sábado, novembro 23, 2019

SÃO NECESSÁRIAS RESPOSTAS CLARAS

O governo não pode assobiar nem olhar para o lado.
Nem o ministro da administração interna deve discursar como discursou após a manifestação das polícias. Para nada dizer que altere as motivações das polícias seria preferível escusar-se a falar.

A situação remuneratória das forças policiais, bem como da generalidade dos trabalhadores da função pública e também nos trabalhadores do privado, têm-se deteriorado a partir sobretudo da entrada do país na União Europeia e da substituição do escudo pelo euro (2002) e não na Comunidade Económica Europeia (CEE) (1985). Os líderes europeus possuídos por essa nova/velha doutrina liberal, o neoliberalismo, e com as ferramentas políticas nascidas dos tratados de Mastricht (1992) e sobretudo do tratado de Lisboa (2007) impuseram aos estados membros políticas de “desenvolvimento” de matriz neoliberal, isto é de políticas de austeridade que resultaram, como se observa hoje, em crescimentos económicos débeis e com grandes desigualdades sociais e desvalorização generalizada dos salários.

Ao contrário do que afirmam os líderes neoliberais quando dizem que é preciso sacrifícios e redução de salários, para se produzir mais e assim se poder distribuir, o certo é que o resultado “do produzir mais” acabou inteirinho nos bolsos dos mais ricos com um agravamento rápido das desigualdades sociais e com as populações a manifestarem-se hoje em explosões sociais por esse mundo fora onde impera tal modelo de desenvolvimento.

Portugal não ficou isento a esta onda neoliberal, a esta “modernidade” (recordam-se do termo) a partir sobretudo do início da governação do XVIII, do governo de Sócrates. As tais “reformas estruturais” que então começaram a surgir, na Educação, na Saúde, na Administração. Mas foi sobretudo com a governação de Coelho/Portas com o pretexto das imposições da Troika, que tais políticas radicais neoliberais, queremos ir além da Troika diziam, impuseram ao país um retrocesso económico e social brutal, com cortes sociais, com cortes e redução de salários e pensões, com uma austeridade que foi em mais de 7.000 milhões de euros para além do que era exigido pelo memorando da Troika.

O neoliberalismo exige, por sobrevivência, uma austeridade perpétua. Ou se rompe com o neoliberalismo ou teremos austeridade para sempre e cada vez mais acentuada. Com a explosão inevitável de grandes manifestações sociais. Como está a acontecer hoje em França com os coletes amarelos, no Chile, Argentina, Colômbia ou amanhã no Brasil e depois no resto da europa.
Não é possível conciliar o neoliberalismo com a social-democracia. A degradação remuneratória dos trabalhadores da função pública tem que ser ultrapassada profundamente.
Nas forças de segurança, mas também nos médicos, nos enfermeiros, nos professores e na generalidade de todos os trabalhadores. É preciso voltar às carreiras que Teixeira dos Santos tão bem equacionou; é preciso uma actualização salarial que não fique pelos 2% ou 3%.
Para tanto é preciso que o governo vá encontrar dinheiro aonde o há.
Não é admissível que com a crise 10% das famílias mais ricas em Portugal tenham aumentado de 2010 para 2013 a sua riqueza patrimonial de 51,6% para 53,0% face a toda a riqueza gerada, enquanto os 50% mais pobres tenham diminuído a sua “riqueza” patrimonial de 8,7% para 7,2%.

Não queremos um governo de António Costa de meias tintas. Isso resultará num futuro fracasso desonroso.

“A austeridade não é uma medida de técnica económica. É um instrumento de luta social que busca destruir as bases do estado de bem-estar social e do desenvolvimento”.