sábado, abril 14, 2018

OS ELOGIOS A CENTENO


Quando o presidente da CIP, António Saraiva, elogia o governo pela adopção que tomou relativa ao valor do défice, dizendo “ o governo está no bom caminho” torna claro o sentido político da decisão de Centeno.
 As palavras do ministro das finanças ontem na apresentação do programa de estabilidade como justificação da opção tomada de reduzir o défice de 2018 para 0,7% são, no mínimo, de grande infelicidade.
Ao afirmar que esta decisão é indispensável à sustentabilidade das “contas públicas” porque não quer “regressar a um passado recente” interpretando assim a vinda da Troika e as dificuldades porque o país e os portugueses passaram como o resultado das “más políticas” do governo de Sócrates, está a utilizar a mesma argumentação que ouvimos a direita repetir durante os anos da governação Coelho/Portas.
 Ora, tal interpretação que a direita e agora Centeno faz da origem e intensidade da crise porque passámos é falsa e não corresponde à realidade.
Apesar dos erros cometidos pela governação do anterior governo do PS, e foram muitos, a causa primeira das dificuldades sentidas pelo país tiveram origem na crise financeira internacional iniciada em 2008. A crise atingiu todos os países, e não foram seguramente as “más políticas” do governo Sócrates que provocaram o resgate da Irlanda, da Grécia ou as dificuldades sentidas pela Espanha, Itália e muitos outros países.
Retomar o falso discurso da direita para justificar uma decisão política é, no mínimo, de uma tremenda infelicidade. Uma tal inversão da interpretação histórica da realidade feita por Centeno está já a merecer elogios do “patrão dos patrões”, do presidente da CIP António José Saraiva quando diz que com tal medida “o governo está no bom caminho”.
 Terá sido um pequeno descuido, um desvio do modelo social alternativo anti austeridade encetado pelo governo de António Costa com o apoio parlamentar do BE e PCP desde o seu início ou um regresso às políticas neoliberais da “austeridade para sair da austeridade”?
António Costa poderia e deveria ter dialogado com seus parceiros que com os seus votos aprovaram o Orçamento para 2018 com a previsão de um défice de 1,1% e negociado um valor alternativo. Facilmente se chegaria ao valor de 0,9% que creio seria aceitável pelo BE e PCP e evitaria a infeliz argumentação de Centeno e a desconfiança agora instalada nos seus parceiros e nas famílias quanto ao sentido político futuro da acção política do governo.