O NEOLIBERALISMO E O GOVERNO PS
“Não, estimado António Costa, se
esmagares a Alternativa como esmagaste a “geringonça”, podes estar certo que as
“contas certas” de que tanto te vanglorias irão dar lugar a contas incertas
mais cedo do que o esperado seguramente.”
Os portugueses, os trabalhadores,
as famílias interrogam-se hoje sobre o sentido, sobre o modelo de governação,
que o PS pretende adoptar na próxima legislatura. O modelo social-democrata
assente nas políticas sociais de aumento de rendimento das famílias e apoio ao
estado social ou o regresso, no essencial, às políticas neoliberais ainda que
mascaradas de laivos sociais.
Os portugueses têm boa memória de
quanto o modelo Alternativo social da última legislatura foi benéfico para o
país com o crescimento da economia, a baixa de desemprego, a diminuição do
défice público e da dívida pública, a diminuição das desigualdades sociais e a
melhoria dos rendimentos das famílias e têm também boa memória de quanto o
modelo neoliberal radical do governo de Coelho/Portas desgraçou o país fazendo
aumentar as dívidas do país, a dívida pública de 93% para 130%, a dívida
externa líquida de 83% para 105%, aumentar o desemprego, diminuir o
Investimento de 37 para 25 mil milhões de euros, o crédito mal parado das
famílias aumentar de 10% para 19% e com O PIB a regredir para os níveis de 2003
e com o recuo do rendimento das famílias ao ano 2000. Com um aumento das
desigualdades sociais e da emigração e com uma significativa diminuição do
emprego e falências de empresas.
O governo de António Costa com ao
apoio dos partidos de esquerda, do PCP e do BE, conseguiu travar o abismo em
que nos colocaram as forças da direita e dar confiança e conforto aos
portugueses através de um modelo de desenvolvimento social Alternativa ao
modelo neoliberal radical de Coelho/Portas.
Um modelo neoliberal cada vez mais
descreditado por esse mundo fora, dado gerar não o crescimento e o bem-estar
das populações como insistem em afirmar, mas o retrocesso social e um
crescimento económico paupérrimo quando não a própria regressão. Com o aumento
das desigualdades sociais e a pauperização continuada das populações,
insistindo nos cortes sociais e nas privatizações, perpetuando assim a
austeridade para, segundo ele, sair da austeridade que ele próprio provoca.
O modelo neoliberal fundamenta-se
numa teoria económica quase tão velha como o capitalismo. Tem fé, acredita que
“a Oferta cria a sua própria Procura”. Isto é, por mais bens que sejam
colocados no mercado eles terão sempre compradores, independentemente das
políticas de rendimentos das familias. Ora, como Keynes provou, o que determina
a Oferta é sobretudo a Procura. Havendo Procura a Oferta sempre aparecerá.
São duas teorias opostas, a
Keynesiana social-democrata e a neoliberal.
Para o neoliberalismo o que importa
é oferecer todas as condições às empresas, aos mercados, com todos os apoios
possíveis do Estado à produção, aos proprietários, com descidas de impostos,
regalias fiscais, desregulação das leis laborais, privatizações, porque segundo
tal teoria serão estas as condições necessárias e suficientes para existir um
maior crescimento económico e mais emprego.
A teoria Keynesiana formula
precisamente o contrário. Quem estimula a Oferta é precisamente a Procura. E,
para existir mais procura são necessárias políticas sociais que melhorem os
rendimentos das famílias, com descida de impostos sobre o trabalho, regulação
das leis laborais que protejam o trabalhador e melhoria efectiva dos salários e
pensões.
Foi esta a política do governo do
PS na última legislatura e que tanto estardalhaço provocou cá dentro e lá fora,
mas que provou estar correcta provocando um crescimento económico e social a
que desde há muito não assistíamos no país.
António Costa, na formação do novo
governo desembaraçou-se dos “empecilhos”, do PCP e do BE e da formulação com
eles de acordos parlamentares para o período da legislatura. Será que isto
significa que o PS irá privilegiar nesta legislatura as políticas de apoio ao
patronato em desfavor das políticas de apoio aos trabalhadores? Será que o PS
retorna ao figurino neoliberal ainda que mascarado de laivos sociais desdizendo
tudo o que disse e fez na última legislatura e retirando desse modo todo o
mérito que lhe foi atribuído e parecia ter conquistado?
Não sabemos, aguarde-se pelo
Orçamento. Contudo a satisfação com que o patronato saiu da última reunião da
“concertação social” e a indignação ali mostrada pelas centrais sindicais não
auguram nada de bom. Oferecer 0,3% de aumento para quem teve o salário
congelado desde 2009 e entretanto sofreu uma desvalorização pela inflação de
11,8% não é seguramente razoável e roça mesmo a provocação política.
António Costa e o PS não deveriam
dar-se por satisfeitos com a devolução de rendimentos que realizaram na
anterior legislatura. Pela simples razão de que a devolução dos cortes
praticados pelo governo de Coelho estão longe de estarem concluídos. Note-se
por exemplo, que o agravamento do IRS em 2013, o tal “aumento colossal de
impostos, ascendeu a mais de 3.000 milhões de euros e apenas foi devolvido pelo
governo do PS na última legislatura cerca de 1.100 milhões de euros; como
também o aumento do IVA da electricidade de 6% para 23% que se mantem.
De um estudo realizado sobre o
total que foi cortado em cortes sociais, salários, pensões, benefícios sociais
e sacado em impostos no governo do PSD/CDS de 2011 a 2015 verifica-se que chegados a 2015 os portugueses tiveram uma quebra dos seus rendimentos de cerca de 18.000
milhões de euros. Por outro lado, chegados a 2019, verifica-se que o total das
devoluções de rendimentos praticadas durante a última legislatura do governo PS
não foi além dos 9.300 milhões. Portanto foi devolvido pouco mais de metade do
que foi retirado ao rendimento dos portugueses. Tanto bastou contudo para
acelerar o crescimento económico do país mas longe ainda de ter proporcionado
às famílias as condições de vida e o bem-estar que detinham em 2010.
Este recuo da devolução de
rendimentos que se afigura agora confirmar-se no Orçamento parece vir a dar
razão a Passos Coelho quando dizia em 2011 "que os portugueses viviam acima
das suas possibilidades e que havia que empobrecer”. E é lamentável que seja o
PS a dar-lhe razão quando tanto e em tanto tempo contestou tais afirmações.
Se o PS alterar o seu rumo político
da Alternativa Social para no essencial seguir a receita neoliberal, ainda que
pincelada de benefícios sociais, o governo pode dizer adeus ao crescimento de
2% que anuncia, como também à criação de emprego ou à taxa desemprego e ao
défice (que até estima positivo de 0,2%).
E o “desenvolvimento” na base dos
salários baixos e dos crescimentos paupérrimos regressarão.
Não, estimado António Costa, se
esmagares a Alternativa como esmagaste a “geringonça”, podes estar certo que as
“contas certas” de que tanto te vanglorias irão dar lugar a contas incertas
mais cedo do que o esperado seguramente.
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