou fracasso de uma economia reside e se mede pela maior ou menor melhoria das condições de vida da maioria das famílias, dos cidadãos. Continuam a apregoar os benefícios da “economia que mata”, como denunciou recentemente o Papa Francisco, cegos em suas crenças ideológicas.
O objectivo último da Troika e do governo é a diminuição drástica, “custe o que custar” do nível de vida da maioria dos portugueses, o chamado “ ajustamento”, isto é, o empobrecimento da maioria dos portugueses. Foi sempre este o seu intuito.
E é por esta razão que a Troika, apesar dos acentuados desvios dos indicadores económicos acordados no memorando a cada avaliação, tem aprovado sem dificuldades as sucessivas avaliações ao cumprimento temporal do memorando. Enquanto a liquidação do estado social, as privatizações e a redução de salários e de pensões não estiverem consumados ou na dimensão desejada, as avaliações serão sempre positivas. Sabem que podem contar com o governo nesta missão.
Porque se os objectivos fossem na verdade a diminuição do desemprego e o crescimento económico e social do país, de há muito que teriam notado o falhanço das políticas de austeridade e mudado de rumo. Não é isso que acontece porque os objectivos são manifestamente outros. Discute-se hoje a questão do “programa cautelar” ou de um novo “resgate” ou uma saída à Irlanda. E há previsões na generalidade muito elaboradas para todos os gostos. Nós temos apenas uma certeza - a saída ou permanência da Troika, com programa cautelar, sem programa cautelar ou com qualquer outra coisa, está unicamente dependente da conclusão dos objectivos do governo e da Troika, isto é, do estado e da dimensão da liquidação do estado social, das privatizações do património do estado e da redução dos salários dos portugueses. Se a Troika se der por satisfeita quanto ao estado de liquidação destes objectivos, então regressaremos triunfalmente aos “mercados”, mas se tais matas ainda não estiverem atingidas então seguramente que a Troika permanecerá por cá, seja qual for o modelo da intervenção.
  É por esta razão que a discussão sobre o futuro do país depois do termo do memorando se reveste de grande mistificação. Estamos a viver uma farsa, com revogáveis ou irrevogáveis farsantes.

segunda-feira, dezembro 16, 2013

apregoar o virtuosismo do empobrecimento dos outros

Depois da ruína que causaram ao país gaba-se o governo e a sua corte de ortodoxos ultra liberais que agora é que a coisa está bem e que se espera um futuro radioso de recuperação.
Esta narrativa é contudo completamente falsa pela simples razão que nenhuma das metas previstas no memorando da Troika, a tão desejada consolidação orçamental, apesar dos imensos sacrifícios dos portugueses, foi alcançada. Vejamos então o que se propunha o chamado “ajustamento” e os resultados obtidos para os anos 2012 e 2013:
 Consolidação orçam.
Anos………....................................................2012……………2013
Divida Pública proposta no memorando……....112,2%.........115,3%
Dívida pública alcançada pelo governo……….124,1%..........131,3%
Défice público proposta no memorando………....4,5%..............3,0%
Défice público alcançado pelo governo………….6,4%..............5,9%
Temos assim um afastamento da dívida pública de mais 11,9 p.p. em 2012 e 16,0 p.p. em 2013, quanto ao défice o mesmo de sempre, um falhanço absoluto pese os cortes brutais e os aumentos igualmente brutais dos impostos. As políticas do governo redundaram assim num profundo falhanço.
Contudo, notamos que a Troika não tem dado a devida importância aos falhanços do governo, mostrando-se sempre compreensiva com tais incumprimentos e fixando a cada nova avaliação do memorando novas metas, sempre ao sabor dos desvios, o que nos leva a supor que haverá um qualquer outro desígnio escondido, uma qualquer outra coisa mais valiosa a atingir para a Troika e para o governo. Na verdade, os factos demonstram que assim é.
O objectivo último da Troika e do governo não será a melhoria das condições de vida dos portugueses nem sequer a consolidação orçamental. A consolidação orçamental não é para a Troika ou para o governo, um fim em si mesmo, mas antes um meio para atingir o empobrecimento dos trabalhadores e da classe média, na medida em que o esforço de uma tal política de “ajustamento” recai sobre as classes populares, sobre os rendimentos do trabalho.
Um meio para atingir uma profunda alteração estrutural do modelo económico e social do país, substituindo o modelo do estado social e as suas políticas sociais por um outro modelo, pelo modelo neoliberal do estado mínimo, onde a Saúde, a Educação, a Protecção Social e todas as funções sociais do Estado sejam privatizadas. Um novo modelo civilizacional arquitectado pelo capitalismo financeiro, “uma nova economia da exclusão e da iniquidade que mata” (Papa Francisco, Evangelii Gaudium) ou, nas palavras do relatório da comissão dos direitos humanos da ONU “O ajustamento estrutural vai mais além da simples imposição de uma série de políticas macroeconómicas a nível nacional. Representa um projecto político, una estratégia consciente de transformação social a nível mundial, principalmente para fazer que o mundo seja seguro para as empresas transnacionais. Em poucas palavras, os programas de ajustamento estrutural servem de "correia de transmissão" para facilitar o processo de mundialização, mediante a liberalização e a desregulamentação e reduzindo a função do Estado nos desenvolvimentos nacionais.”
Aquilo que o governo procura atingir é uma diminuição permanente de salários, de pensões e da degradação e encarecimento das funções sociais do Estado, a delapidação do património do Estado, tendo por fim último a transferência de rendimentos da maioria dos portugueses para uma minoria, a transferência de rendimentos da classe média e dos trabalhadores para uma nova classe, uma classe financeira ávida de ganâncias. Uma nova divisão da riqueza gerada no país favorável ao capital financeiro e às grandes empresas ao apropriarem-se dos recursos financeiros até aqui destinados às funções sociais do Estado.
Quando o BCE financia os bancos a juros de 0,5% sem quaisquer imposições quanto ao modo como será usado esse financiamento, mas exige aos Estados juros de 4%,5% ou 6% com severas imposições económicas e orçamentais, é a demonstração clara das verdadeiras intenções do capital financeiro que domina as instâncias europeias. Só aos bancos portugueses o BCE já emprestou mais de 60.000 milhões de euros, apenas um pouco menos dos 78.000 milhões de euros (dos quais 12.000 milhões destinados aos bancos) do resgate ao país.
 E, todo o esforço de propaganda do governo vai no sentido de tornar aceitável pelos portugueses, esta política de empobrecimento das classes populares. Acompanhado nesse esforço naturalmente pelos mais favorecidos com tal política, os Jerónimos Martins, os Ulrichs e outros, que com total despudor, vêem às televisões apregoar as virtudes do empobrecimento dos outros, dos mais pobres e remediados.

sexta-feira, dezembro 13, 2013

Desastre económico e social

Depois do verdadeiro desastre económico e social a que nos levaram as políticas neoliberais, nestes últimos quatro anos:
Recessão total de 8,6% em menos de quatro anos (-2,9% em 2009; -1,5% em 2010; -3,2% em 2012; -1,0% em 2013);
Destruição de milhares de empregos e falências de milhares de empresas;
Aumento do desemprego (que subiu de 9,5% para 15,7%);
Emigração de jovens qualificados da ordem dos 200.000/ano;
Aumento das desigualdades sociais (uma minoria duplicou a riqueza enquanto a esmagadora maioria viu diminuíram drasticamente os seus rendimentos);
Aumento da pobreza e do risco da pobreza;
Aumento em escalada da falta de pagamentos das famílias da água, electricidade, gás e prestação das casas;
Deterioração dos cuidados de Saúde, da Educação e Protecção Social; Redução de salários e pensões e aumento de impostos sobre o trabalho;
Venda ao desbarato do património de todos nós das empresas rentáveis e que dão mais lucros;
Vejamos mais concretamente a evolução dos principais indicadores económicos do país, comparando os períodos compreendidos entre 2005 e Junho de 2011 (início da governação PSD/CDS) e entre Junho de 2011 e Dezembro de 2013:
CRESCIMENTO
De Março de 2005 a Junho de 2011 a média anual de crescimento foi de 0,33p.p. De Junho de 20011 a 2013, na governação Passos/Portas o crescimento deu lugar à recessão e foi de menos 2p.p. ao ano.
INVESTIMENTO
Segundo dados do INE e dados constantes do orçamento rectificativo, o investimento em Portugal começou a diminuir a partir de 2007, tendo-se registada uma quebra muito mais acentuada a partir de 2010, ou seja, após a entrada da “troika” e do governo PSD/CDS. Assim, enquanto entre 2005 e 2010, portanto num período de 5 anos, o investimento caiu em 10, pontos percentuais, entre 2010 e 2013, portanto num período de apenas 3 anos com a “troika e o governo PSD/CDS, a redução do investimento atinge 38p.p.. Entre 2010 e 2013, o investimento total em Portugal a preços constantes, ou seja eliminando o efeito do aumento de preços, diminui de 33.232 milhões € para 22.984 milhões €, o que significa um corte de 10.248 milhões € (menos 30,8%).
DESEMPREGO
Quanto ao desemprego ele subiu de 7,6% em 2005 para 12,6%em Junho de 2011 e 16,4% em 2013. Subiu a uma taxa de 1p.p. ao ano na governação anterior para uma média de 2p.p. (mais do dobro) na governação Passos/Portas.
DÍVIDA PÙBLICA
De Março de 2005 a Junho de 2011 a dívida passou de 67,7% para cerca de 100% (Junho de 2011) enquanto de Junho de 2011 a 2013 a dívida aumentou em 31,3p.p. (de 100% para 127%).
A subida da dívida pública tem uma média de 5,4p.p. ao ano no tempo de Sócrates enquanto na governação de Passos Coelho e Portas o aumento da dívida de Junho de 2011 a 2013 é de 31,3p.p., isto é, uma média anual de 12,5p.p..
Depois de tudo isto, causado pela aplicação das medidas neoliberais, vem agora o governo e o seu séquito de cegos e obstinados ortodoxos dizerem-nos que o crescimento do terceiro trimestre de 0,2% de 2013 (que compara com um crescimento de 1,1% no segundo trimestre de 2013), é sinal de mudança e fruto das tais medidas neoliberais que arruinaram o país nestes últimos quatro anos. Eu não sei se o país já bateu ou não no fundo, mas tudo leva a crer que este débil crescimento não é sustentável (1,1% no segundo trimestre e apenas 0,2% no terceiro não se afigura muito animador para o futuro) e que ao avançarem as propostas orçamentais para 2014, teremos novamente a recessão à porta.
Depois da ruina que causaram ao país gaba-se o governo e a sua corte de ortodoxos ultra liberais que agora é que a coisa está bem e que se espera um futuro radioso de recuperação.
Será que para sair da austeridade, como diz o governo, se torna necessário aplicar mais austeridade?
Será que para os portugueses viverem melhor será necessário reduzir salários e pensões e encarecer e degradar os serviços públicos?
Será que isto faz algum sentido?

terça-feira, dezembro 10, 2013

A questão das alternativas

Há ou não há alternativa às políticas da Troika, às políticas do governo (que não há muito tempo se orgulhava de ir para além da Troika), às políticas da Comissão Europeia, às políticas do BCE, às políticas do Fundo Monetário Internacional, às políticas do imperialismo alemão. Todos, em coro, não se cansam de declarar que não há outras alternativas para além daquelas que anunciam e exigem aos povos sob o seu domínio. E lá estão os “mercados”, para demonstrar que assim é. Se algum país, sob o jugo directo ou indirecto da Troika, se atrever a desviar-se das políticas por ela exigidas lá teremos os “mercados” a subir os juros da dívida pública e a tornar insustentável o financiamento das economias dos estados.
Os países, prisioneiros desta chantagem do “ou fazes o que te mandam ou não tens financiamento”, prisioneiros desde que aboliram a sua moeda e entregaram a terceiros a emissão da moeda que circula no seu país, que se mutilaram e entregaram ao estrangeiro o maior trunfo da sua soberania, na vã e ingénua expectativa de que todos os países seriam iguais e solidários na União Europeia, vêem agora o logro em que caíram, de como da solidariedade entre países se passou à exploração dos países menos desenvolvidos, à exploração dos países do sul europeu pelos países do norte europeu.
  Perante esta chantagem, nesta lógica perversa imposta pela Troika, só existe na verdade uma única alternativa. A ruptura pura e simples com as políticas da Troika, a saída da moeda única, a saída do euro. Será antipatriota, serão miseráveis os políticos que insistam nestas políticas de servidão de submissão, de humilhação ao povo português e se submetem à mais pérfida das chantagens. Não há outra alternativa. Aquilo que as políticas neoliberais nos prometem é a servidão por toda a vida. Recuso-me a ser servo e a ser chantageado por toda a vida.
Será difícil a ruptura, certamente para aqueles que viram os seus rendimentos subirem e duplicarem nestes últimos anos de crise, para os Catrogas, Salvados, Jerónimos Martins, Belmiros, Mexias, Ulrichs, Américos Amorins, Melos, Césares das Neves, Bessas, etc, mas nunca para os desempregados ou para os trabalhadores que viram os seus salários reduzirem-se ou para os aposentados com cortes nas suas pensões. A redução de rendimentos nestes anos do chamado “ajustamento” que outra coisa não foi do que a passagem de rendimentos da maioria da população, (trabalhadores, pensionistas, pequenos e médios empresários e industriais) para a minoria mais rica, (os grandes gestores empresariais, os banqueiros e os grandes accionistas das grandes empresas e os políticos da área do poder), supera já a desvalorização do novo escudo que a saída do euro implicaria. É por esta razão que a classe dos ricos não quer sequer ouvir falar da saída do euro.
O PS tarda em definir-se. O momento não é de hesitações. “Em definitivo, creio que na Europa do Capital Financeiro a Europa dos Povos não tem espaço e de que, portanto, mais vale abandonar um barco rumando até ao empobrecimento das classes populares europeias que seguir oprimidos esperando que o gato mude a sua natureza… porque não a mudará. Esta Europa, a Europa que de sonho democrático e social se converteu em pesadelo anti-social e antidemocrática. Até quando teremos que esperar para que as esquerdas entendam que esta Europa não é alterável?”