sábado, fevereiro 08, 2020

AUXILIAM-SE OS DESGRAÇADOS, OS MAIS MISERÁVEIS AO MESMO TEMPO QUE SE EMPOBRECE TUDO O RESTO


Apelidados de “empecilhos”, mal tratados e enxovalhados pelo PS, recusada a sua colaboração nos moldes anteriores logo após a vitória socialista nas eleições, os dois partidos parceiros da “geringonça”, BE e PCP, deveriam ter desde logo compreendido que o António Costa pós-eleições já não era o mesmo António Costa da “geringonça” como igualmente também o PS já não era o mesmo PS dos últimos quatro anos.

Com a esperteza que lhe é reconhecida, ciente do afecto que os portugueses sentiam pela “geringonça”, o novo António Costa tratou de simular, de encenar que desejava, ainda assim, um apoio e colaboração semelhante ao que se verificou na legislatura anterior.

Na verdade, António Costa e o PS acabavam por alterar e mesmo inverter a estratégia política, o modelo social que foi seguido na legislatura anterior. Uma estratégia e um desenvolvimento económico e social não já baseado em políticas de devolução de rendimentos mas, ao contrário, baseado na estagnação de devolução de rendimentos ou até, na verdade, de redução de rendimentos como é o caso dos aumentos abaixo da inflação de 0,3% nos vencimentos dos funcionários públicos e nas pensões, política salarial que irá ser seguida como sempre o foi pelo patronato privado. Os aumentos superiores à inflação dos mais pobres vêm apenas confirmar a natureza neoliberal destas políticas. Auxiliam-se os desgraçados, os mais miseráveis ao mesmo tempo que se empobrece tudo o resto.

 Eternizam o corte de rendimentos do IVA da electricidade como eternizam o “colossal” corte em IRS de Gaspar. Restando por devolver cerca de 2.000 milhões de euros nada de significativo é devolvido no orçamento de 2020 e nos seguintes. O secretário de estado das finanças prometeu que em 2021 haveria uma “grande” devolução de IRS, nada mais, nada menos, do que 200 milhões de euros. Como dizia a outra, “só com um pano encharcado nas trombas”. Mas, tais palavras tornam claro a política que o PS pretende prosseguir em futuros orçamentos. A política de estagnação e do empobrecimento.

Na discussão do orçamento o BE e o PCP andaram entretidos a discutir, rivalizando entre si, qual deles obtinha mais “migalhas orçamentais”. Como actores menores do jogo teatral, da encenação montada por António Costa.

Não terão compreendido que face à nova postura política do PS, uma nova atitude seria requerida. Ambos teriam a ganhar, assim ambos perderam. Mais o PCP que ainda não compreendeu que não é para o BE que perde votos mas para o PS.

António Costa e o PS não tiveram durante a discussão do orçamento a oposição de esquerda que ambos mereciam. Para não falar da ridícula e lastimável oposição de direita que tiveram.  

Percebe-se assim por que Costa e Centeno saíram da votação do orçamento às gargalhadas e aos abraços.