segunda-feira, junho 12, 2006

a ministra e o ensino (2)


Múltiplos factores se inter-relacionam no processo educativo. Os Programas de cada ano e de cada ciclo do ensino básico e secundário, os respectivos Currículos, a melhor ou pior preparação de cada professor, o maior ou menor número de alunos em cada turma, os meios técnicos e didácticos e as próprias instalações físicas de cada escola, o meio social de onde provêm os alunos, etc.
Fazer a abstracção de tudo isto, ao mesmo tempo que se culpabilizam os professores pelo insucesso e abandono escolar, não é justo nem sério, nem contribui sequer para uma discussão que procure a melhoria do ensino no nosso País. O que nos leva a crer, que serão outras as motivações da ministra da Educação ou, então, a senhora é de uma incompetência que faz dó.
Para um ensino obrigatório até ao décimo segundo ano, os Programas do ensino secundário encontram-se completamente desajustados. Tais Programas são muito semelhantes aos que figuravam nos liceus antes de 1974, quando o ensino não era obrigatório, o que, só por si, faz toda a diferença. Os Programas de ensino não obrigatório e obrigatório não podem nem devem ter um igual grau de dificuldade. Os Programas do ensino não obrigatório, frequentados por todos os alunos, os mais interessados e os menos interessados, os mais capazes e os menos capazes, os de maior capacidade para o pensamento abstracto e os de menor capacidade, deverão possuir um menor grau de dificuldade e com uma separação de alunos a partir do sexto ano. Um ensino mais científico para uns e um ensino mais prático para outros. A sociedade deverá organizar-se proporcionando a cada aluno o ensino ajustado às suas capacidades, e não procurar tratar por igual o que é desigual. Obrigar um, dois, três ou mais alunos de uma turma, alunos que manifestam uma incapacidade nítida de acompanhar as matérias dadas, por mais aulas de apoio que lhes proporcionem, não apenas prejudica o rendimento da turma e desgastam os professores como desmotiva e não proporciona uma outra saída (mais prática) para tais alunos. De igual modo os Currículos encontram-se desajustados, porque demasiado pesados nas suas cargas horárias. Não será com Programas extensos e com Currículos pesados que se obtém o melhor e mais bem sucedido ensino. Será necessário procurar um correcto equilíbrio entre os conhecimentos a adquirir e o peso dos Programas e dos Currículos.
A abordagem destas questões é que gostaríamos de ver discutidas e aprofundadas pelo ministério, com a contribuição de pais, professores e a sociedade em geral.
Ao contrário, temos vindo a assistir ao lançamento de um festival de medidas avulsas, à revelia de pais, professores e municípios, que seguramente em nada contribuem para uma efectiva melhoria do Ensino em Portugal.