sábado, maio 23, 2020

NÃO APRENDERAM E NUNCA IRÃO APRENDER

Os saudosos das medidas de austeridade dos tempos de Coelho/Portas dão mostras de grande entusiasmo antevendo os tempos que aí vêem. Sem austeridade, dizem, não é possível ultrapassar a crise económica e orçamental que, com maior ou menor agravamento, seguramente teremos que enfrentar. E, a receita para estes neoliberais é sempre a mesma, “mais austeridade para sair da austeridade” e que “não há alternativa”.  Estamos cansados de ouvir estas profecias e, apesar da derrota política e ideológica que tiveram quando o governo da “geringonça” demonstrou o contrário, continuam cegos em seus credos. Na verdade, será preciso analisarmos as condições em que o país vive depois dos quatro últimos anos da governação de António Costa para compreendermos melhor o significado da situação em que vivemos. Recordemos que Passos Coelho, em sua cegueira ideológica, aplicou aos portugueses (excepção feita aos muito ricos que esses viram as suas fortunas aumentarem) uma austeridade superior em mais do dobro do que aquela que era exigida pela Troika (o Memorando exigia uma austeridade, isto é aumento de impostos sobre o trabalho, cortes em salário, pensões e em subsídios sociais, de cerca 7 mil milhões de euros e Coelho aplicou mais de 15 mil milhões de euros).
Contudo, apesar das devoluções e reversões da governação da “geringonça”, o certo é que apenas foi devolvido nestes últimos quatro anos cerca de metade dos tais mais de 15 mil milhões de euros, o que significa que se se entende por austeridade os rendimentos retirados às famílias relativamente ao que detinham em 2010 vivemos hoje ainda em austeridade. A opção do acerto das contas públicas (saldo orçamental) e a diminuição da dívida pública que se verificaram não deixaram que António Costa e o seu governo fossem mais longe na devolução de rendimentos. Tudo isto significa que não haverá espaço para enfrentar a crise do Covid-19 com mais austeridade, aliás, como ficou provado com a governação de Coelho. A austeridade, isto é, a diminuição do rendimento das famílias, apenas provocará recessão e dificuldades acrescidas. Menor rendimento significa menor Procura no que resulta encerramento de lojas e fábricas e, ao mesmo tempo, mais desemprego e menores receitas do Estado.  Tudo contribuindo para maiores dificuldades quanto ao acerto das contas públicas e ao pagamento da dívida pública. A austeridade não é nem nunca será solução num país com tão baixos salários e pensões. Mais austeridade, em vez de resolver o problema apenas o agravará, entrando num círculo vicioso, dado que mais austeridade resultará em maior recessão e para combatê-la na lógica da austeridade aplica-se mais uma dose no que resulta em recessão agravada e assim sucessivamente.  Não aprenderam e nunca irão aprender.
15.04.2020