sexta-feira, março 20, 2015

António Costa

A liderança do PS parece andar à deriva. Quando seria necessário uma liderança forte, eficaz e credível, capaz de aglutinar e motivar o descontentamento generalizado dos cidadãos martirizados por uma elite governante que serve unicamente as oligarquias financeiras credoras António Costa enreda-se em questões políticas marginais e longe das preocupações dominantes dos cidadãos.
É assim agora com a questão do processo de escolha do governador do banco de Portugal, ao ponto de pedir ao PSD uma “alteração cirúrgica” da Constituição. Que garantias a liderança do PS pode oferecer aos cidadãos de que com esta alteração a personalidade seleccionada para o cargo de governador seja mais competente e isenta nas suas funções do que pela selecção que temos agora? Nenhumas seguramente.
Torna-se claro que o PS não quer comprometer-se, não quer tomar uma posição clara sobre as políticas neoliberais, sobre as políticas de austeridade sem fim, dominantes na união europeia, adoptadas pela Troika e pelo governo Coelho/Portas. Quando António Costa afirma que se ultrapassaram os limites da austeridade, “o limite dos limites à austeridade, o limite dos limites a todos os cortes, tem de ser a dignidade da pessoa humana”, será porque se admite a austeridade até um determinado limite sendo esse limite a “dignidade humana” seja lá o que isso signifique de concreto.
Nos últimos anos deu-se uma alteração profunda na natureza do capitalismo. O domínio do capitalismo produtivo deu lugar ao domínio do capitalismo financeiro. E os governos europeus tornaram-se reféns, cúmplices e agentes deste domínio, na defesa dos interesses dos “mercados financeiros”, a arma mais mortífera do capital financeiro, o que vem provocando uma alteração profunda das relações capital/trabalho, um “novo” modelo social, com uma nova distribuição da riqueza, com menos direitos sociais, com redução salariais, com privatizações, reduzindo as funções do estado ao chamado “estado mínimo”, privatizando a Educação, a Saúde e a Protecção Social e o património estatal. E todos os governos europeus, socialistas, sociais-democratas, trabalhistas, liberais ou cristãos democratas agem por igual na concretização desta mudança estrutural económica e social, nesta mudança estrutural da sociedade. E dizem, supremo cinismo, não haver alternativa a este modelo anti-social que atira para a pobreza a chamada classe média enquanto gera maiores rendimentos a uma minoria dos mais ricos detentores dos “mercados financeiros” e grandes corporações económicas.
Do que se trata afinal é do ataque “revolucionário” de uma classe social dominante, de uma classe social constituída por banqueiros, donos de grandes empresas, gestores de topo e elites políticas, contra a esmagadora maioria da população, contra os trabalhadores e a pequena burguesia (amplas camadas da população, professores, médicos, administrativos, operários qualificados, pequenos comerciantes e pequenos industriais). A classe média, viu-se de um momento para outro, quando atacada nos seus rendimentos e no seu bem-estar pelas medidas neoliberais da austeridade sem fim, completamente desprotegida, sem que os partidos da área da social-democracia (socialistas e sociais-democratas) até aí seus defensores tradicionais se empenhassem em sua defesa. Ao contrário, deram-se conta que quer os partidos socialistas quer os partidos socias democratas não só ignoravam a defesa dos seus interesses como igualmente se mostravam carrascos para com eles. Ficaram sem qualquer partido que os defendesse e os representasse.
António Costa e o PS terão que definir-se – ou alinham com este ataque social de uma minoria financeiramente dominante cuja ganancia é e será sempre insaciável ou está ao lado da esmagadora maioria da população. Alinhar com o PS espanhol ou afirmar que o “Governo grego está a ser desajeitado nas negociações com os parceiros europeus” não parecem ser posições de aproximação e defesa dos interesses da classe média. Os eleitores gregos e espanhóis já se afastaram dos socialistas. Em França, Hollande já perdeu o seu apoio eleitoral.
Ou António Costa e o PS preferem manter um alinhamento, ainda que envergonhado, aos ideais neoliberais e às políticas de austeridade que deles emergem, colocando-se ao lado da defesa dos interesses anti sociais de uma minoria dominante económica e financeiramente ou, rompendo com esta postura, abraça de vez e sem hesitações a defesa dos interesses e dos direitos sociais da esmagadora maioria da população.
Manter esta indecisão, por mais tiradas avulsas contra a austeridade que se lancem, pouco ou nada favorecerá o alcance de uma pretensa maioria eleitoral.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...


Mas..vamos lá a vêr....então o Governador não é escolhido por concurso público dentre o pessoal com mais de dezoito anos licenciado em gestão bancária ou qualquer coisa do género e depois seleccionado pela tal Comissão de Recrutamento e Selecção...?

Não vejo necessidade de revisões constitucionais...

Quanto ao resto ....( e ressalvo a excelente análise...neste post...) sinto-me muito deprimido porque agora que deixei caducar a carta de caçador já nem sequer me posso dedicar à caça e à pastorícia...com flauta e côdea de broa.... por esses montes fora ....longe ....o mais longe possível .....da política.....

...e então tenho que aguentar...

6:03 PM  

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