quarta-feira, dezembro 12, 2007

Será utopia?


Será a Social-Democracia a ideologia que encerra em si, que incorpora, o princípio da unidade dialética entre o ser social e o ser individual, tendo como expressão de Estado a Democracia Politica, um homem um voto e a vontade politica dos cidadãos expressa nos resultados de eleições democráticas.

Mas bastará, só por si, a existência de eleições para se considerar uma sociedade, um Estado como democrático? Sendo uma condição necessária mas estará longe seguramente de se considerar condição suficiente. O acto eleitoral será apenas o corolário de uma participação activa, diária, continuada, do cidadão na gestão politica da sociedade. Os eleitos são cidadãos iguais, actuando temporariamente como representantes das populações e a cada momento deverão ser intérpretes das suas aspirações. Os eleitos deverão estimular a participação dos cidadãos numa participação social activa, legislando no sentido favorável a esse envolvimento cívico. Os eleitos deverão proporcionar às populações iguais acessos à Educação, Saúde, Justiça, Segurança e outras funções sociais do Estado. O Estado é dos cidadãos, não é dos eleitos.
Fala-se hoje na “qualidade da Democracia”, o que só por si traduz um maior ou menor “desvio democrático” da acção dos eleitos para com as expectativas dos seus eleitores. O afunilamento das leis que retiram espaço de participação social aos cidadãos e permitem aos governantes uma gestão politica e social do Estado mais autocrática parece estar na moda nesta Europa do início do século XXI. Estamos longe das preocupações sociais manifestadas pelas democracias europeias do pós guerra. Os governos uniformizam-se. A Europa uniformiza-se. Os cidadãos empobrecem e assistem às limitações de acesso à Saúde, Justiça, Educação e outras funções sociais do estado impostas pelos governos. E nos países onde a corrupção da classe política é maior, os cidadãos sofrem dificuldades acrescidas.

E em paralelo com esta progressiva diminuição de “direitos adquiridos” (benefícios social e historicamente conquistados e como tal plenos de direito) assiste-se à paulatina acumulação de capital, à expansão dos monopólios e ao fortalecimento das oligarquias financeiras. À uniformização económica da Europa decorre paralelamente a sua uniformização politica.
A acumulação de capital decorre em paralelo ao retrocesso social.
Esta uniformização politica não distingue os social democratas dos democratas cristãos na Alemanha, nem os trabalhistas dos conservadores no Reino Unido, nem os populares dos socialistas em Espanha, nem os Prodis dos Berluskonis em Itália, nem os social democratas ou os socialistas em Portugal. Todos usam o mesmo figurino político. O figurino imposto pelas oligarquias financeiras europeias e americana de quem são fiéis serventuários.
O cidadão europeu encontra-se encurralado. Como em Portugal, votar no PSD ou votar no PS, votar num qualquer partido de alternância do poder, tem o mesmo significado e consequências. Só difere o discurso das promessas eleitorais. Ainda que, constantemente, pretendam ocultar perante os cidadãos os seus reais objectivos políticos, há momentos em que, pela agudeza dos problemas, acabam por deixar cair a máscara e tornar transparentes os seus propósitos.
Um desses momentos acontece agora com a aprovação do “Tratado Europeu”. Pretendem de todas as maneiras subtrair o Tratado Europeu ao referendo popular, com manobras cada vez mais patéticas. Como antes, ao arrepio da vontade das populações europeias, apoiaram a aventura de Bush no Iraque.
Os povos europeus só poderão sair da camisa de forças em que os colocaram quando souberem erguer uma nova formação política, alheia aos vícios e ao “profissionalismo” dos actuais partidos, assente numa verdadeira ideologia Social Democrata, que usando o poder democrático conquistado em eleições, inverta os desequilíbrios actuais da distribuição da riqueza, impulsione um desenvolvimento económico sustentado e promova a qualidade de vida e ambiental dos cidadãos.

“Não são pessoas. Não são políticos, não são entes reconhecivelmente humanos. São umas montagens publicitárias: polidas , vácuas , inócuas . Heróis de Plástico, uma invenção.” (Vasco Pulido Valente)

4 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Caro Ruy

Absolutamente de acordo..

Temos abordado a questão de vários modos ...por vezes em geito de desalento até....

As sociedades criam mecanismos de funcionamento legítimos mas que pela sua inércia ou habituação se autonomizam da própria sociedade como que se abstraissem da realidade que os criou.....com dinâmicas próprias que deixam de ter a ver com a própria sociedade...tornando-se assim perniciosos e sem capacidade de descernimento....caminhando...caminhando....toda a gente a ver o declive até que a sociedade reage...de forma violenta mesmo....

Já se fala em "elites"....dentro do sistema democrático mas como reacção a este mesmo...

...Então em funcionários que se enquistam...autocriando poderes de influência na conduta democrática e de governo que escapam aos mecanismos da democracia....que se pretende mas que nem sempre se vive...

Há sistemas que se auto-alimentam de burocracia....crescendo no meio do papel....cientes da sua enorme luminosidade superior....quais grupos de sábios...senadores....e coisas parecidas......que servirão em ambiente familiar para figurarem em retrato na parede mas que quando se autodesligando da sociedade, e a História o tem provado....só provocam descalabro....e trabalho a tirar da parede...

E nós dizemos ...não é isto que o Povo quer....

( Repare-se que não falo de centralismos...para que não haja confusão )

....repare que por ex.º ...há quem diga " estou no poder ...." tomar o poder "...." exercício do poder ".....em vez de sou governante....ou tenho de governar..... e isso como exemplo seguido a nível de qualquer forma de organização que hoje até é formalmente representativa....


.....mas tal como no concerto social...será que o crescimento económico só por si é suficiente para o bem estar das populações...?.

....como é bem visível....zonas de crescimento económico ....frequentemente são zonas de desigualdades em que o fosso entre os ricos ou os que têm e os pobres ou os que nada têm é enorme e cada vez mais profundo...

Todos nós vemos....vamos caminhando alegremente...com a sensação de nada poder fazer...pois é aí que estamos ...mas não é isso que queremos...sem exigir políticas sociais que tenham como escopo único a defesa das pessoas....das suas necessidades ...das suas ambições .....


até....à próxima chatice...

JOSÉ

7:26 PM  
Anonymous Anônimo said...

Caro Blogger


Nem sei se vem a propósito...mas lembrei-me desta

Se o salário médio anual em Portugal for 12.425,00 , cada hora trabalho custará 5,97 ( considerando 40 horas de trabalho semanal/52 semanas/ano )....então quer dizer que num dia quando vou a uma repartição eu e, por ex.º mais 200 .... e aguardamos 4 (quatro horas) pelo atendimento tal situação só nesse local custará nesse dia 4.776,00€ ? de horas perdidas?

Será assim..?..ou estarei a fazer mal as contas...?...

7:35 PM  
Blogger Pata Negra said...

O Império Romano caiu por ele próprio! Os poderes instalados cairão pela sua própria decadência! Em seu lugar instalar-se-ão outros poderes. A nós, resta-nos lutar pelo pão nosso de cada dia ou enfrentar as feras do coliseu!
A democracia está para estes senhores como o amor estava para os pregadores da idade média: amor sim, mas só com a mulher do próximo.
Não há outro caminho!
Um abraço revolucinário

10:27 PM  
Anonymous Anônimo said...

Ena.... pá...por aquelas contas ...quantas pessoas poderiam ser contratadas..? Sempre se combateria o desemprego....

Não acredita nas quatro horas...então experimente.....

12:36 AM  

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