Estamos a viver um golpe de estado (1)
(1) Os objectivos da Troika e do governo PSD/CDS
Aguardava-se, e na verdade tal está
a verificar-se, que à medida que se aproximasse o termo do memorando da Troika,
as forças que apoiaram a sua intervenção, nacionais e estrangeiras, nacionais -
o PSD, CDS e o governo e estrangeiras - o BCE, o FMI e a Comissão Europeia,
sim, dado que o PS se viu forçado a assinar o memorando mas não o terá desejado
(recorde-se as tentativas de Sócrates, através dos sucessivos PECs, para o
evitar) enquanto o PSD e o CDS não só o assinaram como o desejaram, dele
fazendo até o seu próprio programa de governo.
A direita neoliberal portuguesa compreendeu
bem, no que se traduzia o memorando e quais os seus os objectivos últimos. Cedo
se apercebeu que o plano de ajustamento da Troika perseguia uma mudança estrutural do modelo social
existente em Portugal desde o 25 de Abril de 1974. E, apostou em aproveitar a
oportunidade histórica que lhe caía nos braços, mostrando-se desde logo mais
troikista que a própria troika (em 2012 enquanto o memorando da Troika exigia
medidas de consolidação orçamental no valor de 5.073 milhões de euros, o
Governo decidiu agravá-las para um valor de 9.042,3 milhões), pensando que uma
aplicação de shock, “custe o que custar” e o mais rapidamente possível, poderia
tornar mais difícil a irreversibilidade dos seus, desde há muito sonhados planos.
Lembremo-nos das palavras de Passos Coelho, que não poderiam ser mais claras,
logo no início do seu mandato - "independente
daquilo que foi acordado com a UE e o FMI, Portugal tem uma agenda de
transformação económica e social. Nesse sentido, o Governo incluiu no seu
programa não apenas as orientações que estavam incorporadas no memorando de
entendimento como várias outras que, não estando lá, são essenciais para o
sucesso desta transformação do país”.
Mas que mudança estrutural, que
novo modelo económico e social pretende a direita portuguesa? Deseja um novo
modelo económico e social, uma transformação social com a destruição do estado
social, com a diminuição permanente dos salários e das pensões, com a
degradação e encarecimento das funções sociais do Estado, com a delapidação do
património do Estado. Tudo isto, por um único objectivo - a transferência de
rendimentos da classe média e dos trabalhadores para a uma nova classe,
detentora do capital financeiro, constituída pelos banqueiros, grandes
empresários e gestores das grandes empresas. Numa nova divisão da riqueza
gerada no país agora completamente favorável ao capital financeiro e às grandes
empresas (financeiras, industriais e de Serviços) que se apropriam deste modo
dos recursos financeiros até aqui destinados às funções sociais do Estado.
Na verdade, a “construção” das
condições mais favoráveis e indispensáveis para gerar a oportunidade para a
concretização deste plano, configura-se como um verdadeiro golpe de estado.
Começou com a vertiginosa subida dos juros da dívida portuguesa nos mercados
financeiros, fomentada pelas empresas de Ratting e fomentada também pela
posição de inacção, de deserção, de abandono consciente do BCE, deixando os
países à sua sorte e indefesos perante a voracidade dos mercados financeiros. Enquanto
o BCE, socorria a banca europeia, cedendo-lhe 529.531 milhões em Dezembro de
2011 e mais 489.200 milhões em Fevereiro de 2012 (quase o triplo dos
financiamentos somados dos países intervencionados, Grécia, Portugal e Irlanda),
a juros inferiores a 1%, exigia aos países intervencionados juros de 3 a 4% a
troco de elevadíssimos custos sociais. Com o corte do financiamento, provocado
pelos mercados financeiros, o país viu-se forçado a aceitar as imposições da
Troika, que além dos objectivos políticos de transformação do modelo social
visavam também, e num primeiro momento foi este o seu principal objectivo,
proporcionar meios financeiros de modo a que o país continuasse a pagar os
juros e vencimentos da sua dívida aos banco alemães, franceses à Banca europeia,
então com um avultado pacote de dívida pública portuguesa. Bancos que se encontravam
em grandes dificuldades financeiras. Aquilo que foi “vendido” aos portugueses
como sendo uma “ajuda” financeira da Troika ao país, foi antes e sobretudo uma
ajuda à Banca europeia. Alias, o economista assessor de Angêla Merkel, Jürgen
Donges, reconheceu-o claramente durante um debate no Parlamento alemão.
Com o financiamento assegurado
pela Troika, a Banca europeia tratou rapidamente de se desfazer dos títulos de
dívida portuguesa, conservando hoje, uma pequeníssima parcela face à que
detinham antes da intervenção. “Os
credores privados internacionais terão passado de uma situação, em 2008, em que
detinham 75% da dívida portuguesa, para uma outra, em 2014, em que deterão
apenas 20%”. Os credores actuais da dívida portuguesa são a Troika (FMI,
BCE e UE) com cerca de 45%, a banca portuguesa com 35% e os credores
estrangeiros com 20% sendo que apenas 2% da dívida de curto prazo é detida por
bancos não residentes.
Na realidade, com a intervenção
da Troika deu-se uma mudança de credores. A Banca europeia viu-se livre da
dívida portuguesa passando os riscos para a Troika que, ao contrário da Banca,
possui armas capazes de forçar Portugal ao cumprimento da sua dívida, através
das políticas de austeridade e de uma vigilância constante sobre as suas politicas
económicas e orçamentais.
As politicas impostas pela Troika a Portugal não visam outra coisa senão garantir o pagamento da dívida aos credores internacionais e, por acréscimo, provocar uma mudança do modelo social e económico do país.
As politicas impostas pela Troika a Portugal não visam outra coisa senão garantir o pagamento da dívida aos credores internacionais e, por acréscimo, provocar uma mudança do modelo social e económico do país.
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