O ORÇAMENTO E A DIREITA
Eu
compreendo que dá jeito à direita neoliberal apresentar o Orçamento do governo
como um orçamento que, ao contrário do que o PS prometeu, não será uma alternativa
à austeridade, ao empobrecimento, à destruição do estado social a que se pode
resumir o resultado da execução dos Orçamentos da governação do PSD/CDS dos
últimos quatro anos.
Não, não é
um Orçamento em que os seus defensores peçam aos portugueses “para não serem
piegas” ou os “convide a emigrar” ou considere “o desemprego como uma oportunidade”
ou que os portugueses terão “que aguentar, ai aguenta, aguenta” , sempre “custe
o que custar”. Não, não é um Orçamento assim.
Não é um
Orçamento onde se possa dizer “as pessoas estão piores mas a economia está
melhor”. Não, não é seguramente.
Gabava-se o
anterior governo de “ir além da Toika” e com isso arrastou o país para a maior
recessão do pós 25 de Abril. Recorde-se que as medidas de consolidação
orçamental (que incluíam subidas de impostos e cortes de salários e pensões,
por exemplo) executadas em 2012 e 2013 (os dois anos em que o Governo
apresentou um Orçamento para a totalidade do ano) ascenderam a 15.400 milhões
de euros. Ou seja, um valor que é mais do dobro dos 7600 milhões de euros de
austeridade previstas no memorando inicial assinado com a Troika.
Depois de
quatro anos de governação neoliberal temos um país com maior dívida (passou de
94% em 2010 para 130% em 2015), uma maior dívida externa líquida (passou de 82,7%
em 2010 para 104,5% em 2014), com um muito menor investimento, destruiu-se
emprego, encerraram-se empresas, diminuiu o rendimento dos trabalhadores,
diminuiu-se o acesso aos benefícios sociais, ampliou-se a pobreza e as
desigualdades sociais, diminuiu a natalidade e assistiu-se à maior vaga de
emigração, 500.000 nestes quatro anos em sua maioria jovens qualificados.
O Projecto
de Orçamento agora em apreciação na AR constitui na verdade uma alternativa à
governação da direita radical destes últimos quatro anos.
Devolve salários
(aos funcionários públicos e aos trabalhadores em geral com o aumento do
salário mínimo e a restituição da CES), atribui benefícios sociais cortados
pelo anterior governo (RSI,RSI, abonos de família, diminuição das taxas
moderadoras…), diminui o IVA da restauração e descongela as pensões que
permaneceram congeladas durante os últimos quatro anos.
Inequivocamente
é um “virar de página” e um começo sério de uma abordagem diferente e
antagónica ao desenvolvimento económico e social da que tinham Coelho e Portas.
E para o
comprovar não é preciso ir muito longe, basta observar a ferocidade patética, o
irracionalismo, a extravagância das críticas da direita radical.
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