quinta-feira, abril 16, 2015

Social Democracia ou Neoliberalismo

O Partido Socialista afirma ser um “partido de esquerda”. Mas o que é ser um partido de esquerda nos tempos actuais, neste mundo globalizado comandado e controlado pelo capital financeiro, pelos “mercados” financeiros? Quando vemos os partidos europeus da área da social-democracia, partidos ideologicamente irmãos do PS - partidos socialistas, trabalhistas e social-democratas - abandonarem a ideologia que sempre disseram defender e abraçarem a ideologia neoliberal, o liberalismo arcaico ressuscitado do século XIX, será de questionar o Partido Socialista Português sobre qual o seu verdadeiro posicionamento actual.
Sejamos claros. A social-democracia defende o modo de produção capitalista e as suas relações de produção, mas igual e paralelamente defende um Estado que assegura o equilíbrio de benefícios entre o Capital e o Trabalho, defende um Estado regulador, um Estado que distribui eticamente a riqueza produzida através de uma justa fiscalidade, um Estado que promove a coesão social e a atenuação das desigualdades sociais, um Estado Social que assegura condições iguais a todos os cidadãos na Saúde, Educação, Justiça, um Estado com uma Protecção Social eficaz à doença, ao desemprego, à velhice, um Estado que através de leis laborais consagra direitos do Trabalho de modo a atenuar tensões sociais sempre limitativas do crescimento e do desenvolvimento económico.
Com a crise financeira internacional iniciada em 2008 o edifício, a arquitectura social deste modelo social que desde a década de 80 do século passado vinha sendo já paulatinamente abalado, sofre um acelerado e brutal ataque tendo por objectivo a sua destruição pura e simples e a sua substituição por um outro modelo social, o chamado neoliberalismo, a ideologia neoliberal. Esta, uma ideologia emanada da “globalização”, do domínio do capital financeiro sobre o capital produtivo que se acelerou nas últimas décadas.
Os partidos da social-democracia europeia deixaram-se corromper pelo poder do capital financeiro dominante e mostraram-se e mostram tanto quanto os próprios partidos liberais, alinhados com o pensamento único neoliberal que hoje domina e controla a união europeia. Todos alinharam, promoveram e promovem as chamadas “reformas” do estado que não são outra coisa que contra reformas, reformas anti-sociais que visam destruir as leis que consubstanciavam os ideais social-democratas e que materializam o estado social.
Todos souberam tirar partido da oportunidade oferecida pela crise financeira de 2008 para acelerar a destruição do estado social, do modelo social social-democrata para substitui-lo pelo modelo neoliberal. Trata-se de um verdadeiro mas obscuro e sombrio “golpe de estado” levado a cabo pelo capital financeiro visando transferir rendimentos da esmagadora maioria da população para uma minoria dominante insaciável, constituída por banqueiros, donos e gestores de grandes empresas e elites políticas usando como instrumento de guerra social a austeridade. Numa nova divisão da riqueza gerada no país agora completamente favorável ao capital financeiro e às grandes empresas que se apropriam deste modo dos recursos financeiros até aqui destinados às funções sociais do Estado e ao bem-estar da população.
Para este modelo social neoliberal, o que determina o “progresso” do país, o que realmente constitui o objectivo da economia, não é a satisfação do bem comum, a satisfação das necessidades humanas colocando o bem-estar das famílias como o seu primeiro objectivo, não, o objectivo da economia é a expansão da acumulação de riqueza de uma ínfima minoria de 1% da população à custa dos restantes 99%. É o modelo social da “economia que mata” como diz o Papa Francisco. Um modelo social que arrasa a chamada classe média, proletarizando os pequenos comerciantes e industriais.
O Partido Socialista deveria ter já anunciado com clareza aos portugueses qual a sua verdadeira opção. Pretende defender a social-democracia ou pretende alinhar com o neoliberalismo ao lado dos seus camaradas europeus. Defende o estado social ou a austeridade sem fim na estupida e absurda lógica de mais austeridade para sair da austeridade. A falta de solidariedade activa que o PS tem demonstrado para com a Grécia ou as visitas de António Costa a Hollande e a Itália em nada clarificam.