CRÓNICAS DO REYNO
O NASCIMENTO DAS CASAS SENHORIAIS DEPOIS DA ABRILADA
Continua El-rei D.Cavacco Maria, em grã sossego, em seus paços de Belém, sem tomar lugar até nos jogos e festas para desenfadamento das cortesãs e fidalguia da corte.
El-Rei anda tristonho e as gentes não mais tomaram prazer de o ver alegre.
Ao que consta, El-rei não terá recuperado ainda, do molestamento da sua cabeça, nos torneios do passado ano, coisa que o trás mui agastado.
Entrementes continua o Cardeal-Mor, D. Sócrates Pinoquio, na sua crua avareza, arrecadando para os seus cofres os ceitis que retira das pobres gentes com o lançamento de novos tributos.
Nunca desde a revolução da Abrilada, passados que são 32 annos, os vilãos, mestres, fabricantes e traficantes e os que andam a soldo, maldizem tanto da sua sorte.
Pardicas, depois da revolução da Abrilada, duas grandes casas senhoriais, a casa dos Soares e a casa dos Carneiros vêem assenhoreando-se do poder e governando o Reyno a seu belo prazer.
Três outras casas, duas mais antigas, a casa dos Cunhais e a casa dos Amarais, com a casa dos Louças, vêem vivendo em escaramuças permanentes entretendo-se assim em desenfadados torneios.
À bofé, desde os longínquos annos da Abrilada, que a corte vai crescendo, cristalizando-se e hierarquizando-se com os seus dignitários. Os nobres impõem os seus “valores”, maneira de ganhar direitos às benesses do rei, distribuídas sob a forma de rendas e de cargos.
Os vilãos, o povo, perdem a influência politica e deixam de pesar nas decisões do rei.
A fidalguia da corte estrema-se cada vez mais da gente do povo; cria-se um estilo palaciano em que as verdades ou não se dizem ou se dizem por formas indirectas; passa a haver heróis oficiais, intocáveis, fora da apreciação do senso comum.
Esta nova aristocracia que se constituiu nestas três últimas décadas, e cujos membros são as famílias daquelas casas senhoriais, assinalam uma contínua concentração senhorial de riqueza, muito superior à que se conheceu nos tempos salazarinos.
Já vós ouvistes bem quanto fizeram os reis antigos para encurtar nas despesas suas e do Reyno, pondo regras em si e nos seus pares para terem tesouros e serem abastados.
Perol, não é cousa que pareça aos reis saídos da Abrilada.
Esbanjam tesouros, em benesses, rendas e cargos para toda a corte e restante fidalguia, mui especial para aqueles que são da sua linhagem.
Entretanto o povo, não descortina como sair deste alinho.
O Cronista-Mor do Reyno
D. Ferrão Lopes
O Cronista-Mor do Reyno
D. Ferrão Lopes
3 Comments:
os melhores votos de boas festas!
Com este cronista sentimo-nos seguros....
Excelente Crónica do Reino.
Um abraço Ferrão Lopes!!
Especial menção também para o editor !
A expectativa é alarmante tal a degradação do Reino...e tudo se alinha pelo ganho rápido ....a par de uma imensidão de excluidos e deserdados da vida social...um mau caminho este que se está a seguir !!!
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