terça-feira, dezembro 21, 2010

A religião dos mercados


Quase todos os líderes políticos, quer sejam da esquerda tradicional ou de direita, quer sejam do Sul ou do Norte, dedicam um verdadeiro culto ao mercado, e aos mercados financeiros em especial. Seria necessário dizer que fabricam uma religião do mercado. Em cada dia, é dita uma missa para honrar o Deus-Mercado para cada lar munido de um televisor ou de uma ligação à Internet, no momento em que se dá conta da evolução das cotações na Bolsa e das esperas dos mercados financeiros. O Deus-Mercado envia sinais através do jornalista de economia ou do cronista financeiro.
Não é não somente verdade para todos os países mais industrializados, mas também para a maior parte do planeta. Quer se esteja em Xanghai ou em Dakar, no Rio de Janeiro de Janeiro ou em Tombuctoou, receber-se-ão "os sinais enviados pelos mercados". Por toda a parte, os governantes procederam às privatizações e criaram a ilusão de que a população podia participar directamente nos rituais do mercado (comprando acções) e receber um benefício de retorno na medida em que se interpretassem bem os sinais enviados pelo Deus-Mercado. Realmente, uma pequena parte das camadas mais baixas conseguiu adquirir acções, mas não tem peso algum sobre as tendências do mercado.

Durante séculos, talvez se leia nos livros de História que, a partir de 1980, um culto fetichista fez furor. A subida em flecha do culto em questão será relacionada com dois nomes de chefes de estado: Ronald Reagan e Margaret Thatcher.
Os Deuses desta religião são os Mercados financeiros. São-lhes dedicados Templos que têm por nome Bolsas. Só os grandes padres e os seus acólitos são os seus convidados. O povo crente é convidado a comunicar com os Deuses-Mercados através do pequeno ecrã da TV, do computador, do jornal diário, da rádio ou da janelinha do banco.
Para amplificar, no espírito dos crentes, a potência dos Deuses-Mercados, comentadores anunciam periodicamente que estes enviaram sinais aos governos para indicar a sua satisfação ou o seu descontentamento. O governo e o Parlamento gregos compreenderam finalmente a mensagem enviada e adoptaram um plano de austeridade de choque que faz pagar as camadas mais baixas. Mas os Deuses estão descontentes com o comportamento da Espanha, Portugal, Irlanda e Itália. Os seus governos deverão também fazer uma oferenda com fortes medidas anti-sociais.

Os governos não são excepção: abandonaram os meios de controlo que detinham sobre estes mercados financeiros. Os investidores institucionais («zinzins»: grandes bancos, fundos de pensões, seguros...) que os dominam receberam dos governos milhares de mil milhões de dólares sob a forma de dons ou empréstimos que servem para os entregar em sela, após a derrota de 2007-2008. O Banco Central Europeu, a Reserva federal dos Estados Unidos, o Banco da Inglaterra emprestam-lhes, em cada dia, a uma taxa inferior à inflação, cestos de capitais que os "zinzins" se apressam a utilizar de maneira especulativa contra o euro, contra as tesourarias dos Estados, sobre o mercado das matérias primas...
Hoje, o dinheiro pode circular de um país para o outro sem a menor cobrança de imposto. Três mil mil milhões de dólares circulam, em cada dia, pelas fronteiras do mundo. Menos de 2% desta soma servem directamente o comércio mundial ou os investimentos produtivos. Mais de 98% servem as operações especulativas principalmente sobre as moedas, sobre os títulos da dívida, sobre as matérias primas.

Eric Toussaint, (doutor em Ciências Políticas, preside o CADTM da Bélgica, Comité para Anulação da Dívida do Terceiro Mundo e é autor de várias obras).

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3 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Caro Blogger...


Compreendo os grandes Tratados sobre economia....

...mas e os outros...leia o " SOL " pág. 16....

4:57 PM  
Anonymous Anônimo said...

Os europeus...são uns pessimistas....e não lêm os nossos jornais nem estudam a nossa lei laboral que dizem ...não é flexível....

....chiiii.... caramba que ...a lei até permite a suspensão do contrato de trabalho sem perda de remuneração....

Mais flexível só na selva....

O outro bem tinha razão...a malta já anda de tanga...

5:02 PM  
Anonymous Anônimo said...

Caro Blogger

Vou continuar a lero jornal ...e...se não voltar é porque fiquei afogado...ou então emigrei para algum lado onde nem sequer há internet...

5:04 PM  

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