quarta-feira, fevereiro 10, 2016

EQUILÍBRIO INSTÁVEL


Toda a gente reconhece que este Orçamento não agrada a Bruxelas, hoje liderada pelas políticas neoliberais da austeridade sem fim. E como gostaria de ter em Portugal um governo que comungasse dos mesmos ideais, que fosse bom aluno e impusesse sem discussão as suas medidas. Todos sabemos isso.

Não há duvida que a CE, a Troika, os “mercados”, enfim, os poderosos interesses financeiros e corporativos que hoje dominam a Comissão Europeia, não colhem qualquer simpatia pelo governo de António Costa.

 Daí que a qualquer, ou melhor, ao mínimo desvio dos índices acordados, a verificarem-se na execução orçamental, se possa esperar a mais violenta reacção da CE (António Costa não pode esperar de Bruxelas a mesma benevolência que teve Passos Coelho quando falhou todos os índices previstos no memorando, défice, dívida,…). E com os “mercados” na expectativa da reacção de Bruxelas, prontos a tal chamamento punitivo.

 A dúvida será, face à débil situação não apenas financeira e social da Europa do euro, saber se a Comissão Europeia estará dispostas a arriscar com os custos sistémicos que o efeito da subida dos juros da dívida pública portuguesa para valores incomportáveis provocará e trará ao euro. Se o governo está em equilíbrio instável e com o cutelo ou o garrote da CE e dos “mercados” ao pescoço, não é menos certo que a CE se encontra também em semelhante equilíbrio instável e com uma opção arriscada de tomar. Valerá a pena aventurar-se, assumindo uma posição de força com Portugal (como deseja a direita radical portuguesa) ou, mais sabiamente talvez, ir seguindo e gerindo com cautela os eventuais desvios orçamentais do governo?