É a luta de classes, estúpido
O que está a acontecer em Portugal como no resto da Europa é
uma nova dinâmica social e politica. Estamos a viver uma mudança estrutural do
capitalismo. Até “agora” prevaleceu o chamado capitalismo produtivo, que desde a última guerra tinha estabelecido um “pacto
social” entre o capital e o trabalho. Estávamos na altura em que se entendia a
escola pública e a saúde pública como condição indispensável ao seu próprio
desenvolvimento (assim nasceram os chamados estados
sociais) e uma política de salários que acompanhava os ganhos de
produtividade e também como políticas de base, uma regulação laboral e uma regulação
financeira.
As sociais-democracias e as democracias cristãs nasceram assim
e defendiam tais ideais, os ideais de uma, digamos “direita clássica”.
Com o domínio do capitalismo financeiro, com a desregulação
financeira (as trocas financeiras mundiais por dia são hoje mais de sessenta
vezes superiores ao valor das trocas mundiais de produtos) nasceu uma nova
ideologia social – o chamado neoliberalismo. Aqui, os interesses do capital financeiro são totalmente
diferentes do capital produtivo que
nos regia até agora. Acabou o “pacto social” entre o capital e o trabalho e
assim pretende-se aniquilar tudo o que tenha natureza pública, retirar o estado
de tudo o que é público. Na escola, na saúde, na protecção social e ao mesmo
tempo tornar as relações laborais totalmente desreguladas e ao serviço dos mercados. Aliás tudo fica ao serviço dos
mercados. Retorna-se ao século XIX,
ao salve-se quem puder, à selvajaria de um capitalismo sem “consciência social”.
Regride-se a uma “economia que mata”, em que se ampliam as desigualdades
sociais, como diz o Papa Francisco.
Muitos partidos socialistas e democratas cristãos vêm
adoptando como suas estas políticas neoliberais. Que geram desigualdades sociais,
desemprego e menos crescimento económico. Só que, as tensões sociais que tais
políticas geram, agudizadas que foram pelas consequências da crise financeira
de 2008, obrigam os partidos da área social-democrata a repensar e a rever os
seus alinhamentos. Creio que é o que estamos a assistir por essa Europa. Creio
que é também o que se passa neste momento com o PS.
António Costa pretende cortar com as políticas neoliberais da
coligação PÁF e voltar aos seus verdadeiros ideais social-democratas. Com a
ajuda dos outros partidos da esquerda que como ele, se manifestaram e
manifestam contra as políticas neoliberais de uma direita que se tornou
radical. Pretende-se, como por ele foi afirmado inúmeras vezes em campanha eleitoral,
romper com tais políticas e criar uma alternativa à austeridade que é a face mais
visível das políticas neoliberais. Romper com o ciclo da “MAIS AUSTERIDADE PARA
SAIR DA AUSTERIDADE”.
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