“Refundar” o 25 de Abril
Mostraram-se perplexos e revoltados os deputados da oposição depois de terem ouvido repetidamente dos governantes e dos deputados da maioria, aquando da discussão do Orçamento na Assembleia da Republica, a afirmação de que “Portugal está melhor hoje do que quando iniciaram a governação”. Na verdade, desde que o Governo de Passos Coelho tomou posse verificou-se:
- um aumento de desemprego de forma galopante, passou de 10,8% em Dezembro de 2010 para 15,7% em Outubro de 2012;
- uma diminuição acentuada dos salários;
- igualmente se diminuíram as pensões;
- um aumento de impostos sobre os trabalhadores por conta de outrem;
- um aumento dos custos das funções sociais do Estado, Saúde, Educação, etc;
- uma acentuada redução das funções sociais do Estado na Saúde, Educação, etc;
- uma subida da carga horária dos trabalhadores;
- uma nova legislação laboral que desfavorece os trabalhadores e facilita o despedimento;
- a privatização do património do Estado, das empresas estatais de serviços públicos, mesmo os considerados essenciais para a sociedade (água, luz, educação, saúde, correios, Ana etc.).
- que a dívida pública subiu de 93,3% (do PIB) em 2010, para 107% em 2011 (um aumento de 23,2 mil milhões de euros) e para 125% em 2012;
- um aumento do défice publico real para cerca de 7% (do PIB) em 2012;
Enfim, todo um cardápio de malfeitorias e desastre económico que lançaram o país numa espiral recessiva e os cidadãos e as famílias num acentuado empobrecimento, num acentuar das desigualdades sociais, lançando na miséria e na pobreza milhares de portugueses.
Contudo, creio não haver razões para se ficar perplexo. Todo este cardápio neoliberal faz parte do chamado “ajustamento” imposto a Portugal e que o governo se gaba de executar para “alem da troika”. Na lógica neoliberal, o “programa de ajustamento” está a ser executado com eficiência, merece os elogios dos credores e como tal, nesta lógica neoliberal, “Portugal está melhor hoje que há um ano”. Pouco importa a estes dogmáticos, maníacos e obsessivos executivos neoliberais que o país fique completamente “destroçado”, a miséria alastre nas famílias e a exploração sobre o trabalho regresse de modo selvagem e que a Saúde e a Educação deixem de ser obrigações sociais do Estado.
É que, os princípios da Igualdade, Fraternidade, Liberdade, o direito à Educação e à Saúde, o desenvolvimento e a solidariedade social, até aqui (1980) consagrados pelo capitalismo produtivo não fazem parte dos valores deste novo modelo de capitalismo – o capitalismo financeiro que se tornou dominante e para quem tais valores não passam de “pieguices” de quem tem vivido “acima das suas possibilidades”.
Para o neoliberalismo “ a sociedade teatraliza em todas as instâncias a luta pela sobrevivência. Somente os fortes sobrevivem cabendo aos fracos conformarem-se com a exclusão natural. Esses, por sua vez, devem ser atendidos não pelo Estado, que estimula o parasitismo e a irresponsabilidade, mas pela caridade feita por associações e instituições privadas, que amenizam a vida dos infortunados. Qualquer política de assistência social mais intensa atira os pobres nos braços da preguiça e da inércia. Os ricos são a parte dinâmica da sociedade. Deles é que saem as iniciativas racionais de investimentos baseados em critérios lucrativos. Irrigam com seus capitais a sociedade inteira, assegurando sua prosperidade” ou ainda “os homens não nascem iguais, nem tendem à igualdade. Logo, qualquer tentativa de suprimir a desigualdade é um ataque irracional à própria natureza das coisas. Deus ou a natureza dotou alguns com talento e inteligência mas foi avaro com os demais. Qualquer tentativa de justiça social torna-se inócua por que novas desigualdades fatalmente ressurgirão. A desigualdade é um estimulante que faz com que os mais talentosos desejem destacar-se e ascender ajudando dessa forma o progresso geral da sociedade. Tornar iguais os desiguais é contraproducente e conduz à estagnação. Segundo W. Blake: "A mesma lei para o leão e para o boi é opressão!".
É para este modelo selvagem e egoísta de sociedade, é para este retrocesso social, que o governo e a troika querem atirar Portugal. Trata-se de um verdadeiro golpe de estado que estes governantes zombies e ao serviço dos agiotas querem impor aos portugueses.
Urge “refundar” o 25 de Abril.
Pela força se necessário.
3 Comments:
Belo texto com a profundidade a que me habituaste à longos anos, reconheço a tua coerência, obrigado.
Este Blake...é esperto !!!...Deus o guarde...bem guardado...de preferência numa gaveta...
Bye...bye que hoje é dia de finados...
...esperemos que não acabem com os finados...!!??
Caro Rui,
Finalmente dás notícia. Espero que te encontres bem nesse paraiso dos Açores. Por aqui as coisas estão deveras sombrias.
abraço,
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