segunda-feira, outubro 01, 2012

As aves de rapina aplaudem a Espanha moribunda





Na tarde da sexta-feira 28 de Setembro o Banco da Espanha – o Banco Central dos espanhóis – apresentou o relatório de uma auditoria feita por uma empresa norte-americana sobre a situação bancária do país. O relatório indica o volume de dinheiro necessário para salvar os bancos espanhóis: 53 bilhões e 745 milhões de euros. 
Um dia antes – quinta-feira, 27 de Setembro – o governo de Mariano Rajoy havia divulgado a sua proposta de orçamento enviada ao Congresso. Aumento de impostos, novos cortes, mais medidas restritivas.
 As duas notícias – novos cortes drásticos no orçamento e mais bilhões para salvar bancos quebrados – receberam aplausos entusiasmados da Comissão Europeia, do Eurogrupo, do Banco Central Europeu, do FMI. Todos disseram, em uníssono, que são passos importantes para conter o déficit do governo e sobretudo para o reforço, a viabilidade e a confiança no sector bancário do país. O presidente do Eurogrupo, Jean-Claude Juncker, chegou a expressar sua satisfação ao constatar que as necessidades da banca espanhola são inferiores aos 60 bilhões de euros. É que o Eurogrupo havia previsto 100 bilhões, e a urgência ficou bem abaixo desse valor. Há, diz ele, uma cómoda margem de segurança. 
Não encontrei menção alguma a outros dados que essas notícias irão provocar. Por exemplo: o desemprego, que ronda a casa dos 25% e é o maior da Europa, poderá chegar facilmente a 27% no ano que vem. A retracção do PIB, que segundo o governo deverá ser de 0,5%, seguramente será o triplo. 
Que país é capaz de enfrentar, de uma vez só, tantas crises desse tamanho? O sistema bancário está em crise, a fuga de capitais anda na casa de bilhões de euros, as contas públicas estão em estado crítico, o governo é governado do exterior e desprezado pela população. 
Lá fora, nas ruas e nas praças, todos parecem saber o que não sabe Rajoy, não sabe o seu governo, não sabem os defensores dessa política suicida aplicada a ferro e fogo com o pseudónimo de austeridade e o aplauso dos matadores do futuro: que quanto mais de aplica essa receita, mais se mata o enfermo. Que enquanto se salvam bancos e especuladores, num ciclo tão vicioso como obsceno, enterram-se gerações.
 Eric Nepomuceno
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