Ao serviço de quem?
Os líderes europeus parecem estar de algum modo surpreendidos com o agravamento dos juros da dívida soberana da Espanha e da Itália. Depois da cimeira de 21 de Julho e das medidas ali adoptadas, terão considerado que o seu “esforço” na procura de “soluções” para a crise da dívida seria apreciado pelos “mercados” e assim, sem preocupações de maior, partiriam descansados para férias. Na verdade, as tréguas dos “mercados” foram demasiado curtas o que veio lançar um novo e grande sobressalto entre eles. As “soluções”, afinal, não eram soluções, o que tem levado um sem número de antigos líderes europeus, economistas e comentadores políticos da área do poder, a insurgirem-se contra a “liderança” europeia, queixando-se mesmo da falta de uma liderança europeia capaz de uma solução clara e definitiva para a actual crise das dívidas e do próprio euro.
Uma vez mais estamos perante uma grande mistificação.
Na verdade, os actuais líderes europeus não são mais, que a emanação política do domínio financeiro e económico dos “mercados”, o mesmo é dizer das oligarquias financeiras. Foram as oligarquias financeiras que se apropriaram, mercê da falta de regulação, da criação de ofshores e da sua não contribuição para a receita pública, porque gozam de isenção de impostos dos rendimentos (deste modo acumulados) que agora emprestam aos países, a juros cada vez mais altos. Como imaginar então ser possível, que os líderes europeus, que desenharam e continuam a desenhar, todo este ambiente indispensável à acumulação de rendimentos, toda esta política europeia visando a satisfação dos interesses exclusivos do capital financeiro, dos mercados, das oligarquias financeiras, encontrar “soluções” contrárias aos interesses destas oligarquias? É um contra -senso. Poderão lançar algumas lágrimas de crocodilo, desfazerem-se em queixumes, mas jamais serão capazes de alterar as causas profundas da crise das dívidas soberanas e ultrapassá-las eficazmente.
Os governantes dos vários países da união europeia não estão ao serviço das suas populações mas exclusivamente ao serviço das oligarquias financeiras. As medidas de austeridade sobre os cidadãos, diminuição de salários e pensões, redução do papel social do Estado, aumento de impostos sobre o trabalho, que atingem mais de 80% dos cidadãos de cada país, são a demonstração clara das opções dos governantes. Em vez de procurarem receita, de modo a manter o estado social, taxando as operações financeiras, extinguindo os ofshores e aplicando impostos ao capital, preferem sacrificar os seus povos, numa regressão social sem memória.
Os povos nada têm a esperar destes governantes. A sua manutenção no poder apenas agravará todos os problemas e dificuldades já existentes. Ou os cidadãos encontram rapidamente alternativas políticas capazes de inverter este rumo sem futuro, ou então, uma longa noite sombria e miserável se abaterá sobre os povos europeus.
Marcadores: líderes europeus, Mercados
6 Comments:
Caro amigo...à minha frente só vejo escuridão...
...e quando deixar de a ver é porque já estou lá dentro....
Excelente texto. Parabéns.
Há por aí um País à venda....caro Blogger saberá a quantos cêntimos está cada acção...?
De facto os políticos estão ao serviço da teologia do mercado:o mercado dita valores morais e o estatuto de cidadão está reduzido ao de consumidor.
Para a renovação da classe politica portuguesa é necessário que a sua responsabilização por danos ao Estado por má gestão deixe de ser encarada apenas politicamente e passe também a ser criminal, de acordo aliás com o que está legislado no Código Penal, no capitulo da gestão danosa do sector público.A par de um efectivo controle sobre a sofisticada corrupção de Estado, conforme o discurso de Cravinho.
Porque o Estado foi capturado por interesses privados tidos como alternativa ao demagógico pretexto da má gestão praticada pelos funcionários públicos!
Só assim se deixarão de perfilar certas candidaturas hábeis na retórica e no clientelismo, que depois de tudo danificarem saltam do esburacado barco para gordas férias...de três anos a que chamam travessia no deserto, e depois como as moscas sugadoras, voltam sempre!
VL
Os tempos dos líderes e das ideologias acabou há vinte anos. As condições para a sua génese e aceitação alteraram-se, hoje as massas são mais instruídas, informadas e manipuladas e os media e a TV são iconoclastas,destroem os carismas.Hoje os heróis são todos virtuais ou futebolistas...
As politicas são as possíveis perante a banca, porque o Estado se super endividou, dado os compromissos e encargos crescentes que assumiu por causa dos votos e da democracia igualitária e...libertária!
Tendo resultado que em Portugal temos cinco milhões de pessoas dependentes do Estado a pretexto da igualdade!
Assim como sucede nas vidas dos particulares e das empresas, quem manda são os credores aos quais os políticos tem de obedecer!
Ou mandam também os devedores, se os credores estiverem também com a corda ao pescoço porque ficaram descapitalizados-o que sucede com a Grécia!
Mas neste caso a bancarrota estará eminente,veja-se o lugar cimeiro de Portugal, Grécia no clube da bancarrota!
A imposição do programa do FMI resulta que não tivemos um politico capaz de dizer NÂO aos lobis e aos sindicatos!Não nos sabemos governar em democracia...
Quando dentro de cinco anos o País tiver um milhão e trezentos mil desempregados,rendimentos reduzidos em trinta por cento, etc,ainda deverá mais ao FMI que...hoje!
Bela «caldeirada», é fácil prevêr as consequências socio- políticas, veja-se o que sucedeu entre 1918-1925...
Atenção,a história mostra que a seguir a crises do género das que se perfilam, acontecem sempre revoluções,motins e guerras civis ou internacionais! E então sim aparecem os tais líderes salvadores(?)...
Cuidado, nada é eterno e também as democracias...
VL
Caro Blogger..ainda bem que foi de férias...
...é que temos de poupar em tudo até nos Bloggs...
...porque pelo andar da carruagem...já estamos completamente depenados...e ainda ficamos sem pele ....
Cá por mim já me sinto a voltar aos tempos de estudante na minha escola primária...em que metade da turma em pleno Inverno...andava descalça...e... para protecção da chuva usava um saco de serapilheira do adubo...
...e isto não é nada...que ainda havemos de chegar ao tempo do Afonso Henriques...e ...
.....talvez aí o Fundador deixe de arremessar contra o primo...e se instale em Toledo...
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