domingo, março 09, 2008

Educação – reforma ou contra reforma?


Não é uma reforma mas uma contra reforma para a educação, as medidas políticas que estão a ser implantadas por este governo no nosso ensino.
Os professores são culpabilizados, não por serem menos exigentes, mas por serem exigentes de mais; não por saberem de menos, mas por saberem de mais.

A “raiva” que esta contra reforma sente pelos professores, é seguramente pela dimensão humanista que a maioria dos professores possuem, pela sua abnegação pelo ensino que praticam, pelos valores éticos que transmitem aos seus alunos, por serem intelectuais e não apenas transmissores de conhecimentos desprovidos de valores de cidadania.
O “desprezo” que a ministra manifesta por estes “professorzecos” (como os trata em privado), é por sentir que estes professores possuem uma dimensão humana incompatível com a sua “reforma”.

Uma contra reforma onde não se deseja que os professores sejam educadores mas sim apenas instrutores; onde não se deseja um ensino humanista e universalista mas ao contrário um ensino vazio e alheio aos valores da cidadania, um ensino puramente tecnicista e utilitário.
Um ensino onde não se formem cidadãos mas consumidores. Um ensino onde a socialização do aluno não se faça por padrões éticos e morais, de fraternidade, solidariedade, tolerância, abnegação, mas por uma socialização em que apenas conte o espírito individualista, egoísta e utilitário.

E neste projecto neoliberal do governo Sócrates para o ensino, a avaliação dos professores é apenas um pequeno fragmento do puzle. O Estatuto do aluno, a nova organização da escola, o Estatuto da carreira docente, a nova configuração pedagógica, são as outras peças que o complementam.

É preciso competir, e uma sociedade moderna é aquela na qual só os melhores triunfam; a crise do ensino resulta assim de um problema cultural provocado pela ideologia dos direitos sociais e a falsa promessa de que uma suposta condição de cidadania nos coloca a todos em igualdade de condições para exigir o que só deveria ser outorgado àqueles que, graças ao mérito e ao esforço individual, se consagram como consumidores empreendedores.

É este o pensamento neoliberal.
É esta a “modernidade” que se pretende para o ensino em Portugal.
Retirar a Educação do campo social e político e ingressá-la no mercado para funcionar à sua semelhança; adequar a escola aos mecanismos do mercado.

"Não basta ensinar ao homem uma especialidade. Porque ele se tornará assim uma máquina utilizável, mas não uma personalidade. Os excessos do sistema de competição e especialização prematura, sob o falacioso pretexto de eficácia, assassinam o espírito, impossibilitam qualquer vida cultural e chegam a suprimir os progressos nas ciências do futuro. É preciso, enfim, tendo em vista a realização de uma educação perfeita, desenvolver o espírito crítico na inteligência do jovem." (...) "A compreensão de outrem somente progredirá com a partilha de alegrias e sofrimentos. A actividade moral implica a educação destas impulsões profundas”. (Albert Einstein)

A manifestação dos professores, não foi apenas uma lição de cidadania que os professores deram ao governo.
Foi uma lição de cidadania que deram ao País.



10 Comments:

Blogger /me said...

Muito bem escrito.

8:13 PM  
Blogger joao marques de almeida said...

Bom análise,Ruy a bater nos pontos essênciais. O caminho é este, criar opinião fundamentada.
Joao

11:25 PM  
Anonymous Anônimo said...

De acordo...totalmente...mas digo mais !!!!

...é que os professores foram para a rua porque estão chateados com todo este "faz de conta" que tem sido o governar contra o pessoal !!

....( por questão de facilidade eu chamo pessoal....à malta que habita em Portugal...)

....dizia.me um amigo há dias...sabes pá !!...eu...os meus pais ...os meus avós e os meus antepassados todos desde o A Henriques ....sempre foram portugueses.... agora querem que eu em seis meses me transforme em finlandês...

Alguma coisa não está a bater certo....

....Por outro lado ....pôr gente que nunca aprendeu outra coisa na vida que não fosse intolerância....( se não vejam-se as declarações patéticas e fora de moda de um senhor....lá por Chaves.....que até parecia já estar a declarar a guerra...a uns tipos que nada mais estavam a fazer do que a mostrar-lhe uns lenços brancos....)

......dizia eu o que é que se pode esperar ....????

...isto é rapaziada que ouviu falar em democracia...a propósito dos gregos...e pronto ...não há quem os possa aturar....

...mas uma coisa têm como certo....o poder é agarrá-lo nem que seja à porrada....é preciso é estar ...custe o que custar....

E não escondem....

....ao contrário há um certo partido ....que eu cá sei...que aposta mais no quanto mais para baixo melhor...

Quanto a partidos ...só partidos...partidos e cidadãos...incapacidade dos partidos...etc...que afinal representam uma minoria do pessoal....voltaremos ao assunto...mais tarde!!

11:44 PM  
Anonymous Anônimo said...

Caro Blogger...desculpe mas o amigo também não é meigo....com essa dos " professorecos"...em privado....

Há dias também li qualquer coisa sobre alguém .....que não aguentava a choldra e ....ia mas era até Paris beber umas champanhadas...

...a choldra é lixada....

11:57 PM  
Anonymous Anônimo said...

Caro amigo....digo-lhe com sinceridade...não percebo nada de governance ( à americana....vindo do inglês...como se fala agora....)

......mas se eu tivesse 80 ou 100 mil tipos a dizerem-me que vá dar uma volta...bom.!!!..pelo menos pensava duas vezes ( duas vezes ....dadas as minhas dificuldades....claro !) por que passeio deveria ir....

12:02 AM  
Anonymous Anônimo said...

Cá por mim é assim....o pessoal quer pôr os professores a aprender em vez dos alunos....

NÃO PODE SER !!!

E tudo é muito fácil oq ue há a fazer:

1º - Chamar escola ás actuais instalações;

2º Pôr lá os alunos e chamar-lhes alunos

3º Pôr lá professores e chamar-lhes professores.

Prazo do projecto - 10 anos

( mesmo assim não está mal ..."o periodo experimental" depois do 25 A já dura há 33 anos....)

12:10 AM  
Blogger José Lopes said...

Quando um ministro acha necessário vir dizer que o seu partido é que lutou pelas liberdades, algo vai tremendamente mal neste cantinho. Quando se é ou foi, não se sente a necessidade de apregoá-lo aos sete ventos, porque os outros também têm inteligência e memória.
Para dizer a verdade, não tenho memória nenhuma da actuação de Santos Silva anterior ao 25/4, mas se ele o diz...
Excelente artigo.
Cumps

6:41 PM  
Anonymous Anônimo said...

Ora meu caro ....antes do 25 A quem tinha massa ia até ao Quartier Latim...revolucionar com o Sena á vista....e uns Flut Champagne....em trabalho de férias, claro....!!!

....Ah!....e jeans....ou couro....à Johny Haliday !!!!


...os outros pouco lutadores e sem dinheiro .....para jeans nem couro ...e para comer só na cantina......andavam por aí a estudar e a trabalhar nas Finanças...nos Tribunais....nos bancos...na Segurança Social( que qual novidade começou a abrir balcões por aí)....empregado de escritório nalgumas multi ....de automóveis que na altura era um maná...a mão de obra )...etc....etc...etc....tudo para ver se iam para a tropa com o 5º ano ( Sargento miliciano...) ou 7.º ( Oficial miliciano....o que já era um luxo....)

EHmmmmm...que esforço...carago...tudo em nome do antifascismo.....

Meu caro...o terreno é tão apertadinho que a gente conhece-se a todos.....

7:08 PM  
Blogger Pata Negra said...

Pensando bem, é melhor continuarem a ver apenas 60 comunistas!
A revolta ainda só está na panela, ainda é preciso acender o fogão e cozinhá-la!

11:09 PM  
Anonymous Anônimo said...

Atenção que foi criada a escola alternativa das «novas oportunidades», onde em três meses é entregue um diploma do 12º ano,sem estudo de alguma matéria,apenas com as (pseudo)competências adquiridas pelo exercício de uma vulgar profissão e a entrega(ás vezes plágio pela internet) de uns trabalhos feitos...em casa!Donde os actuais alunos da escola tradicional se reprovarem, um dia próximo, quando trabalharem, tem o diploma assegurado.Não há assim respeito pelos professores, que se vêem desautorizados e potencialmente no desemprego.E também não há respeito pelos bons alunos, cujas melhores competências não são reconhecidas.E no Superior público, os prof. são agora obrigados a passar toda a gente e fazer um simulacro de aulas e exames,senão não tem alunos e não tendo alunos...não há verba para ordenados!
Tudo por causa das más estatistícas nacionais que afastam o investimento estrangeiro!Faz lembrar os pseudo exames da terceira classe da primária nos tempos do Estado NOvo, para reduzir as vergonhosas taxas de analfabetismo!

2:29 PM  

Postar um comentário

<< Home