sábado, outubro 15, 2011

MANIFESTO POR UMA NOVA DEMOCRACIA



MANIFESTO

O que se tornou dominante, o que realmente caracteriza a economia de hoje, são os monopólios, as oligarquias financeiras e a especulação financeira. Não existe mais mercado e muito menos mercado livre. O monopólio é, por natureza, a própria negação do mercado. O neoliberalismo é a doutrina económica que compartimenta este supremo desenvolvimento capitalista. Não deixa portanto de constituir uma falácia, os apelos dos neoliberais, para que “deixem funcionar o mercado”; para que o Estado dê liberdade ao “natural” desenvolvimento do mercado que ele, como “mão invisível”, se regulará por si próprio. O que na verdade os neoliberais reclamam, é uma total liberdade, não para o mercado produtivo que já não existe como forma dominante, mas para os "negócios" das oligarquias financeiras, para a desregulação financeira, para a circulação livre de capitais, para a especulação financeira, para o mercado financeiro. O traço dominante, fundamental, da economia de hoje é, seguramente, a especulação financeira, o capitalismo financeiro.
Retiram-se recursos da área dos investimentos produtivos para serem transferidos para a especulação financeira. Com isto, diminui-se a criação de riqueza, o crescimento económico (1), e amplia-se o desemprego. Com a globalização, o Estado torna-se cada vez mais impotente na regulação da redistribuição da riqueza. Regrediu-se nas políticas de redistribuição dos rendimentos (2) e regressámos a um capitalismo selvagem, cruel e desprovido de qualquer sentido ético. A crise financeira que abala o mundo e a crise económica e social que se lhe seguiu, é apenas o corolário de uma economia subjugada à especulação financeira, ao capital financeiro. E como não há, boa ou má especulação financeira, não haverá receitas capazes de terminar com as crises financeiras geradas por ela. Podem os líderes mundiais invocar a falta de regulação como justificação para a actual crise. Não parecem contudo muito convencidos do que afirmam, mas serve de consolo e dá para enjeitarem responsabilidades. Confusos, viram o mundo “glorioso” em que se empenharam a construir nestas três últimas décadas, ruir de um ápice, sem compreenderem bem como. E, parecem não vislumbrar ainda soluções satisfatórias. Parecem não compreender que só exterminando a especulação financeira, extinguindo os off-shores, limitando drasticamente a circulação de capitais e os mercados de capitais, com a imposição por parte do Estado na fixação dos preços dos monopólio e a nacionalização dos sectores estratégicos dominantes da economia, poder-se-á inverter o caminho de uma nova crise mais profunda ainda seguramente. Com uma nova filosofia, uma nova ideologia, uma nova Democracia, que advogue a Democracia Participativa. Uma nova forma de organização social que assegure o controlo social permanente sobre o Estado e as Empresas.

Em Portugal, a degradação e a corrupção a que chegou o sistema político desta III República, o seu bloqueamento e a manifesta incapacidade de se auto reformar, leva qualquer cidadão a admitir, a desejar, uma profunda mudança não necessariamente do regime constitucional em que vivemos mas do “sistema” político corrupto institucional erguido pela nossa classe politica ao longo dos últimos anos.
Os partidos transformaram-se em máquinas eleitorais, em partidos de notáveis, de uma nova aristocracia sufragada pelas televisões e sondagens. Neles preside uma lógica aparelhistica, oligárquica de perpetuação política da elite que dirige o partido e o representa no Parlamento. Os partidos esvaziaram-se ideologicamente e assim deixaram de representar os interesses dos cidadãos para passarem a representar somente os interesses das suas clientelas partidárias. A profissionalização dos políticos, a mediocridade no seu recrutamento, a corrupção e o tráfico de influências são a realidade dos dias de hoje. Temos um Estado de partidos, redutor e totalitário quanto à representação dos interesses plurais da sociedade. Temos uma Democracia usurpada por estas elites, com responsabilidades de tomar decisões em nome do Povo, e que o atraiçoam logo que alcançam o poder ao romperem com todas as promessas eleitorais sem que daí advenha a revogação dos seus mandatos.
O falhanço do neoliberalismo económico, do capitalismo selvagem, do mercado sem regras nem controlo, do mercado que se rege por si próprio, do menos Estado, do cidadão considerado não como um ser multifacetado, de múltiplas necessidades, éticas, culturais, sociais, mas tão só como simples consumidor. Numa vivência onde conceitos como a solidariedade, fraternidade, abnegação, tolerância, benevolência, são considerados nefastos, caducos, perturbadores e prejudiciais ao funcionamento normal da sociedade, o mesmo é dizer, ao funcionamento normal do mercado. Para os neoliberais, o Homem é apenas corpo, não é alma, é consumidor e isso basta.

Surpresos com a crise económica, com a crise do neoliberalismo que irrompeu no mundo, sem compreenderem os seus fundamentos, os líderes europeus, a elite oligárquica europeia e americana, ensaiam múltiplas iniciativas económicas na esperança de que alguma resulte, na esperança de que tudo retome ao “normal funcionamento” anterior. Naturalmente que todas estas iniciativas podem atrasar momentaneamente o “natural” percurso da economia mas, no fundo, o que se deseja, é manter a mesma lógica económica, o que se pretende é a perpetuação das politicas neoliberais. E, como resultado, a mais curto ou médio prazo, teremos um contínuo decréscimo do crescimento económico e um agravamento das desigualdades sociais com uma nova e mais profunda crise.
Só uma nova doutrina, uma nova filosofia, poderá inverter o rumo deste desenvolvimento capitalista neoliberal. Uma nova ideologia – uma nova Democracia – que encerre em si, que incorpore, o princípio da unidade dialéctica entre o ser individual e o ser social, tendo como expressão a democracia política, com a vontade política dos cidadãos expressa em eleições democráticas e que assegure uma empenhada, permanente e continuada participação do cidadão na vida pública. Em que o acto eleitoral seja o corolário de uma participação activa, diária, continuada do cidadão na gestão política da sociedade. Os eleitos são cidadãos temporariamente representantes, delegados das populações e a cada momento intérpretes das suas vontades. Uma nova forma de organização social que assegure o controlo social permanente sobre o Estado e as empresas. Uma nova forma de organização social, tendo como um dos seus objectivos a valorização da democracia participativa.
A democracia não é apenas uma forma de governo, uma modalidade de Estado, um regime político, uma forma de vida. É um direito da Humanidade (dos povos e dos cidadãos). Democracia e participação se exigem. Não há democracia sem participação, sem povo. O regime será tanto mais democrático quanto mais tenha desobstruído canais, obstáculos, óbices, à livre e directa manifestação da vontade do cidadão.
Nesta nova Democracia, o velho Estado de carácter tutelar, administrativo e burocrático dará lugar a um novo Estado com a maior descentralização de competências, conferindo às associações sociais, às organizações de trabalhadores, uma intervenção activa nos processos de organização da produção de modo a permitir a maior inovação e competitividade das empresas e instituições.
Assegurar-se-á o controlo social dos sectores económicos estratégicos - Banca, Energia, Água, Vias de Comunicação e Telecomunicações. Procurar-se-á assim, assegurar o controlo social permanente sobre o Estado e as Empresas mediado pelo interesse público.
E assim, promover-se-á uma efectiva liberdade, uma efectiva igualdade de oportunidades e uma efectiva participação do poder e repartição justa da riqueza produzida.

(1) Segundo o relatório da Unctad (United Nations Conference on Trade and Development) de 1997, o crescimento mundial, reduziu-se de cerca de 4% ao ano nos anos 70, para cerca de 3% nos anos 80, e 2% nos anos 90.
(2)“A parcela de riqueza que é destinada aos salários é actualmente a mais baixa desde, pelo menos, 1960 (o primeiro ano com dados conhecidos). Em contrapartida, a riqueza que se traduz em lucros, que remuneram os detentores do capital, é cada vez mais alta” (Relatório da UE)

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10 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Pois está bem..mas agora estou mais preocupado com o que se passa aqui no Burgo...

que é muito simples...

....com as recentes medidas de cortes de subsídios de Natal e Férias ...perdeu-se a noção da JUSTIÇA...!!!!

Já que...para reduzir o déficit...resultante de desnorte por efeito de gastos em estradas , autoestradas, regiões administrativas...empresas públicas, fundações e similares, custos na saúde, educação, festas e fogos de artifício, etc...o Estado entende que isso é encargo de uma parte dos cidadãos : os funcionários públicos e pensionistas...e alguns privados de maiores rendimentos...

É grave a situação...não só pela situação económica e financeira mas....porque a noção de JUSTIÇA FOI PELO CANO ABAIXO...

Campea a discricionaridade...a parcialidade....o autoritarismo... e o que virá a seguir....

sinto que temos de nos defender para garantia da nossa Liberdade...!!

Veja que já alguém dizia que em circunstâncias especiais até os privados poderão "cortar" os mesmos subsídios...

E para quem fica o dinheiro...??
Para a redução do déficit???...só se fôr pela compra de algum Ferrari...claro....

10:59 PM  
Anonymous Anônimo said...

A História tem-nos dado exemplo de fracturas socias graves ao ponto de guerras fraticidas... nortistas contra sulistas....vermelhos contra brancos...religiosos contra ateus....realistas contra republicanos e vice-versa...fachistas contra não-fachistas ....populares contra aristocratas....patriotas e não patriotas...os sem coullote e os com coullote....

...agora ...quando o País é de todos...funcionários públicos contra trabalhadores privados é que nunca vi...que alguém aí quisesse acender rastilhos...

...deve ser alguma técnica moderna...

11:12 PM  
Anonymous Anônimo said...

Chegàmos ao ponto de eu não saber se amanhã ao chegar a casa ficar informado pela TV de que daqui a um mês terei de pagar mais uma conta....a descontar no ordenado..não se sabe bem de quem...nem porquê...

...até pode ser porque o vizinho se lembrou de comprar mais um pópó...importado da Alemanha...

E eu cá estou para pagar...

Caro Blogger será que me chama algum nome...?? ...para além de trouxa ???

11:17 PM  
Anonymous Anônimo said...

Ouvi dizer que o privado não contribui com os subsídios em 2012 como os funcionários públicos porque assim não haveria redução de despesa....e ...porque os funcionários públicos ganham mais que os privados...tirando alguns quadros superiores...

Mas atão e porque é que os privados vão pagar este ano o correspndente a metade do subsídio de Natal...?

E esses quadros superiores vão pagar...?

E assim já se reduz a despesa...??

...ou porque são superiores não vão pagar coisa nenhuma...??

Foi-se....alguma coisa ....que me fazia acreditar...o que é uma pena...tão cedo!!!!

Pergunto eu:
Pagando todos ...os encargos que são de todos ...não seria mais fácil a todos...???

11:30 PM  
Anonymous Anônimo said...

Vamos pagar coisas que nem sabíamos que existiam...

Será isto possível...ou estamos num sonho de uma noite ...de Verão...???!!!

E eu que quando vou ao Allgarve até vou pela estrada velha para não pagar portagem...

Agora começo a perceber a piada de um meu vizinho ...quando me dizia que eu devia ir pela estrada velha...para lhe pagar a ele o Porche mais a autoestrada....

11:39 PM  
Anonymous Anônimo said...

Li..por aí num jornal que vai ser dada instrução à RTP para não pagar avenças a políticos comentadores...

Mas e os critérios jornalísticos...liberdade de informação...pincípio da concorrência ...pluralismo democrático e político-partidário...não ingerência... e tal ...e tal ...e tal...onde estão...??

Oh...não me diga que eu ( funcionário público e que ainda por cima só vejo a SIC ) também pago isto...com o meu subsídiozito de férias...???...

12:00 AM  
Anonymous Anônimo said...

Já que o Sr Juiz ganha um bocadito mais que o caixeiro do Continente ...ora toma ...vamos cortar-lhe os Subsídios de Férias e de Natal....

E...pela mesma medida grossa leva o Engenheiro de obras da Câmara Municipal que sempre ganha um bocadito mais que o trolha....

Quem pensa assim...é mesmo cabecinha pensadora...

....que já perdeu o pé....

10:43 PM  
Anonymous Anônimo said...

Ora ...cá por mim que sou do sector privado..até talvez o Homem não esteja a ver mal de todo...

....e enquanto o pau vai e vem...folgam as costas...à portuguesa...

10:45 PM  
Anonymous Anônimo said...

Parece que vão alterar os Feriados...e o problema é saber quais...

..segundo jornais...como de costume.... há já por essas autarquias quem ....embora ainda não se tenha discutido o assunto ....até já achem, os respectivos chefes, que o feriado A ou B pode ser mexido....

..como de costume....sem ouvirem ninguém...já nem falo o Povo...que esse só fala fora de tempo....

Pois ...por mim...dado o déficit...por que não uma medida modernaça...à UE...à Troika....acabam-se com 30% dos feriados com arredondamento para a unidade imediatamente superior...a começar pelos feriados mais recentemente instituidos...

....suspendendo-se, até nova data o do 1.º de Dezembro...

Que acha...amigo...???

10:56 PM  
Anonymous Anônimo said...

Bom ...vou dar uma volta para espairecer....

....é que ninguém quer que os privados paguem...o que se não tolera é a ARBITRARIEDADE....

11:02 PM  

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