domingo, março 11, 2012

A quebra da Grécia

A activação dos swaps de incumprimento creditício decretada na sexta-feira não fez mais do que assinalar a quebra real e efectiva da Grécia, ainda que por certo a palavra quebra assuste, e com razão, os meios de comunicação que se esmeraram em evitá-la. Preferem empregar o termo “evento de crédito”, como o denomina a International Swaps and Derivatives Association (ISDA). Sem duvida, tal como anunciámos neste post, a quebra efectiva de Grécia se produziu. Mais: a Grécia protagonizou a quebra mais estrondosa de um país desenvolvido.
Durante todo este período de erros e horrores para a economia europeia, o bem elaborado plano da troika (BCE, UE, FMI) permitiu deixar confortavelmente os bancos alemães e franceses. Estes bancos serão os mais beneficiados, dado que receberão a maior parte do dinheiro que se emprestará à Grécia. Como assinalamos em outros artículos, nada deste dinheiro irá para suprir as falhas e carências em educação, saúde e protecção social da Grécia. Irá todo  paraa a banca, e de tal se encarregarão os funcionários do FMI e do BCE que se instalaram em Atenas para vigiar cada euro que entra e sai.
A quebra da Grécia não é um incidente menor e em poucas semanas veremos até que ponto o plano da troika logrou criar um corta-fogo credível que evite a expansão do incêndio até aos países que seguem este rumo e conflito: Itália, Portugal e Espanha. Já advertimos que será em Espanha onde se travará a batalha final pelo destino do euro.
Ainda que durante as últimas semanas se espalhasse o mito de que os credores privados aceitariam perdas significativas da dívida grega, a realidade é que os credores privados não perderam nem um euro, dado que o grosso das perdas recaíram nos credores públicos, quer dizer, nos contribuintes. Para os privados elaborou-se um complexo sistema de pagamentos ao longo do tempo (30 anos) em que a Grécia se vê obrigada a cumprir, à custa de sacrificar os salários e os fundos de pensões. E, se o objectivo do plano era reduzir o défice grego desde 160% do PIB a 120% do PIB até 2020, com a reestruturação da dívida o défice só poderá reduzir-se em 2 pontos, a 158% do PIB.
Isto porque despois de cinco anos de recessão, a economia grega segue moribunda como dão conta todos os indicadores. A produção industrial caiu mais de 7% em Dezembro; o PIB real desceu 18% no último trimestre do ano passado, enquanto o desemprego chega a 21% e o desemprego jovem supera os 50%. O FMI já advertiu que a Grécia necessitará de um novo plano de resgate para 2014-2015, e os mercados financeiros já começaram a especular sobre isso.
A cruel ironia é que as exigências da troika de reduzir os salários reais, destruir os direitos sindicais e as condições laborais e massacrar o sector público mediante cortes e privatizações, não poderá fazer o milagre da Grécia retomar uma senda de competitividade e cresça o suficiente para satisfazer as metas fiscais exigidas pelos líderes do euro. A Grécia encontra-se numa recessão muito profunda e estas medidas não fazem mais que dar mais peso à sua infeliz situação. Não poderá pagar nem sequer os juros da dívida e estes, pela magia do juro composto. terminarão asfixiando o país.
Esta debilidade de crescimento, que durante 2012 tenderá a generalizar-se em vários países europeus, obrigará a deitar por terra os objectivos orçamentais e as exigências do défice impostas pela troika. Todo o pacto fiscal dará um estoiro se os países não lograrem gerar receitas e se a tendência da dívida continuar aumentando. Perante esta situação, ¿que farão os líderes europeus? ¿seguir injectando dinheiro na banca e manter os países em respiração artificial? ¿Quanto tempo mais falta para reconhecer que o sistema financeiro é um sistema zombi? ¿Darão os gregos de beber a cicuta a Mario Draghi e companhia?
(Blogsalmón)

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5 Comments:

Blogger José Gonçalves Cravinho said...

O que eu acho estranho é que nos Noticiários na TV àcerca da Grécia,
ninguém noticia que os ricalhaços gregos depositam os seus milhões na Suíça ou nos offshores.

9:19 AM  
Anonymous Anônimo said...

Ora ...o que farão os líderes da Europa...???.!

......o mesmo que têm feito até agora...durante a semana olham os power-points que os vários comités ou grupos de trabalho da Comissão produzem ás toneladas....e mensalmente encontros de alto nível com boa jantarada...tintole do melhor...gifts aos acompanhantes e foto de família...!!!

3:06 PM  
Anonymous Anônimo said...

E quanto à Grécia...nada de preocupações..há-de aparecer uma bernarda qualquer que vai resolver isto tudo...lá e na Europa...!!

Sempre foi assim...!!!

3:08 PM  
Anonymous Anônimo said...

Por agora ando é muito preocupado...com outras coisas....que afectam a criação de empregos e dão de beber ao gado já sequioso de tanta seca....como a de ter de ir ler um prefácio a um livro ( passe a publicidade...) para me inteirar do magno problema do Primeiro Ministro que não deu a ler primeiro o PEC 4....

3:12 PM  
Anonymous Anônimo said...

Por falar em offshores...como é que se fazia no tempo do Tonito...para mandar a massa lá para fora...???...ou será que ninguém se atrevia sequer a isso..??!!...tal o respeitinho...???

3:15 PM  

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