quinta-feira, julho 21, 2011

CDS-a armadilha

A economia europeia encontra-se armadilhada e está prestes a rebentar como uma bomba relógio. Não são fáceis as “soluções” para a UE ultrapassar a crise financeira em que se deixou cair. Os atrasos na apresentação de medidas que possam “salvar” o euro revelam precisamente tais dificuldades. Angela Merkel já avisou, em vésperas da cimeira que hoje decorre, que não haverá que esperar “soluções” espectaculares; o mesmo é dizer que não se esperem “soluções” definitivas suficientes para ultrapassar de vez e de modo satisfatório a crise do euro. O mais provável é que saia da reunião medidas limitadas que, como até aqui, não resolvam a crise mas a adiem mais algum tempo. Enquanto o pau vai e vem, folgam as costas parece ser a estratégia adoptada pelos líderes europeus. 
A bomba relógio que paira sobre a UE deve-se a um activo, forjado pela engenharia financeira neoliberal, que tomou em muito pouco tempo proporções extraordinárias e que está a condicionar, face aos perigos que encerra, a tomada de posições dos líderes europeus sobre a crise. Os CDS (credits default swaps) inventados em 1989 só a partir do ano 2000 se tornaram de uma negativa crucial importância no mundo financeiro. Os CDS são uma espécie de seguro que fazem os investidores das Dívidas Públicas sobre os seus investimentos. De valor mínimo de 10 milhões de dólares o volume de transacções dos CDS em 2008 (e tem aumentado desde então) atingiu o astronómico valor de 65 biliões de dólares, superior a 1,35 vezes a produção económica mundial. Os bancos que negoceiam estes CDS com os investidores, tornam-se também eles investidores e asseguram iguais operações com outros bancos numa espiral de clonagem sem fim.
As instituições financeiras de diversos países encontram-se assim gravemente expostos a um “default” de um qualquer pais de dívida pública elevada já que teriam de assegurar os investimentos de dívida por inteiro e dado os montantes em causa, a quebra (default) da Grécia por exemplo, colocaria em risco o próprio sistema financeiro europeu.

Entendem-se agora as dificuldades que reinam entre os líderes europeus. Não querendo, por estas razões e só por estas razões, “deixar cair” a Grécia, não pretendem também tornar demasiados dispendiosos os custos do seu resgate. Encontram-se na verdade numa encruzilhada, cheia de contradições que os impede de “soluções” rápidas e efectivas. Foram enclausurados na própria teia em que se deixaram envolver pela sua própria inépcia e pelo mundo financeiro desregulado que permitiram. 

Apanhados na própria armadilha

Não querendo os líderes dos países europeus não periféricos, por estas razões e só por estas razões (volume e operações dos CDS), “deixar cair” a Grécia, não pretendendo também tornar demasiados dispendiosos os custos do seu resgate mas, enclausurados na própria teia em que se deixaram envolver pela sua própria inépcia e pelo mundo financeiro desregulado que permitiram, foram agora apanhados na sua própria armadilha e forçados às cedências que antes, de forma até arrogante, nunca admitiram.
O presidente do BCE, terá alertado ontem, nas vésperas da cimeira de Bruxelas, Sarcozy e Angela Merkel, em prolongada reunião, das trágicas consequências para o sistema financeiro de um eventual default da Grécia. Só assim se compreenderá a cedência de última hora de Merkel. Descida de juros da dívida pública e alargamento de prazos dos países resgatados; empréstimos do FEEF a países não resgatados para recompra de dívida quando sujeitos à especulação dos mercados; injecção de capital do FEEF em instituições financeiras em dificuldades de países não intervencionados; troca de títulos de dívida (troca, renovação ou recompra) com o objectivo de ajustá-los às novas condições dos empréstimos; um “plano Marshall” para a Grécia.
As bolsas europeias, perante a catástrofe eminente, logo que se aperceberam deste novo arranjo de medidas, mais com o coração do que com a cabeça, subiram de imediato. Resta saber agora qual o seu comportamento, depois de calmamente escrutinaram tais medidas no novo arranjo financeiro da dívida dos países periféricos.

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4 Comments:

Blogger Zé Povinho said...

Os atrasos pagam-se caro, e as aves de rapina já se viciaram no sangue, por isso vai ser mais difícil controlar esses vampiros no futuro.
Abraço do Zé

7:42 PM  
Anonymous Anônimo said...

Boa Zé Povinho...assim é que é falar e eu estou de acordo consigo..

3:06 PM  
Anonymous Anônimo said...

Por falar em economia...UEs...déficit...equilibrio orçamental ...Troika...etc...caro Blogger ajude-me ...por favor...

É que será que ouvi uma notícia no Telejornal sobre que o Governo de Angola poderá estar interessado em concorrer à privatização de Empresas portuguesas por intermédio de empresas privadas ou públicas daquele Estado...

Ora...atão a UE e a Troika e tal... deram ordem à gente para ràpidamente nos livrar-mos de Golden Shares...privatizarmos as empresas públicas ,...por ex.º a EDP...Águas...etc...onde o Estado não pode ter participação....e podem as mesmas no todo ou em parte ser compradas por empresas públicas de outro ou outros Estados..???

..Ajude-me caro Blogger...que isto deve ser do calor... estou a ficar mesmo pró burro ( ...no sentido de estúpido...falho de ideias... fraco de juízo...curto de inteligência ...horizonte limitado e de difícil reciocínio..com visão deturpada...)...

10:46 PM  
Blogger RukaBiochemichal said...

Bom ensaio.
Em particular queria salientar na importancia que tem os sectores estrategicos passarem para as maos privadas, porque em todo o mundo isso está a acontecer. Dá a entender que essas familias politicas europeias que derivam de utras ramificaçoes mais globais, estao mesmo a tomar de assalto tudo o que é sectores importantes, energia e aguas. Preocupa-me bastante, dado que os recursos da terra face ao grande crescimento global estao a escassear será que já estamos a assistir aos poderosos a salvaguardarem-se de que se adivinha?

7:51 AM  

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