terça-feira, janeiro 16, 2007

CRÓNICAS DO REYNO

POR TERRAS DAS ÍNDIAS


Mui afoito tomou El-rei D.Cavvaco Maria, o rumo das Índias, em cinco apetrechadas caravelas, na companhia da rainha, de seus privados e escudeiros, fidalgos da corte e mais de centena e meia de mestres de officios e traficantes.
É vontade de El-rei que estes homens conheçam de perto tão longínquas paragens para melhor traficarem com elas.
Das cinco caravelas, três vão ao serviço da comitiva de El-rei e as outras duas, uma carrega cem tonéis de vinho de cem almudes cada um e a outra duzentas sacas de rolhas.
Os mestres de officios têm por certezas serem estas mercadorias as de mais valia para as trocas com os índios. E que assim tiravam ganhos para si e para o tesouro real.
Outras paragens haveria para o desenfado de El-rei, mas não dando ouvidos a seus conselheiros aventurou-se mesmo nesta viagem tão tormentosa, austinado em ver de perto os costumes e as falas destas gentes estranhas.

Notícias chegaram já do desembarque de El-rei nas índias.

Foi recebido, quando pôs os pés em terra, pelo aio-mor do rei das Índias, o que pareceu a muitos fidalgos uma desfeita e desonra para sua alteza, coisa que não entendeu El-rei, que se mostra mui satisfeito, entrando nas danças e folguedos que todos os dias acontecem.

Em conversas íntimas com os mestres, terá confidenciado El-rei que esperava que as gentes do seu Reyno fossem mais “ousadas”.

Conhecendo como conhecem os modos do seu Rei e como ele é dado a pelejas e aventuras, as novas caíram mal ao povo de Lisboa, entendendo das palavras do seu Rei que ele apronta preparativos para uma nova guerra com Castella e que guerras só servem para arruinar os tesouros da Coroa e sacrificar as gentes com novos tributos.

Ao que parece, também a troca de rolhas com os índios não tem corrido de feição.

Quanto ao vinho dos tonéis que seguiram viagem, em vez das trocas esperadas ele tem servido para alegrar toda a comitiva real, que nas continuadas festas e banquetes se tem bebido mais que dois tonéis de cada vez.

A El-rei não lhe desagrada os folguedos dos seus convidados, mesmo que tais e tão grandes bebedeiras não ajudem os desejáveis negócios com os índios.

Mas, todos têm como certo que o que conta, nesta como em outras viagens, não serão os negócios em si mesmos, mas o seu anúncio, que o mesmo é dizer que primeiro está a festa e depois o trabalho.

Aguarda-se para dias o regresso de El-rei, e veremos então quais as novas que nos trás.

O Cronista-Mor do Reyno
D. Ferrão Lopes

2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Já é antigo o tique....ficou do tempo dos Vice-Reis !

1:00 PM  
Anonymous Anônimo said...

Eu por mim tenho pena de não ter ido...é que gosto de comida picante.

8:19 PM  

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