quarta-feira, outubro 24, 2007

A Europa e os cidadãos


A Europa parece encontrar-se num período da sua história, em que manifesta a maior insensibilidade social para com os seus povos. Nunca como agora, os governantes dos vários países que a integram, se apresentam tão distanciados dos cidadãos, a quem deveriam servir com o melhor dos seus saberes. Nos seus discursos fala-se no terrorismo, na taxa de juros do banco central, nos mercados, no preço do petróleo e na globalização. Cada vez menos se interessam pelos problemas do dia a dia dos cidadãos. Do acesso ao trabalho e às condições em que o mesmo é prestado e garantido, do acesso à Saúde, à Educação, à Justiça, à Cultura e ao bem-estar social. E quando falam, é sempre no sentido de procurar desculpas para o corte de direitos há muito adquiridos ou limitar e dificultar o acesso dos cidadãos aos serviços prestados pelo Estado (o caso da flexisegurança será um triste exemplo) em nome de um tal Défice que não pode ultrapassar os 3%. Tudo em prol de uma Europa “corajosa”, sabe-se lá de quê e para quê. Uma coisa é certa. Nesta Europa os cidadãos não contam. Esta elite de fato e gravata, estes executivos tecnocratas, que enchem as assessorias dos ministérios, dos gabinetes de Bruxelas e de tudo quanto é Estado, esta geração que não aprendeu a tabuada porque a “máquina” tudo faz, que pensa que o frango nasce depenado, sem pernas nem cabeça tal como o vê no supermercado porque nunca o viu vivo num quintal, vive numa realidade sem emoções, sem história, sem cultura, sem a solidariedade do companheiro do lado. Vive num mundo frio, competitivo, egoísta, sensaborão, ao toque de uma directiva de Bruxelas.
Estamos a ser governados por uma super estrutura, fria, calculista, cada vez mais insensível às dificuldades sociais e ao serviço de obscuros interesses multinacionais. Ao serviço de uma economia monopolista, globalizante e imperialista que tudo arrasa na sua ganância. Uma Europa com Blairs, Javier Solanas, Sarkozys, Prodis, Ângela Merkels, Barrosos, Sócrates e outros que tais, com uma economia onde as únicas regras são as regras dos monopólios e onde os povos não contam e serão mesmo para estes senhores, um estorvo, (veja-se os seus esforços para não referendarem o tratado europeu). Onde, os funcionários públicos são considerados uns mandriões e incompetentes, em especial os professores, os enfermeiros, médicos, juízes, polícias e magistrados; os reformados e deficientes a quem é preciso reduzir os vencimentos e pensões com novos aumentos de IRS e que assim constituem um peso para o Estado; as mães que continuam umas contestatárias ao recusarem os nascimentos nas ambulâncias assistidas por bombeiros; os velhos doentes que protestam contra o encerramento dos Centros de Saúde ali à porta; os trabalhadores em geral culpados da baixa produtividade da economia nacional.
Para estes senhores, todos nós constituímos um estorvo às suas grandes “ideias” do “desenvolvimento” europeu. Até quando?

6 Comments:

Blogger MANHENTE said...

Pois é, Ruy, a verdade por vezes é crua. Embora não seja tão pessimista, no sentido em que acredito que haja alguns políticos de boa fé (que, por azar, só parecem governar noutros países), o facto é que a realidade que retrata é um facto indesmentível. E os "números" relativos a Portugal no quadro que introduz o texto são verdadeiramente reveladores...

Um abraço,
Rui

11:58 PM  
Anonymous Anônimo said...

Caro RUY

EXCELENTE!!

O retrato está perfeito.

Infelizmente é mesmo assim....e esses tais de fato e gravata nem se apercebem que esta maralha cá por baixo ....mexe e come....

Uma coisa é a estratosfera....e os corredores de Bruxelas e outra bem mais movimentada e barulhenta são esses milhões que se cruzam por aí ....isto vai mal...muito mal....
Um abraço

JOSÉ

9:12 PM  
Anonymous Anônimo said...

Nós somos os maiores....e os campeões nesta coisa de Tratados.....agora fomos nós que finalmente fizemos o Tratado e salvàmos a Europa...da desgraça.....os europeus estão ansiosos por nos agradecer

.......sempre que passa um português pelas ruas de Londres ou Geneve ou Paris....então em Paris os parisienses dobram-se à nossa passagem e todos nos querem convidar para hóspedes de sua casa....dá gosto ser português nas ditas capitais.......

......se em Lisboa é....que mal seria que assim não fosse nas ditas...


Boa noite ....chau...chau....

9:37 PM  
Anonymous Anônimo said...

Caro Ruy será que o Mapa que pôs lá em cima é algum retrato de família ?????

9:41 PM  
Blogger Carlos Sério said...

Manhente, dizes "politicos de boa fé", aceito o teu optimismo, mas eu sou neste aspecto bastante pessimista. Oxalá me engane e que venha rápidamente um poltico de boa fé que pegue nisto.
José,
o Post foi escrito depois de uma conversa com um grande amigo,
abraço,

10:11 PM  
Blogger Pata Negra said...

Uma grande Europa para uma minoria engravatada, um pobre país para uma maioria esfarrapada! E no entanto não se vê uma luz ao fim do túnel, "eles venceram e o sinal está fechado para nós".

10:39 PM  

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