Da fraude ao golpe de estado
Foi a crise financeira nascida nos USA que inundou de activos tóxicos os bancos da Alemanha, da França e a generalidade os bancos europeus, criando-lhes fortíssimas dificuldades que os obrigou a cortarem o financiamento aos bancos nacionais. A falta de liquidez assim originada transformou uma crise inicialmente financeira numa crise generalizada na economia (falta de crédito às empresas) que por sua vez originou uma profunda crise social (aumento de desemprego…,). O governo prestou-se a socorrer os bancos em situações desesperadas, neles injectando dinheiro do orçamento do estado, dos nossos impostos, verbas que hoje são desconhecidas, mas que aumentaram o défice público e a dívida pública para valores altíssimos.
Em 2007 a dívida pública portuguesa não ultrapassava os sessenta e nove por cento do PIB (hoje está em cerca de 125%). O que despoletou os aumentos brutais da dívida, nos anos que se seguiram, foram ocasionados directa e indirectamente pelas dificuldades da banca. Não foi a dívida pública que dificultou a “vida” aos bancos, como se quer fazer crer, mas precisamente o contrário, foram os bancos os principais responsáveis, directa e indirectamente pela aumento vertiginoso da dívida. Ao exigirem apoios directos do Estado, pelo estancamento de crédito à economia o que originou uma carga adicional de despesas do Estado, mais desemprego, mais despesa social, uma economia em declínio traduzindo-se em menos receitas fiscais.
Com o arrastamento da crise, com os bancos a não cederem crédito às empresas, paralisando assim a economia, com o encerramento de empresas daí recorrente e o aumento do desemprego, com menores receitas fiscais, o estado aumentou muito a sua dívida. Foi neste momento que a oligarquia financeira europeia considerou ter chegado a oportunidade para reverter a situação a seu favor e tentar aniquilar todas as conquistas sociais que fora obrigada a ceder aos trabalhadores durante os “gloriosos 30 anos” do pós-guerra.
A chamada, erradamente, crise das “dívidas públicas”, não resulta do endividamento dos países como se pretende fazer crer, ainda que tal constitua um problema, mas da especulação financeira dos mercados financeiros. Os especuladores passaram a encarar o mercado da dívida pública como um outro qualquer mercado de commodies. E, começaram a especular nos países do euro, porque a própria estrutura da UE, tal como se encontra, lho permite. Isto é, os países da UE estão prisioneiros e à mercê dos mercados, ao não possuírem moeda própria e capacidade de emitir moeda, ao não terem meios de controlo da sua política monetária. E, não há estrutura comunitária que possa substituir ou compensar aquele controlo monetário nacional. O BCE, que poderia e deveria substituir os bancos centrais nacionais nessa tarefa não o faz, pelo contrário, apoia objectivamente tal especulação ao emprestar aos bancos mais de um bilião de euros a juros de 1% no princípio do ano (sem quaisquer contrapartidas) e ao recusar-se a ceder dinheiro aos países em condições semelhantes. Claro que os bancos utilizam esse dinheiro para compra de dívida pública dos países em dificuldades como Portugal, Espanha, a juros de 4,5,6% ou mais. O negócio da dívida dos países, é hoje o principal negócio da banca.
E, não se pense que esta actuação do BCE, esta actuação da Comunidade Europeia, da senhora Merkel e companhia, tem o lado virtuoso de correcção de um certo despesismo dos países periféricos e não corresponde de facto, a uma estratégia muito bem ponderada. Os juros altíssimos que os países são obrigados a pagar obriga-os a cortar nas funções sociais do Estado, Saúde, Educação, a vender o seu património (mas apenas as empresas lucrativas, Correios, Águas, Telecomunicações, Energias, Bancos), a suportar os custos do desemprego, a reduzir salários (directa ou indirectamente através das reformas laborais), e a reduzir a influência dos sindicatos.
É esta a estratégia da oligarquia financeira que controla a Europa que, aproveitando-se da crise financeira de 2008, através deste mecanismo do negócio da dívida pública, tenta destruir todas as conquistas sociais democráticas obtidas nas décadas que se seguiram à II Grande Guerra. Deram dinheiro fácil aos bancos para que sejam eles próprios, nos seus próprios países, os agentes e carrascos desta sombria conspiração.
Assistimos neste momento a uma verdadeira tentativa de golpe de estado global. Não é compreensível que ao fim de quatro anos de crise não tivesse sido elaborado um plano de emprego com fundos suficientes para tornar-se eficaz de modo a inverter este ciclo infernal de défice – cortes - desemprego…, enquanto se entregou centenas de milhares de milhões de euros públicos aos bancos e a especuladores de todas os tipos, àqueles que sem qualquer dúvida provocaram esta crise, que deixou de ser uma grande fraude para converter-se num golpe de Estado global contra a Democracia e os direitos democráticos.
9 Comments:
Excelente análise...volto mais tarde...!
Caro Blogger....
...será que ouvi bem..??!!...uma entrevistada comerciante...na TV...referindo-se à miséria crescente de pessoas que no seu estabelecimento para comprar pão e outros produtos só trazem moedas que ela aceita e que depois para depositar no banco este lhe cobra três euros e meio só para contar as ditas peças...???
Ah!!!...a minha boca já nem consegue fechar de tal modo se abriu...!!!
..isto é o que se chama iniciativa privada ...e mercado a funcionar...!!!
Pelo que leio por aí ...por tudo que é jornal...TV...rádio...comentário... bocas... e outras coisas que não posso dizer....creio bem que o Tribunal Constitucional lá vai ter que dizer outra vez que o Orçamento ...é inconstitucional por violação das regras de proporcionalidade ...de confiança e de equidade...
( enorme acréscimo fiscal...cortes nas reformas.....corte de uma subsídio ...- de férias ou de Natal...não se sabe..-apenas a funcionários públicos e pensionistas ( 0,90% ) ...
Anotemos para memória futura....
Há fenómenos muito estranhos neste Mundo...a'tão n'am é que andamos aqui feitos asnos ...curvados com o argumento de que a Troika é que manda ....em tudo que seja desgraça...cortes ...etc....e o Presidente da Comissão Europeia, Dr Barroso... não veio dizer que afinal os responsáveis são os governos locais ...???....que eles por lá não têm nada a ver com o que por cá se decide...??
Não será que isto amanhã não irá dar pró torto...???
A Troika mandou cortar Concelhos e Freguesias....
...e a malta ...toca de cortar freguesias...( não sei quantos por cento ...)...e chama a isto Reforma Administrativa....
Coitados dos Administrativistas...do antigamente que se fartaram de estudar....e quem se lixou ainda foi o D. Carlos...
Gosto de ouvir a nossa rapaziada a anunciar aos ventos que assumem a responsabilidade.... ( seja do que fôr...)
...no final ....só o Luís assumiu... os outros assobiavam pró lado...
Há por aí ...engravatados e bem falantes..quem defenda os cortes cegos...
...faz lembrar aí uma noite há uns anos ...( não muitos..)...foi tudo raso...
Admirou-se pela questão da inconstitucionalidade...???....
....Bom...será que o..." enorme aumento de impostos"...um " terramoto fiscal"..." bomba atómica"..." assalto à mão armada "...e ..."situação absolutamente insuportável"...pode deixar de ser considerado inconstitucional...???!!!
Aproxima-se a luta pelas autárquicas...
...estou para ver como é que o PSD vai justificar a sua política de comunização levada a efeito a nível nacional...!!!
....e como é que o PCP vai reagir a esta mesma comunização da sociedade...!!!...com a luta por uma via de liberalização e de garantia da iniciativa privada, dos grandes grupos monopolistas reaccionários enfeudados ao capital financeiro e de vanguarda ao serviço das grandes massas populares e classes profissionais mais desfavorecidas...com garantia das amplas liberdades democrática....sempre ao serviço do Povo..???
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