Estamos a viver um Golpe de Estado (2)
A direita portuguesa, o PSD
(refém da sua ala neoliberal) e o CDS, abraçaram desde o início (aquando da
apresentação do PEC (IV) na vigência do anterior governo) a intervenção
estrangeira da Troika. Logo depois, ganhas as eleições legislativas, escolheram
um antigo gestor do BCE para ministro das Finanças de modo a acautelar a boa
aplicação das medidas impostas ao país. O governo PSD/CDS, identificou-se desde
logo com os desejos e objectivos da Troika, nunca questionando qualquer medida
política mais recessiva imposta pela Troika e chegando até a considerar o
memorando da Troika como o seu programa de governo. E não contente com isto,
ampliou severamente o alcance recessivo e anti-social das medidas inscritas no
memorando inicial, indo “além da Troika”, mesmo quando com a sua aplicação ao
longo de 2011, 2012 e 2013, se verificou o completo desastre social e económico
em que o país mergulhava. Era a doutrina do “custe o que custar”, do “além da
Troika”, do “aguenta, aguenta”, agora um pouco votada ao esquecimento dada a
proximidade das eleições.
Com a aproximação do termo do
memorando assinado com a Troika, surgem múltiplas interrogações quanto ao
futuro que aguarda o país. O governo e a Troika têm consciência que quer a transformação do modelo económico e social
por que se têm batido ao longo da intervenção quer a garantia do pagamento da dívida pública, estão longe de se
encontrarem asseguradas. E, é neste enquadramento, que surge agora um novo
relatório do FMI com novas e continuadas medidas de austeridade para 2015 e, em
simultâneo, novos e insistentes apelos ao consenso com o PS, em estratégia
elaborada e consensual entre o governo e a governação da União Europeia; um
apelo ao consenso anunciado em Lisboa pelo governo e em Bruxelas pela comissão
europeia.
É uma falsa questão o discurso
relativo a uma saída com programa
cautelar, uma saída limpa ou uma saída com um novo resgate. Mantendo-se o governo
em funções, e não há razão para julgarmos o contrário, quem determinará o “modo de saída” ou o futuro que aguarda
o país, será sempre e unicamente a Troika. O governo, como sempre, nela
depositará todas as decisões. E, assim sendo, enquanto não se encontrarem
perfeitamente consolidados os objectivos da Troika - garantia de pagamento da dívida
e transformação social e económica do país - jamais cessará a
intervenção estrangeira. O modo como ela se apresentará (de modo cautelar,
limpo ou sujo) está apenas dependente das garantias que a Troika julgue serem
necessárias e suficientes. E neste trama, o BCE prestar-se-á a dois distintos
papéis, consoante estejam ou não garantidos os seus intentos – ou compradores
da dívida em mercado secundário se considerarem como aceitáveis as garantias
oferecidas pelo governo ou ausentes do mercado secundário e sujeitando o país à
voracidade da especulação dos mercados financeiros se tais garantias forem
consideradas insuficientes, isto é, manipulando e jogando a seu gosto com o
valor dos juros da dívida do financiamento da república portuguesa.
O país encontra-se assim numa
situação desesperada. Chantageado e numa lógica de completa submissão como a
perfilhada pelo governo. Estamos na verdade com a corda na garganta e o nó vai
sendo mais ou menos apertado consoante formos menos ou mais obedientes. E, esta
será uma situação que perdurará enquanto não houver um governo que questione a
nossa permanência no euro. Porque não será a curto ou a médio prazo que se verificará
uma alteração profunda das políticas no quadro da União Europeia. É por esta
razão que não se compreende os motivos que levam algumas forças da esquerda a
não equacionarem a nossa saída do euro. Aguardam, não sei até quando, por uma
mudança política na União Europeia, esquecendo-se que “ a médio ou a longo prazo estamos todos mortos”.
O consenso com o PS, representaria
uma ajuda preciosa para a consumação do projecto anti-social de transformação
do modelo social vigente desde a revolução de Abril.
Um outro argumento das forças da direita neoliberal, que vem sendo propalado neste últimos dias, tem por objectivo captar as simpatias dos portugueses indecisos, perante a ineficaz e pouco esclarecida afirmação de políticas alternativas do PS. O discurso “ não queremos deitar a perder o que já alcançamos” para que “ os sacrifícios não se tornem inúteis”, obtém seguramente alguma aceitação entre alguns portugueses mais indecisos e desarmados pela ausência de uma credível política alternativa, e faz parte da tentativa de consolidação das medidas anti-sociais impostas, redução dos salários e pensões, cortes na Educação, na Saúde e na Protecção Social.
Um outro argumento das forças da direita neoliberal, que vem sendo propalado neste últimos dias, tem por objectivo captar as simpatias dos portugueses indecisos, perante a ineficaz e pouco esclarecida afirmação de políticas alternativas do PS. O discurso “ não queremos deitar a perder o que já alcançamos” para que “ os sacrifícios não se tornem inúteis”, obtém seguramente alguma aceitação entre alguns portugueses mais indecisos e desarmados pela ausência de uma credível política alternativa, e faz parte da tentativa de consolidação das medidas anti-sociais impostas, redução dos salários e pensões, cortes na Educação, na Saúde e na Protecção Social.
Porque, o que para o governo “não se deve deitar tudo a perder” é precisamente
tudo aquilo que constitui uma perda de rendimento da maioria da população. O
que “não se deve deitar tudo a perder” é o empobrecimento das famílias e da
generalidade dos portugueses.
Os cortes, na Educação, na Saúde,
na Protecção Social, de modo indirecto, e com maior evidência a redução dos
salários e das pensões de forma directa, constituem uma redução dos rendimentos
das famílias e dos cidadãos. E é este empobrecimento
efectivo, ao que chamam “ajustamento”,
que o governo diz ser tão importante e meritório e que não devemos “deitar a perder” estes cortes de
rendimento que “já alcançámos”. Com
esta manobra de gabarolice trágico-cómica do governo relativa ao grande feito
do empobrecimento, o que deverá merecer dos portugueses o maior asco e repúdio,
tenta o governo fazer esquecer os dados económicos que traduzem um total
falhanço das políticas de austeridade em termos económicos e orçamentais. A
dívida pública que era de 93,5% do PIB em 2010 é hoje de 129,4%, enquanto o
valor do PIB que era em 2010 de 170.864 milhões de euros recuou para 162.705
milhões de euros em 2013. Em apenas três
anos, de 2010 a 2013, a dívida pública subiu a uma média de cerca de 15.000
milhões de euros ao ano enquanto a nossa riqueza recuou em mais de 8.000 milhões de euros. Para se ter uma ideia
do valor do endividamento ao estrangeiro alcançado nestes três anos pela
governação PSD/CDS, poder-se-á dizer que cada
português, dos dez milhões que somos, se encontra hoje mais endividado em cerca de 4.500 euros do que apenas há três anos atras. O total falhanço do governo está
aqui bem espelhado e só a débil oposição do PS, preso em suas contradições e
incapaz de apresentar uma alternativa clara e credível, torna possível que o
governo transforme este retundo falhanço num “respeitável sucesso”.
4 Comments:
Excelente artigo, um pouco grande para o que estamos habituados.
Mas gostei
Excelente artigo, um pouco grande para o que estamos habituados.
Mas gostei
Muito bom... excelente análise....estou de acordo...
E esta...do DN de hoje 27Fev2014...."doente das Caldas recusado em Lisboa, Loures e Leiria morre em Abrantes..."
Claro que para resolver o problema....já vai por aí grande discussão que é a de saber se se tratou de uma recusa ou de uma transferência...
Olhe caro Blogger...faça os possíveis por não ser doente....senão está lixado...!!!
Postar um comentário
<< Home