terça-feira, julho 19, 2011

Por que o euro não merece ser salvo

A Dinamarca, a Suécia e o Reino Unido, por exemplo, integram a União Europeia, mas não fazem parte da união monetária. Não há nenhuma razão para que o projecto europeu não prossiga e que a UE não prospere sem o euro.
E há boas razões para esperar que seja isso que aconteça. O problema é que a união monetária, ao contrário da própria UE, é um ambíguo projecto de direita. Se isto não era claro no início, tornou-se agora completamente evidente, numa altura em que as economias mais fracas da zona euro estão sendo sujeitadas a punições que antes estavam apenas reservadas para os países de baixo – e médio – rendimento, apanhados nas garras do FMI (Fundo Monetário Internacional) e dos líderes do G7. Em vez de tentarem sair da recessão através de estímulos fiscal ou/e monetário, como fez a maior parte dos governos do mundo em 2009, estes países estão sendo obrigados a fazer exactamente o contrário, com enormes custos sociais.
Às feridas juntam-se os insultos: as privatizações na Grécia ou "a reforma do mercado de trabalho" na Espanha; os efeitos regressivos das medidas tomadas na distribuição de renda e riqueza; e um Estado Previdência que encolhe e enfraquece, enquanto os bancos são resgatados com o dinheiro dos contribuintes – tudo isto indicia claramente uma agenda de direita das autoridades europeias, tal como a sua tentativa de tirarem partido da crise para introduzirem mudanças políticas de direita.
A integração económica europeia anterior à zona euro era de uma natureza diferente. A União Europeia esforçava-se para puxar para cima as economias mais fracas e proteger as vulneráveis. Mas as autoridades europeias provaram ser impiedosas na união monetária.
Parece que boa parte da esquerda europeia não percebe a natureza de direita das instituições, das autoridades e, especialmente, das políticas macroeconómicas que têm de enfrentar na zona euro.
Isto faz parte de um problema mais amplo de incompreensão da opinião pública sobre a política macroeconómica mundial, que permitiu que bancos centrais de direita implementassem políticas destrutivas, mesmo sob governos de esquerda. Esta incompreensão, em conjunto com a falta de contribuição democrática, pode explicar o paradoxo de, actualmente, a Europa ter mais políticas macroeconómicas de direita do que os Estados Unidos, apesar de ter sindicatos mais fortes e outras bases institucionais para uma política económica mais progressista.
Mark Weisbrot, Washington,14/07/2011 (Opera Mundi)

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2 Comments:

Blogger Zé Povinho said...

O dinheiro não tem ideologia, apenas se preocupa com os números do lucro, tudo o resto são minudências.
Abraço do Zé

5:26 PM  
Blogger José Gonçalves Cravinho said...

Mas que Governos de Esquerda teve Portugal ou a Espanha?!Se o autor do texto se refere ao PS de Soares ou ao PSOE de Zapatero,ou até mesmo o Trabalhista do sorridente Blair,está errado,porque êstes Partidos só usa o rótulo de socialistas ou Trabalhistas,para enganar os bem intencionados ou os palermas,pois êles na prática aplicam Políticas favoràveis à Direita ou seja ao Liberalismo Económico em que cada qual se amanha como pode.E tanto assim é que o Povo desiludido,depois vota na Direita.

2:35 PM  

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