A desunião europeia
Não restam dúvidas. A entrada de Portugal na UE e as medidas económicas e financeiras que desde então ela decretou, associada à venal e incompetente governação do país, governos que possuídos de uma leviana submissão e deslumbrados com os novos salões de Bruxelas se vangloriaram e vangloriam da precisa, atempada e exaustiva execução de tais medidas, são responsáveis pelas situação económica e social catastrófica em que mergulhou o país.
Nos traços fundamentais da política económica da EU ressaltam: as políticas de juros e crédito fácil (o que deu origem a uma desenfreada e insustentável especulação urbanística, imobiliária e financeira), as medidas incentivadoras da desindustrialização nacional, grandes empresas nacionais na área da metalomecânica foram à falência ou foram vendidas ao desbarato a consórcios estrangeiros ( Sorefame, Lisnave, Fundição de Oeiras e tantas outras), as politicas de abate e desinvestimento na industria das pescas, as politicas de desinvestimento na agricultura e a abertura incondicional do nosso país aos mercados do resto do mundo, politica que apenas favoreceu e favorece os países economicamente mais fortes e desenvolvidos da EU.
Entretanto, a EU através das instituições financeiras, emprestava dinheiro a rodos e a juros baixos, aos bancos, ao Estado, aos particulares. Não produzam mas consumam os nossos produtos porque nós emprestar-vos-emos todo o dinheiro de que necessitem.
Não se olhou às características próprias e específicas do país relativamente às suas estruturas na indústria, nas pescas, na agricultura. Os governos, despreocupados, acreditando talvez que, entrados na EU, todos os problemas se resolveriam por si sob o grande guarda-chuva da EU, pensando mais em si e nas suas clientelas que no país, iniciaram e ampliaram a cada ano, uma paulatina mas profunda “reforma” na Administração Pública, com a criação de imensos órgãos do Estado parasitários, que ampliou a corrupção e elevou a despesa pública para níveis insuportáveis. Hoje, com os juros da dívida pública a níveis proibitivos e com as necessidades de financiamento do Estado, constatamos que afinal a EU, longe de constituir uma solução para o atoleiro a que nos conduziram as suas políticas, que como bons alunos acriticamente sempre seguimos, se comporta afinal, com a tão badalada “ajuda” do FEEF, do mesmo modo e da mesma forma e com os mesmos juros, que o FMI se comportaria com um qualquer país fora da zona euro em circunstancias iguais. O que constituirá seguramente uma profunda desilusão para aqueles que ao longo dos anos sempre endeusaram a EU.
Com a crise, revela-se claramente a verdadeira natureza desta EU. Domínio decisório e absoluto da Alemanha, com a França na sua sombra, na defesa intransigente dos seus próprios interesses económicos e financeiros, funcionando o Banco Central Europeu com o único propósito de alcançar tais objectivos. Enquanto o governo oficial europeu, os comissários europeus, o parlamento europeu, se refugiam cobardemente na maior obscuridade e no mais profundo silencio sem qualquer iniciativa ou acção política abrangente e esclarecedora. Na verdade, seria ao governo europeu a quem competiria discutir os problemas da crise e o modo de sair dela, a quem competiria discutir com cada país em dificuldades as medidas alternativas necessárias e não à senhora Merkel. Do governo europeu deveria sair um plano de apoio estratégico e solidário aos países em dificuldades maiores, à Grécia, à Irlanda e a Portugal. Discutido entre todos e apoiado por todos. Não essa coisa que dá pelo nome de Fundo Europeu de Estabilidade Financeira, FEEF, que possui a mesma orgânica e filosofia de esbulho dos “empréstimos” do FMI e que despreza em absoluto as envolventes nacionais de cada país, as pessoas que neles habitam e trabalham e as condições indispensáveis ao crescimento económico.
5 Comments:
100% de acordo! Parabéns pela clarividência!
Estou derreado com esta análise...e plenamente de acordo ....
Estes tipos ainda gozam o prato do tuga...carago...??!
Eu nem fui chamado a pronunciar-me sobre esta Europa, que não é a minha, pois é mais a Europa dos ricos do que dos outros.
Abraço do Zé
A gente sempre andou a cair pró Atlântico...e depois chamàmo-nos descobridores....
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