As dívidas públicas e os mercados
A chamada, erradamente, crise das dívidas públicas, não resulta do endividamento dos países como se pretende fazer crer, ainda que tal constitua um problema, mas da especulação financeira dos mercados financeiros. Os especuladores passaram a encarar o mercado da dívida pública como um outro qualquer mercado de commodies. E, começaram a especular nos países do euro, porque a própria estrutura da UE tal como se encontra lho permite. Isto é, os países da UE estão prisioneiros e à mercê dos mercados, ao não possuírem moeda própria e capacidade de emitir moeda, ao não terem meios de controlo da sua política monetária. E, não há estrutura comunitária que possa substituir ou compensar aquele controlo monetário nacional. Tornou-se assim fácil aos mercados especularem com as dívidas públicas dos países do euro.
Os exemplos são bem demonstrativos do que afirmamos. A Espanha, com uma dívida pública em 2007 (início crise) de 27% do PIB e com um orçamento excedentário, encontra-se sujeita a uma sufocante especulação com a sua dívida soberana, que já ultrapassou os 7,5%. Ao contrário, verificamos que o Japão com uma dívida soberana de mais de 200% do PIB continua com juros da dívida de 0,78%; ou os USA com uma dívida de mais de 100% do PIB e um défice orçamental de 9% (2011) com juros de apenas 1,51% ou ainda o Canadá com uma dívida de 84% e com juros de 1,72%.
Para uma política de direita neoliberal é cómodo atribuir ao endividamento dos países a causa do aumento dos juros das suas dívidas soberanas. É cómodo e vantajoso porque lhe permite, com tal falso argumento, fazer o chamado ajustamento (leia-se empobrecimento), isto é, aumentar as desigualdades sociais e reduzir ou aniquilar o estado social. Satisfazer os anseios com que sempre sonhou - diminuir salários, reduzir apoios sociais, reduzir ou eliminar direitos laborais, enfraquecer os sindicatos, privatizar o património do Estado, reduzir ao mínimo as tarefas do Estado e transferi-las para a actividade privada.
É uma enorme mistificação que desresponsabiliza os verdadeiros responsáveis da crise e faz recair sobre as famílias as culpas da miserável situação que eles próprios forjaram.