quarta-feira, fevereiro 04, 2015

O Syriza e a austeridade sem fim

Eu compreendo a irritação indisfarçável e o mal-estar do governo e dos seus seguidores perante as novas políticas do governo grego. Colocar em causa, como estão a fazer os gregos, o modelo único, a austeridade sem fim, impingida aos portugueses como a única alternativa para a crise é coisa que os incomoda profundamente. É por esta razão que eles se desdobram em lançar anátemas sobre o governo grego.
Creio não ser correcto afirmar-se que o Syriza atenuou o discurso ou ter já defraudado o seu eleitorado. Pelo contrário, o Syriza repôs o salário mínimo nos valores que antecederam os cortes, parou com as privatizações, repôs a energia eléctrica a mais de 300.000 gregos, retomou as emissões da televisão grega, recolocou funcionários públicos que tinham sido despedidos, iniciou a renegociação da dívida pública e deu acesso gratuito ao serviço nacional de saúde aos desempregados que com os cortes da Troyca passados três meses de desemprego ficavam sem esse acesso.
Em campanha eleitoral o Syriza sempre afirmou não querer sair do euro mas querer renegociar a dívida, exactamente o que está a fazer. Não corresponde portanto á verdade dizer que o Syriza suavizou o discurso. Pelo contrário, está a fazer precisamente o que prometeu - parar com a austeridade sem fim e renegociar a dívida.
Passos Coelho e Paulo Portas devem espumar de raiva ao verem os seus homólogos serem recebidos cordialmente por seus homólogos em Roma, Londres e Paris.
Pouco imposta a forma como os gregos estão a renegociar a dívida. O que importa é que essa renegociação resulte num pagamento da dívida (coisa que o Syriza nunca negou) compatível com o nível de crescimento económico grego. O que realmente é importante é que o pagamento da dívida não inviabilize o crescimento económico e assim não transporte a Grécia para o beco sem saída em que se encontrava.