quarta-feira, junho 08, 2011

gerar riqueza e ampliar a desigualdade

Não basta criar riqueza. É preciso conhecer como se distribui. O que aconteceu nas eleições do último domingo no Peru dá para entender melhor como a criação de riqueza num modelo neoliberal não promove o desenvolvimento social. Num momento em que muitos se encantam (tardiamente) com o modelo neoliberal é interessante ler este artigo publicado na Pátria Latina.

HUMALA VENCE DE VIRADA E ENCERRA CICLO NEOLIBERAL
O Peru que foi às urnas neste domingo para rejeitar a continuidade da política neoliberal personificada em Keiko Fujimori registou a maior taxa de crescimento da América Latina no ano passado: 9%. A média de expansão do seu PIB tem sido elevada, da ordem de 7%. Em 2010, sua economia atraiu mais investimentos estrangeiros do que a Argentina.
O presidente Alan García, no entanto, deixa o cargo com uma das taxas de popularidade mais baixas das Américas: cerca de 26%, inferior à de George Bush, por exemplo, que encerrou o mandato em meio a uma hecatombe financeira e desacreditado pela guerra do Iraque. A explicação para o paradoxo, responsável pela vitória de Ollanta Humala, segundo as pesquisas de boca de urna, é o modelo de crescimento adoptado nos últimos anos.
O Peru desde os anos 90 cresce sem políticas públicas para redistribuir a riqueza em benefício da sociedade, sobretudo de sua vasta maioria pobre constituída de indígenas, que formam 45% da população (brancos são 15%). Foram deles os votos decisivos que garantiram a virada da candidatura de centro-esquerda. Basicamente exportadora de minérios, a economia peruana beneficiou-se fartamente da valorização dos preços das commodities nos últimos anos. A opção política, porém, foi por um modelo de crescimento de recorte neoliberal feito de desregulação máxima para os mercados e direitos sociais mínimos para a população.
A riqueza gerada nessa engrenagem não circula na sociedade, concentrando-se numa órbita restrita de beneficiados que gostariam de eleger Keiko Fujimori para afastar o risco de mudanças. A ausência de carga fiscal sancionou e acentuou as polarizações decorrentes dessa dinâmica A receita do Estado peruano é de 15% do PIB, inferior até mesmo à média latino americana e caribenha que já é acanhada, oscilando em torno de 18% do PIB, contra 39,8% da União Europeia, onde a rede de contrapesos sociais está consolidada. O governo Alan García poupou as mineradoras peruanas de uma taxação correspondente aos lucros fabulosos acumulados no actual ciclo de alta das matérias-primas.
O mercado naturalmente cuidou de seus próprios interesses e o Estado não reuniu fundos para investir em educação, saúde, habitação e segurança alimentar. No crepúsculo do ciclo neoliberal a renda per capita no Peru é de US$ 5.196, bem inferior a de outros países da região, como Uruguai, Chile, Brasil e México. A realidade, no entanto, é ainda pior que isso. Com 2/3 da mão de obra na informalidade, a sociedade peruana não dispõe de uma estrutura de direitos trabalhistas; a população rural, formada sobretudo pelos indígenas, vegeta; uma professora ganha cerca de R$ 200,00 por mês. É esse modelo de crescimento que ao gerar riqueza amplifica a desigualdade e polariza toda estrutura social que foi rejeitado agora nas urnas.
(Carta Maior; 2º feira, 06/06/ 2011)

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2 Comments:

Anonymous Anônimo said...

Só miséria....

Já agora....anda praí toda a gente afadigada para que o Governo esteja nomeado antes de 23 de Junho...( diga-se...que até pode ser nomeado mesmo nesse dia )....para que o Primeiro já possa estar presente no Conselho Europeu nesse mesmo dia 23 de Junho....

Mas e então que posição é que o nosso Primeiro irá lá tomar...???...para além de se declarar muito grato aos senhores e honrado por poder ser aí recebido em tão supremo areópago...e agora com carradas de legitimidade...estar sempre... sempre...ao lado da UE...e que mais logo ....na sessão do croquete ...depois da foto de família ...terá muito gosto em melhor explicar o que é que Portugal vai exigir da Alemanha relativamente aos pepinos que foram pró lixo...claro....se ainda houver funcionários no Min. da Agricultura capazes de fazer as contas....

Mas pergunto...e porque é que não se adia o dito Conselho por oito dias...??

7:07 PM  
Anonymous Anônimo said...

Este comentário foi removido por um administrador do blog.

1:25 PM  

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