Ao que parece, a presente crise financeira, económica e social, não trouxe quaisquer ensinamentos às elites políticas que governam este mundo. Nem outra coisa seria de esperar. Enfrentar a crise com roturas e alternativas politicas e económicas seria desdizer o que sempre apresentaram como a única e infalível estratégia de desenvolvimento económico – a estratégia neoliberal e as suas “indispensáveis reformas”. Continuam a propagandear a necessidade de reformas e a culpabilizar “ os reguladores e o espírito de ganância” como causadores da crise. As elites políticas mundiais confundem-se hoje com os interesses das oligarquias mundiais, são uma única “classe social”, trocam lugares de governo por lugares de administração dos grandes grupos económicos e financeiros num constante e promíscuo vaivém, não demonstrando a menor preocupação pela degradação das condições de vida dos povos.
Será bom repetir que segundo o relatório da Unctad (United Nations Conference on Trade and Development) de 1997, o crescimento mundial, reduziu-se de cerca de 4% ao ano nos anos 70, para cerca de 3% nos anos 80, e 2% nos anos 90. Por outro lado, afirma o Relatório da EU “a parcela de riqueza que é destinada aos salários é actualmente a mais baixa desde, pelo menos, 1960 (o primeiro ano com dados conhecidos). Em contrapartida, a riqueza que se traduz em lucros, que remuneram os detentores do capital, é cada vez mais alta”.
Na verdade, o neoliberalismo e as suas politicas, nestas últimas décadas, trouxeram uma constante redução do crescimento económica e paralelamente maiores desigualdades sociais e um maior empobrecimento dos povos. É este o resultado da aplicação das políticas económicas e sociais do neoliberalismo que culminou agora com a crise porque passamos.
Propagandeiam hoje os governantes que o “ vencer” da crise, acarretará mais restrições no bem-estar dos cidadãos, sugerem que terão que suportar mais sacrifícios e as “indispensáveis reformas” que se traduzirão, como sempre, e na lógica neoliberal, em mais cortes sociais. E apresentam tudo isto, como uma fatalidade insuperável.
Para os líderes políticos nacionais, Portugal terá forçosamente que seguir este mesmo caminho, ou afastar-se-á irremediavelmente da “modernidade”. Pouco importa que a economia nacional seja constituída em sua esmagadora maioria por micro, pequenas e médias empresas, que haja meio milhão de desempregados, 20% de pobres e uma classe média empobrecida e a caminho da proletarização.
A”globalização” determina por um lado, empresas competitivas internacionalmente, com dimensão capaz, que exportem seus produtos, enquanto por outro, exclui e sacrifica as velhas indústrias nacionais e alheia-se das pequenas e médias empresas responsáveis por 75% do emprego nacional. Todas as atenções do governo estão centradas nas grandes empresas a que nunca faltam incentivos e apoios.
Com crescentes recursos técnicos e novas conquistas do conhecimento, mantendo-se, como acontece, a população estável nos países industrializados, com crescimentos económicos ano após ano (ainda que em regressão), não haveria razão alguma para uma descida dos padrões de vida dos cidadãos. Mas essa razão existe e reside nas desigualdades cada vez mais acentuadas da distribuição da riqueza produzida, consequência das políticas anti sociais do neoliberalismo.