quinta-feira, novembro 28, 2013

Os mercados

Um documentário realizado por Adam Curtis revela a essência pueril e mecânica da teoria de Nash, donde os indivíduos, guiados pelo egoísmo, apelam à desconfiança e à traição. Também deita por terra as ideias dos economistas que cimentaram o modelo económico vigente desde começos dos anos 80, como Friedrich von Hayek y James Buchanan, que apelavam à redução do Estado, às privatizações e ao fim da democracia. Dizia-se que os mercados estavam tão ligados com a vida das pessoas, que não podia existir ninguém melhor habilitado que os mercados para resolver os seus problemas e responder democraticamente às suas necessidades e de um modo que não podia fazer a política.
“Os mercados são as únicas máquinas de votar reais; Se estas máquinas se mantiverem longe do alcance dos políticos e das regulações, chegarão a expressar fielmente a vontade da comunidade… e quem deve estar a cargo desta revolução que pela primeira vez na história tornará real a vontade da comunidade, são os banqueiros. Eles serão os encarregados de fazer com que isto ocorra”. (Friedrich von Hayek y James Buchanan).
Curtis fala-nos da visita que Alan Greenspan (presidente da Fed) e Robert Rubin (presidente de Goldman Sachs e logo Secretário do Tesouro dos Estados Unidos) realizaram ao recentemente eleito Bill Clinton, em 1992, para informá-lo que todo o seu programa de governo deverá ser abandonado porque o défice que herda de George Bush torna-o impossível. Assim, desde o seu primeiro dia de governo, Bill Clinton reduziu funcionários e programas públicos por ordens de Alan Greenspan e Goldman Sachs. Clinton foi o primeiro presidente que transferiu o seu poder para a banca. E desde Clinton, a banca começou a governar o mundo.
O resultado deste processo surge hoje à frente dos nossos olhos: a maior depressão mundial da história, sem alternativas reais de solução e com um futuro povoado de incertezas. A “democracia de mercado” baseou-se simplesmente na liberdade para comprar e delapidar tanto lixo o mais possível ainda que isto signifique um retrocesso crucial na qualidade de vida. Contrariamente ao que se prometia, o consumismo não foi uma etapa intermédia para o paraíso, mas bem o contrário, uma etapa intermédia para o inferno. E essa mesma banca que em 1992 tomou as rédeas do mundo, quinze anos mais tarde exigia ser resgatada com o dinheiro público, continuando a exigir resgates nos últimos cinco anos. A factura destes resgates supera já os 16 bilhões de dólares.
(ver em Elblog Salmón)