OS “EMPECILHOS” CONTENTAM-SE COM POUCO
Os “empecilhos”, tal como o BE e o
PCP foram tratados pelos mais altos responsáveis do PS, juntaram-se ao
PSD-Madeira para a viabilização do Orçamento.
Uma assunção política que acaba por
credibilizar a argumentação ilusória do PS de que este “é um orçamento de
continuidade” entendendo-se por isso como um orçamento que assenta a sua
estratégia de desenvolvimento na “devolução de rendimentos” como motor do
crescimento económico, isto é, fundamenta a sua estratégia na expansão e
alargamento da Procura tal como se verificou em qualquer dos quatro orçamentos
da anterior legislatura.
Só que, neste orçamento, não se
vislumbra grande semelhança com os anteriores no que se refere à dimensão da “devolução
de rendimentos”. Na verdade, o PS anuncia mesmo que dá por encerrada a
devolução de rendimentos em vários discursos que ouvimos dos seus dirigentes
nos últimos dias.
Para afirmar-se com alguma
legitimidade que o orçamento de 2020 é um orçamento de continuidade seria
necessário que, por exemplo, nele constasse a devolução em IRS de 500 milhões
de euros como quarta parte dos cerca de 2.000 milhões em falta (dos 3.200
milhões impostos em 2013 com que nos brindou Coelho/Portas no tal aumento
colossal de impostos), deixando os restantes 1.500 milhões para uma devolução
faseada ao longo da legislatura. Ou ainda a devolução do IVA da electricidade e
gás, com uma redução, pelo menos, para uma taxa intermédia. E não colhe a
argumentação das “alterações climáticas” agora usada por António Costa para a
sua não redução quando mais de 50% da produção de electricidade é hoje de
origem renovável.
A política de devolução de
rendimentos como motor de crescimento parece ter dado lugar a uma política de
estagnação de devolução de rendimentos. E a insignificante, não chega aos 30
milhões de euros, de desconto de IRS para os jovens no primeiro emprego não
basta para atribuir a este orçamento a mesma natureza política que foi dada aos
orçamentos anteriores.
A viabilização do orçamento na
generalidade por parte do BE e PCP terá como consequência retirar a estes
partidos algum espaço de manobra política, uma vez que não será muito aceitável
que depois desta viabilização do orçamento, tal como apresentado por António
Costa e Centeno, venham agora a introduzir alterações na especialidade que
desfigurem e comprometam o que anteriormente viabilizaram.
O PCP, mas sobretudo o BE, vêem-se
assim obrigados a dançar ao som da música tocada por António Costa e a
viabilizar um orçamento que ao ser de estagnação na devolução de rendimentos é
um orçamento de uma natureza diferente e contrária aos orçamentos anteriores e,
deste modo, de cariz pró-neoliberal e consequentemente pró-austeridade. Não tanto
de uma natureza típica neoliberal ou muito menos ainda de uma natureza
neoliberal radical como os de Coelho/Portas. Contudo, é um orçamento que está
longe de constituir a “Alternativa” às políticas de austeridade neoliberais
como aconteceu com os anteriores orçamentos da “geringonça”.
Dadas as carências sociais e de
rendimentos que a população sofre ainda, teimar por saldos orçamentais como
meio de desenvolvimento e de redução da dívida pública constitui sem dúvida uma
prática do cardápio neoliberal.
A política social-democrata de
“devolução de rendimentos” entende, ao contrário, que com a aplicação desse
excedente orçamental na capacidade aquisitiva das famílias resultaria uma maior
Procura e assim um maior crescimento económico, maior riqueza gerada e deste
modo uma redução mais rápida e acentuada da dívida pública com melhoria das
condições de vida da população. Foi o caminho seguido na anterior legislatura,
a chamada Alternativa de que tanto se gabaram António Costa e o PS.
Durante a discussão do orçamento na
Assembleia da República não se ouviu da parte do governo ou dos deputados
socialistas falar em “Alternativa” como antes era comum ouvir-se nos seus
discursos. Antes falam e sem grande convicção “num bom orçamento” ou “no melhor
orçamento dos últimos quatro anos” ainda que nem eles próprios estejam certos do
que dizem.
Ou então, para o governo e o PS,
retirar ao orçamento a carga social-democrata que os anteriores continham constitua
uma notável melhoria do orçamento de 2020. Deve ser isto.
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