sexta-feira, novembro 06, 2015

É a luta de classes, estúpido


O que está a acontecer em Portugal como no resto da Europa é uma nova dinâmica social e politica. Estamos a viver uma mudança estrutural do capitalismo. Até “agora” prevaleceu o chamado capitalismo produtivo, que desde a última guerra tinha estabelecido um “pacto social” entre o capital e o trabalho. Estávamos na altura em que se entendia a escola pública e a saúde pública como condição indispensável ao seu próprio desenvolvimento (assim nasceram os chamados estados sociais) e uma política de salários que acompanhava os ganhos de produtividade e também como políticas de base, uma regulação laboral e uma regulação financeira.
As sociais-democracias e as democracias cristãs nasceram assim e defendiam tais ideais, os ideais de uma, digamos “direita clássica”.
Com o domínio do capitalismo financeiro, com a desregulação financeira (as trocas financeiras mundiais por dia são hoje mais de sessenta vezes superiores ao valor das trocas mundiais de produtos) nasceu uma nova ideologia social – o chamado neoliberalismo. Aqui, os interesses do capital financeiro são totalmente diferentes do capital produtivo que nos regia até agora. Acabou o “pacto social” entre o capital e o trabalho e assim pretende-se aniquilar tudo o que tenha natureza pública, retirar o estado de tudo o que é público. Na escola, na saúde, na protecção social e ao mesmo tempo tornar as relações laborais totalmente desreguladas e ao serviço dos mercados. Aliás tudo fica ao serviço dos mercados. Retorna-se ao século XIX, ao salve-se quem puder, à selvajaria de um capitalismo sem “consciência social”. Regride-se a uma “economia que mata”, em que se ampliam as desigualdades sociais, como diz o Papa Francisco.
Muitos partidos socialistas e democratas cristãos vêm adoptando como suas estas políticas neoliberais. Que geram desigualdades sociais, desemprego e menos crescimento económico. Só que, as tensões sociais que tais políticas geram, agudizadas que foram pelas consequências da crise financeira de 2008, obrigam os partidos da área social-democrata a repensar e a rever os seus alinhamentos. Creio que é o que estamos a assistir por essa Europa. Creio que é também o que se passa neste momento com o PS.
António Costa pretende cortar com as políticas neoliberais da coligação PÁF e voltar aos seus verdadeiros ideais social-democratas. Com a ajuda dos outros partidos da esquerda que como ele, se manifestaram e manifestam contra as políticas neoliberais de uma direita que se tornou radical. Pretende-se, como por ele foi afirmado inúmeras vezes em campanha eleitoral, romper com tais políticas e criar uma alternativa à austeridade que é a face mais visível das políticas neoliberais. Romper com o ciclo da “MAIS AUSTERIDADE PARA SAIR DA AUSTERIDADE”.