quinta-feira, fevereiro 23, 2012

Grécia, um protectorado da banca

O “acordo” de ajuste assinado entre Atenas e a troika do euro na madrugada desta 3ª feira, em Bruxelas, passará à história como o mais draconiano e humilhante exemplo da rendição de um país aos mercados em tempos modernos. O que se deliberou é pior até que os termos devastadores do Tratado de Versalhes, de 1919, que colocou a derrotada Alemanha da Primeira Guerra de joelhos, impondo-lhe reparações equivalentes a 3% de um PIB em frangalhos, ademais de autorizar os saques de fábricas e da então poderosa marinha mercante germânica.
O que se decidiu em Bruxelas neste 21 de Fevereiro de 2012 conecta as gerações gregas do presente e do futuro a um implacável sistema de transfusão que as condena a servir aos credores até a morte. Todo o dinheiro do “socorro” acertado (130 mil milhões de euros) - liberto em troca de demissões em massa, corte de salários e pensões, vendas de património público, supressão de serviços essenciais e até de medicamentos à rede pública de saúde - não poderá ser tocado pelo Estado grego.
Depositado em conta bloqueada e supervisionada por um directório do euro, o recurso será destinado prioritariamente ao pagamento de juros aos credores. Troca-se assim um desconto de 53% sobre titulos que enfrentam uma desvalorização no mercado superior a isso, por juros sagrados. Ao aceitar a lógica da coacção, Atenas renunciou ainda à soberania orçamental. A partir de agora, as contas do país passam à condição de protectorado de uma junta da troika sediada fisicamente no coração do Estado grego, com poder de veto sobre decisões de governo.
Dentro de dois meses a Grécia vai às urnas eleger um novo parlamento; a esquerda tem 40% das intenções de voto e mais de um centurião do governo alemão já sugeriu adiar o pleito, para o bem do ajuste. O que se acertou em Bruxelas nesta madrugada foi ainda pior: a troika arrancou de Atenas a promessa de que o acordo está acima do que decidirem as urnas em Abril. Por outras palavras, a elite política grega comprometeu-se também a ceder a soberania democrática aos mercados, tornando inalteráveis os termos do arrocho. Ao reduzir uma nação a uma entidade excretora de juros, expropriada de soberania orçamental e política, Bruxelas, involuntariamente, emitiu a mais pedagógica e contundente convocação à resistência contra a agenda ortodoxa dominante na UE.
De agora em diante fica claro que a escolha é resistir nas ruas ou render-se à servidão financeira.
Saul Leblon (cartamaior)

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2 Comments:

Blogger José Gonçalves Cravinho said...

Na Grécia,o berço da DEMOCRACIA,o DEMO ou seja o Povo,afinal tem sido e continua sendo como que uma espécie de rebanho que é conduzido pelas Élites intelectuais de várias
tendências políticas e pela Seita do biblico-judaico-cristianismo, tal como sucedeu e sucede em Portugal.São afinal os Poderosos detentores do Poder Económico com destaque para a Banca e até com a ajuda da Igreja que conduz o DEMO ou seja o rebanho do Senhor,quem afinal DITA a Política a seguir.

2:33 PM  
Anonymous Anônimo said...

Se a democracia fosse feita para servir os povos e nações ela seria proibida.

Só os tolos acreditam no circo democratico...

4:43 PM  

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