AS AMBIÇÕES NEOLIBERAIS E AS AMBIÇÕES SOCIAL-DEMOCRATAS
Uma das críticas exploradas pela direita nos últimos tempos tem consistido em apresentar o novo governo socialista como um governo sem ambição, sem “reformas” estruturais e sem um objectivo mobilizador a curto, médio e longo prazo. O objectivo das forças da direita é portanto fazer acreditar o pacato cidadão que estamos perante um governo que apenas se preocupa em gerir o dia-a-dia, sem qualquer ambição de futuro.
De facto, sem uma argumentação capaz nos campos financeiros, económicos e sociais, sem grande espaço de manobra, uma vez obtidos os óptimos índices macroeconómicos pelo último governo de António Costa, juros da dívida muito baixos, crescimento económico acima dos 2%, diminuição de desemprego para 6,1%, redução da pobreza e desigualdades sociais entre outros, resta às forças da direita servirem-se de fantasmas futuros, dando à “vinda do diabo” uma nova versão mais requintada.
A ambição das forças da direita consistiria em ter um governo com práticas neoliberais, isto é, um governo que favorecesse os interesses dos grandes grupos económicos e financeiros, com desregulação financeira, com desregulação do trabalho, com mais privatizações, com menos impostos sobre o capital e com menos funções sociais do Estado. No fundo as tão ansiadas “reformas estruturais” sempre reclamadas pelos partidos da direita.
E, como o governo do PS segue um outro caminho alternativo, com medidas de cariz social-democrata, não menos ambicioso do que o da direita mas de sinal contrário, vá de invocar a sua inoperância e a sua falta de ambição.
Sim, António Costa não tem a ambição de satisfazer a “ambição” da concretização das “reformas” da direita mas tem, ao contrário, a ambição de prosseguir o árduo, difícil e deveras ambicioso caminho da prática social-democrata, com o reforço das funções sociais do Estado, com uma regulação do trabalho mais justa para os trabalhadores, com uma maior regulação financeira, com menos impostos sobre o trabalho e sem mais depauperação do património nacional, sem mais privatizações.
É um difícil e ambicioso caminho uma vez que as forças da direita continuam a ter poderosos meios ao seu alcance, sendo um dos mais importante, o domínio e controlo absoluto sobre os meios de comunicação social, incluindo públicos, de onde, a cada dia que passa, lança a sua propaganda de oposição ao governo.
Na verdade, a história dos últimos tempos diz-nos, que as democracias com governos de cariz social-democrata, apesar dos bons resultados que obtêm nos campos financeiros económicos e sociais, como por exemplo o de Lula no Brasil ou de Evo Morales agora na Bolívia, são vítimas de minorias ambiciosas, ávidas de maiores ganâncias que não desistem enquanto não se satisfaçam por completo.
Ao contrário, ali na América do Sul, no Chile, onde tais minorias governaram com práticas neoliberais mais ou menos radicais, os índices económicos e financeiros tornaram-se desastrosos com a aplicação de tais práticas, com a privatização do património do Estado, com a desregulando dos mercados financeiros e do trabalho, com a diminuição do crescimento económico, baixando impostos sobre o capital, aumentando a dívida pública, aumentando o desemprego, no que resultou no empobrecimento das famílias das classes médias e na miserabilização das famílias de menores rendimentos e no aumento brutal das desigualdades sociais ao ponto de provocarem uma explosão de descontentamento social pouco imaginável.
E, não se pense que na Europa é outra coisa bem diferente. Não, a natureza das poderosas elites económicas e financeiras possuem igual natureza, estejam elas na América do sul, na Europa ou na Ásia.
O governo de António Costa tem que com vigor e determinação anunciar a todo o sempre a sua alternativa social-democrata em oposição ao neoliberalismo da direita quer ele seja mais ou menos radical, denunciar o sentido e últimos objectivos das tais “reformas estruturais” neoliberais.
E não basta ter contas certas e dar tudo certo. O Governo do PS tem que precaver-se da propaganda neoliberal a que todos os dias assistimos na comunicação social.
Jamais as forças da direita darão tréguas e desistirão das suas desmesuradas ambições. Não se pense que a “concertação social” é alguma vez alternativa ao conflito de classes.
Por outro lado, o governo de António Costa não será um total, fiel e militante intransigente das práticas sociais-democratas, contudo, as políticas de carácter social que implementou no anterior governo e se prontifica a aplicar neste segundo mandato são mais do que suficientes para provocar o desconforto, a oposição e a repulsa das forças da direita contra a governação socialista que usarão de todos os meios para o desacreditar.
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