segunda-feira, janeiro 03, 2011

Ano tempestuoso


O balanço do ano que termina bem poderia descrever-se como os versos de Mao Tse Tung que num momento de enorme incerteza na Grande Marcha escreveu: “Reina uma grande desordem debaixo dos céus. A situação é excelente”.
Com efeito, a desordem universal não poderia ser de maiores dimensiones. A necessidade da mudança, tão pouco.
A economia mundial continua submetida aos caprichos do grande capital financeiro que depois de especular com o dinheiro dos aforradores e terminar saqueando as finanças públicas (ou seja, o dinheiro de todos os contribuintes) conclui que nenhuma outra estratégia económica lhe proporciona tantos benefícios como a actual. Consciente de seu imenso poder não sente necessidade de fazer concessão alguma. Pouco importa que os factos indiquem as perigosas dinâmicas que se produzem; nada a inquieta enquanto não veja perante si uma força social que a coloque em perigo. Nem sequer o reformismo burguês tem hoje aceitação nos selectos clubes que determinam os destinos do planeta, pelo que os especuladores e as multinacionais não esperam outra coisa que um ano novo ainda mais favorável aos seus interesses. Não falta quem sugira que estamos hoje no fim de um outro período igual ao dos “alegres anos vinte” que precedeu à Grande Depressão, o fascismo e a guerra.
As decisões políticas importantes tomam-se nos círculos selectos do grande capital e os partidos tradicionais se diluem num único grande partido vazio de funções e com apoios sociais cada vez menores e de menor entusiasmo. A corrupção que sempre foi um mal mais ou menos controlado se expande como um cancro cujas metástases afectam já todas as instituições. O quadro dramático de países chaves para os interesses estratégicos do Ocidente como o México, a Colômbia ou o Afeganistão têm a sua réplica em igual degradação nas democracias consolidadas onde a corrupção de colarinho branco campeia por todo o lado (para no falar das democracias de opereta que reinam no mundo subdesenvolvido).
E como nos piores tempos da Guerra Fria, as grandes potências deslocam as guerras para as regiões periféricas convertidas assim em cenários bélicos, em guerras intermináveis nas quais o Ocidente luta com as potências do antigo campo socialista (especialmente com a China) e com outros países emergentes (Brasil, no continente americano) pelo controlo dos recursos materiais, zonas de influência, bases estratégicas e tudo o mais que contribua para a defesa dos seus interesses.
O fim da confrontação Este-Oeste não deu lugar a um mundo de paz, livre da ameaça nuclear, da chantagem ou da agressão. Os velhos conflitos - quase todos - permanecem e outros novos vieram agravar o peso que suportam as populações, pois desde a Segunda Guerra Mundial a proporção de civis mortos nas confrontações supera amplamente o número de militares mortos. Até a prática medieval do cerco, assedio e aniquilamento de cidades y regiões inteiras ressuscita com todo a força criminosa proporcionada pelas novas tecnologias. A aviação e as armas modernas minimizam ao extremo as perdas dos exércitos agressores e multiplicam por milhões as mortes entre a população civil. Assim é, hoje, no Afeganistão; assim ocorre no Iraque e na Palestina. Os enormes campos de extermínio de Gaza, da Cisjordânia e do Sara Ocidental, estão aí para demonstrar até onde pode chegar a degradação moral dos agressores e a cumplicidade criminosa de quem os apoia (os governos dos Estados Unidos e Europa); mas também a resistência como arma decisiva dos povos.
Incubam-se novas crises económicas, preparam-se novos saques ao tesouro público, e novas investidas ao bolso das classes trabalhadoras. E os perpetradores são os mesmos de sempre, encabeçados -! como não !- pelo sistema financeiro.
Juan Diego García

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