CRÓNICAS DO REYNO
Agora, às sextas-feiras, iremos divulgar as CRÓNICAS DO REYNO, assinadas pelo cronista-mor do Reyno Dom Ferrão Lopes.
PRIMEIRA
Visitando Cascaes
Me hei deslocado a Cascaes, em cortesia de visita e em tempo de descanso da feitura das crónycas reais nos Paços de Belém, onde tenho residido após a coroação do Rei, o Príncipe D. Cavacco Maria, que como sabeis, após porfiados torneios no passado mês de Dezembro de 2005 logrou vencer seus rivais e alcançar a coroa real.
Por essa época relembro a Crónyca que a propósito redigi:
Grandes torneios, estão a decorrer neste santo mês de Dezembro.
Há mesmo quem pense, que no final, o seu vencedor, será o futuro Rei.
Nobres cavaleiros da mais alta linhagem, vindos dos mais longínquos recantos do Reino, preparam os seus arcos, bestas e arneses para os grandes confrontos que hão-de vir.
Os três Paços mais vistosos da capital do Reyno são o palco escolhido para tamanhas façanhas.De primeiro,o venerando Paço do Lumiar, o mais antigo e aparelhado.Segue-se o Paço de Carnaxide, o que se tem dado aos mais vícios vis e de grandes furores mas, de igual modo, apreciado pelas gentes.Por último, o Paço de Barcarena, de igual modo do agrado das gentes e muito cobiçado pelos espanhóis.
Os mais nobres e ousados cavaleiros preparam-se assim, para os mais grandiosos torneios de que há memória neste velho Reyno.
Dos nobilíssimos cavaleiros em disputa, o de porte mais nobre e avisado, será sem dúvida o príncipe de Boliqueime, D. Cavacco Maria, mui austinado e honrado cavaleiro.
D. Emmanuel ,visconde de Águeda, será de esperar os maiores acesos e ostinados cometimentos. De porte altivo e voz de trovão, este velho trovador, num pronto, troca o seu alaúde pelos mais vistosos arneses, adargas e elmos, tudo de grandes primores e lança-se nestes grandiosos torneios.
Mesmo à revelia de seu avô, D.Maroto Soares, que retirado em termas, com grande perfia, para espanto da fidalguia e do povo, se aventura ele próprio, nestas esgotantes refregas.
Ao que apurámos toda a nobre família destes dois grandes cavaleiros, D.Maroto Soares e D. Emmanuel, se encontra mui dividida.De um lado, os mais conservadores e bem de vida, não deixam de apoiar D. Maroto Soares.Do outro, os mais mancebos, as cortesãs e demais família enjeitada pela avareza de D.Maroto, manifestam o seu apoio a D.Emmanuel.Há mesmo quem jure a pé juntos que, D. Sócrates Pinóquio, o astuto patriarca desta nobre família e Cardeal-Mor do Reyno, preparou uma negaça a seu primo D.Emmanuel ao concertar-se com o velho D. Maroto Soares nos preparativos do torneio.O certo é que se espera destes dois fidalgos da mesma casa senhorial, uma brava luta, sem vontades más.
Restam em disputa dois nobres de menor linhagem.
D.Jerónimo Cunhal e D. Louça dos Olhos.Ambos de grande porfia, austinados nos seus enganos e negaças. Também deles, as gentes esperam, sangrentas e porfiadas pelejas.
nfim, os grandes torneios estão aí, para gozo da fidalguia e desengano do povo.
Mas os tempos passaram, e hoje em Cascaes fui mui gentilmente recebido por D. Carlos Carreirista, o novo Vice-Alcaide de Cascaes, que obteve este seu cargo num curioso episódio que vale a pena relembrar.
D. Carlos Carreirista foi desde mui novo, um brioso navegante e grande conhecedor da arte de marear ao ponto de tornar-se o navegador –mor dos transportes de mercadorias para terras do Brazil.Numa dessas travessias, com um carreganento de cerveza (nova bebida descoberta recentemente em terras da Boémia, mas manufacturada em terras de Cintra), durante um grosso temporal, de que resultou um naufrágio ao largo de Cascaes, deu à costa, nada mais nada menos, que D. Carlos Carreirista, tão esgotado e miserável que fazia dó.
As gentes de Cascaes, gente afamada pela sua simpatia, não só o acolheram e trataram como o fizeram seu Vice-Alcaide.
Gentilmente também cumprimentado pelo sempre moço, mas de nobre família, D. Pedro Compello, cortejador e frequentador constante dos nobres salões da realeza, sempre disposto a animar idosos e velhinhas com suas graças e dixotes.
Lograram-me que me dispusesse a escrever algumas crónycas sobre Cascaes, sobre a sua governação e as suas gentes.
Pedido a que darei satisfação de quando em vez se a saúde e os afazeres do Reyno assim mo permitirem.
O Cronysta- Mor do Reyno
D. Ferrão Lopes
1 Comments:
Merece aplauso esta nova coluna e prometo a sua leitura sempre atentamente.
As perspectivas históricas enriquecem sempre para além de nos recordarem alguns episódios passados e que a propósito se tornam tão actuais e que convém termos sempre presentes.
Sempre me interessei por Cascais mas confesso que nunca desenvolvi os necessários estudos sobre tão nobre terra e suas gentes.
Pelo que vejo aprenderei por certo algo mais do que hoje sei.
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