Desigualdade como condição essencial ao desenvolvimento económico (máxima neoliberal)
Estamos a viver a mais profunda e acelerada alteração social das últimas décadas. Esforçam-se as elites políticas, financeiras, monopolistas e oligopolistas por desvalorizar as profundas alterações sociais que se desenvolvem, tentando reduzi-las a simples “ajustamentos estruturais”. Na verdade, trata-se da mais brutal e rápida transferência de rendimentos dos trabalhadores e de amplos sectores da classe média (pequenos comerciantes e industriais) para uma minoria dominante constituída por elites políticas, financeiras e empresariais.
Torna-se igualmente visível, a profunda mudança do papel do Estado nos tempos actuais. De um Estado, até aqui com preocupações sociais e interventor na distribuição mais justa da riqueza social produzida, passámos a um Estado defensor incondicional dos interesses do capital, exercendo toda a sua força e poder contra a maioria dos cidadãos.
É esta a natureza do “novo” Estado que assegura, “custe o que custar”, esta transferência de rendimentos dos mais pobres para os mais ricos. E, pela primeira vez na história, resultante não de grandes convulsões sociais, de mudanças bruscas de ordem política e social, de revoluções sociais, mas do “normal funcionamento das instituições democráticas”. Talvez seja prematuro ainda, dada a rapidez com que se desenrola esta agressão à cidadania e a mistificação mediática que a acompanha, retirarmos tais conclusões. Contudo, o alcance das severas medidas que estão a ser impostas aos trabalhadores e à maioria da população, mereciam desde já seguramente uma resposta social mais firme do que aquela que observamos.
O aumento generalizado de impostos, a redução de salários, os despedimentos massivos, a redução das pensões e o aumento da idade da reforma, o aumento do tempo de trabalho, a redução das prestações sociais, a redução das funções sociais do Estado na Educação, Saúde e Segurança Social, a liquidação do património do Estado em sectores estratégicos como os combustíveis, electricidade, correios, águas, etc, etc, exprimem uma política de domínio da elite dominante que não conhece outros limites para alem daqueles que delimitam os seus próprios interesses.
O que tem neutralizado a consciência da maioria das populações da agressão de que estão sendo vítimas, a passividade, o abandono, a desesperança, o fatalismo, o conformismo com que aceitam as medidas que empobrecem as suas vidas, deve-se seguramente ao apoio activo dos líderes da Social Democracia, que fizeram suas, as medidas deste “novo modelo económico e social”. Os lideres socialistas europeus, os trabalhistas, os sociais democratas europeus, a Social Democracia Europeia, que vinham representando amplos sectores da classe média e dos trabalhadores, tornaram-se agora os maiores defensores e impulsionadores das medidas anti-sociais que atingem a esmagadora maioria dos cidadãos. O que explica também, o actual domínio ideológico desta “nova” ordem económica. As pessoas perdem a iniciativa de mudança porque de algum modo imaginam, ser possível ainda, nesta nova ordem económica, satisfazer os seus problemas e necessidades. Como diz Jesús Aguiló “não pode mudar-se o que não se conhece, como tão pouco pode mudar-se o que simples ou resignadamente se aceita”.
É a argumentação da implantação das medidas de austeridade impostas à população, que os objectivos desta “nova modernidade ideológica” se tornaram absolutamente claros e transparentes. O crescimento económico só será possível se existir empobrecimento da população. Ou, de outro modo, o crescimento económico exige uma regressão social. E nesta proposição se consubstancia e concentra toda a ideologia do neoliberalismo. Nada poderia ser mais claro.
Na verdade, o crescimento económico teve e terá sempre como destino a satisfação das necessidades da sociedade. Não pode existir crescimento económico fora da sociedade. Contudo, isto não significa que do crescimento económico possa beneficiar toda a sociedade por igual. O crescimento económico pode beneficiar apenas uma pequeníssima parte da sociedade. Pelo que, quando se afirma “o crescimento económico só será possível se existir empobrecimento da população”, o que realmente tal proposição traduz, é que os benefícios do crescimento económico não serão distribuídos pela sociedade como um todo mas apenas por uma sua pequeníssima parcela. É, pura, simples e claramente, a constatação da apologia ideológica da Desigualdade. Será preciso recuar na História, aos tempos primitivos da escravatura, para que uma classe dominante alguma vez assumisse com tanta clareza uma ordem social tendo a Desigualdade como condição essencial ao desenvolvimento económico.
Marcadores: desigualdade, neoliberalismo
4 Comments:
O problema para o Neo-liberalismo...é que hoje... ao contrário de antigamente a classe dominante é muito pequenina...e por isso não vai aguentar-se no balança...lá nos píncaros ...vai cair no meio da populaça....esfomeada ...esfarrapada...
...mas as novas regras...eu não sei...
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