sábado, novembro 12, 2016

AS SETE PROPOSTAS DE TRUMP QUE OS GRANDES MEIOS CENSURARAM... E QUE EXPLICAM A SUA VITÓRIA


Melhor que ninguém, Donald Trump percebeu a fractura cada vez mais ampla entre as elites políticas, económicas, intelectuais e mediáticas, por um lado e a base do eleitorado conservador, por outro lado. O seu discurso violentamente anti Washington e anti Wall Street seduziu, em particular, aos eleitores brancos pouco cultos e empobrecidos pelos efeitos da globalização económica.
 Há que precisar que a mensagem de Trump não é semelhante à de um partido neofascista europeu. Não é um ultra direitista convencional. Ele próprio se define como um “conservador com senso comum”.
 Trump não é um anti sistema, nem obviamente um revolucionário. Não censura o modelo político em si, senão os políticos que o comandam. O seu discurso é emocional e espontâneo. Apela aos instintos, ao estomago e não ao cérebro, nem à razão. Fala para essa parte do povo dos estados unidos entre o qual reina o desânimo e o descontentamento. Dirige-se à gente que está cansada da velha política, da «casta». E promete injectar honestidade no sistema; renovar nomes, rostos e atitudes.
 Os meios de comunicação social deram grande difusão a algumas das suas declarações e propostas mais odiosas. Recordemos, por exemplo, a sua afirmação de que todos os imigrantes ilegais mexicanos são corruptos, delinquentes e violadores. Ou o seu projecto de expulsar aos 11 milhões de imigrantes ilegais latinos a quem quer meter em autocarros e expulsar do país. Ou também a sua afirmação de que o matrimónio tradicional, formado por um homem e uma mulher, é "a base de uma sociedade livre". Sem esquecer as suas declarações sobre o "engano" da mudança climática que, segundo Trump, é um conceito "criado por e para os chineses, para fazer com que o sector industrial dos estados unidos perca competitividade".
 Este catálogo de declarações horripilantes e detestáveis foi, repito, massivamente difundido pelos meios dominantes não só nos Estados Unidos mas também no resto do mundo. E a principal pergunta que muita gente faz será: como é possível que uma personagem com tão lamentáveis ideias consiga uma audiência tão considerável entre os eleitores?
 Para responder a esta pergunta temos que romper a muralha informativa e analisar mais de perto o programa completo do candidato republicano e descobrir os sete pontos fundamentais que defende, silenciados pelos grandes meios de comunicação social.
 1) Os jornalistas não lhe perdoam, em primeiro lugar, que ele ataque de frente o poder mediático. Reprovam-lhe que constantemente anime o público nos seus comícios a troçar dos “desonestos” meios. Trump afirmou: «Não estou a competir contra Hillary Clinton, estou competindo contra os corruptos meios de comunicação»
Por considerar injusta ou enviesada a cobertura mediática, o candidato republicano não hesitou em retirar as credenciais de imprensa para cobrir a sua campanha a vários meios importantes, entre outros, The Washington Post, Politico, Huffington Post y BuzzFeed.
 2) Outra razão pela qual os grandes meios atacaram Trump é porque ele denuncia a globalização económica, convencido de que esta acabou com a classe média. Segundo ele, a economia globalizada está falhando a cada vez mais gente, e recorda que, nos últimos 15 anos, nos Estados Unidos, mais de 60.000 fábricas tiveram que fechar e quase cinco milhões de empregos industriais bem pagos desapareceram.
 3) É um fervoroso proteccionista. Propõe aumentar as taxas de todos os produtos importados. «Vamos recuperar o controlo do país, faremos que os Estados Unidos voltem a ser um grande país».
Partidário do Brexit, Donald Trump revelou que, uma vez eleito presidente, tratará de retirar aos EEUU do Tratado de Libre Comercio da América do Norte (NAFTA). Também arremeteu contra o Acordo de Associação Transpacífico (TPP), e assegurou que, se alcançar a Presidência, retirará dele o país: «El TPP seria um golpe mortal para a industria industrial dos Estados Unidos».
Em regiões onde as deslocalizações e o encerramento de fábricas deixaram altos níveis de desemprego e de pobreza, esta mensagem de Trump foi muito mobilizadora.
 4) Assim como a sua rejeição aos cortes neoliberais em matéria de Segurança Social. Muitos eleitores republicanos, vítimas da crise económica de 2008 ou que tinham mais de 65 anos, necessitam beneficiar-se da Social Security (reforma) e do Medicare (seguro de saúde) que desenvolveu o presidente Barack Obama e que outros líderes republicanos desejavam suprimir. Tump prometeu não tocar nestes avanços sociais, baixar o preço dos medicamentos, ajudar a resolver os problemas dos «sem tecto», reformar a fiscalidade dos pequenos contribuintes e suprimir o imposto federal que afecta a 73 milhões de famílias modestas.
 5) Contra a arrogância de Wall Street, Trump propõe aumentar significativamente os impostos dos corredores dos Hedge Funds, que ganham fortunas, e apoia o restabelecimento da Ley Glass-Steagall. Aprovada em 1933, em plena Depressão, esta lei separou a banca comercial da banca de investimentos com o objectivo de evitar que a primeira pudesse fazer investimentos de alto risco. Obviamente, todo o sector financeiro se opõe absolutamente ao restabelecimento desta medida.
 6) Em política internacional, Trump quer estabelecer uma aliança com a Rússia para combater com eficácia o Daesh. Ainda que para isso Washington tenha que reconhecer a anexação da Crimeia por Moscovo.
 7) Trump estima que com a sua enorme dívida pública os Estados Unidos já não dispõem dos recursos necessários para conduzir uma política externa intervencionista indiscriminada. Já não pode impor a paz a qualquer preço. Em oposição a vários caciques do seu partido, e como consequência lógica do final da guerra fria, quer mudar a NATO: «Não haverá nunca mais a garantia de uma protecção automática dos Estados Unidos para com os países da NATO».
 Todas estas propostas não invalidam em absoluto as inaceitáveis e odiosas declarações do candidato republicano difundidas a jorro pelos grandes meios de comunicação dominantes. Mas sim, explicam melhor as razões do seu êxito.
 (extractos de artigo de Ignacio Ramonet, publicado no Le Monde Diplomatique)