CRÓNICAS DO REYNO
Mui afoito tomou El-rei D.Cavvaco Maria, o rumo das Índias, em cinco apetrechadas caravelas, na companhia da rainha, de seus privados e escudeiros, fidalgos da corte e mais de centena e meia de mestres de officios e traficantes.
Foi recebido, quando pôs os pés em terra, pelo aio-mor do rei das Índias, o que pareceu a muitos fidalgos uma desfeita e desonra para sua alteza, coisa que não entendeu El-rei, que se mostra mui satisfeito, entrando nas danças e folguedos que todos os dias acontecem.
Em conversas íntimas com os mestres, terá confidenciado El-rei que esperava que as gentes do seu Reyno fossem mais “ousadas”.
Conhecendo como conhecem os modos do seu Rei e como ele é dado a pelejas e aventuras, as novas caíram mal ao povo de Lisboa, entendendo das palavras do seu Rei que ele apronta preparativos para uma nova guerra com Castella e que guerras só servem para arruinar os tesouros da Coroa e sacrificar as gentes com novos tributos.
Ao que parece, também a troca de rolhas com os índios não tem corrido de feição.
Quanto ao vinho dos tonéis que seguiram viagem, em vez das trocas esperadas ele tem servido para alegrar toda a comitiva real, que nas continuadas festas e banquetes se tem bebido mais que dois tonéis de cada vez.
A El-rei não lhe desagrada os folguedos dos seus convidados, mesmo que tais e tão grandes bebedeiras não ajudem os desejáveis negócios com os índios.
Mas, todos têm como certo que o que conta, nesta como em outras viagens, não serão os negócios em si mesmos, mas o seu anúncio, que o mesmo é dizer que primeiro está a festa e depois o trabalho.
Aguarda-se para dias o regresso de El-rei, e veremos então quais as novas que nos trás.
O Cronista-Mor do Reyno
D. Ferrão Lopes
2 Comments:
Já é antigo o tique....ficou do tempo dos Vice-Reis !
Eu por mim tenho pena de não ter ido...é que gosto de comida picante.
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