sábado, julho 18, 2015
Ao falarmos do governo português não poderemos simplesmente
dizer que temos um governo de direita. Não, temos um governo de direita
reaccionário, um governo da direita neoliberal radical.
Governos de direita houve muitos depois do 25 de Abril, mas
nunca tão radical, tão antidemocrático, tão reaccionário como este de Coelho e
Portas.
Antidemocrático porque nestes quatro anos afrontou consciente
e sistematicamente a Constituição da Republica Portuguesa. Porque se empenhou
em mudar e substituir o modelo social constitucional vigente por um outro novo
modelo social, sem que para tal fosse democraticamente mandatado. A proclamação
de Coelho logo no início do seu mandato governativo não deixa lugar a dúvidas - "independente
daquilo que foi acordado com a UE e o FMI, Portugal tem uma agenda de
transformação económica e social que é decisiva. Nesse sentido, o Governo
incluiu no seu programa não apenas as orientações que estavam incorporadas no
memorando de entendimento como várias outras que, não estando lá, são
essenciais para o sucesso desta transformação do país”
É por essa razão que políticos da direita, da direita democrática
como Bagão Félix, Freitas do Amaral, Ferreira Leite, Pedro Marques Lopes e
muitos outros mostram um claro distanciamento em relação à mancebia Coelho e
Portas e às suas políticas.
E, como sabemos, os políticos reaccionários não olham a meios
para atingir os seus fins. Mentem descaradamente, prometendo tudo e o seu
contrário no propósito de alcançar ou eternizar o poder. Um exemplo recente,
aquele em que Coelho para desculpar-se do excesso de austeridade vem agora
afirmar que o “memorando estava mal desenhado”. Para alem de tudo o que
contradiz tal afirmação, como Eduardo Catroga ter sido um dos principais senão
o principal artificie do dito, as suas palavras proferidas no início da
governação desmentem-no completamente – “prometo cumprir o programa acordado
com a troika e admito mesmo surpreender e ir mais além das metas do acordo”
dizia ele então.
A esquerda quando se refere à coligação CDS/PSD deve de
deixar de falar em direita e começar a chamar os bois pelos nomes – direita reaccionária.
sexta-feira, julho 17, 2015
Economia que mata
Podem bem todos os membros do “euro-grupo”, que como foi dado
a conhecer nem sequer existência legal possui, limpar as mãos depois da trampa
que fizeram.
O seu comportamento foi mais próximo do comportamento dos
mafiosos do que de parceiros irmanados num projecto solidário comum.
Como todos os economistas afirmam, a capitulação da Grécia e
as medidas a que se obriga não irão resolver a profunda crise económica,
financeira e social em que se encontra. Não resolverá o problema do
endividamento, do desemprego, da pobreza, da economia.
Esta Europa do euro comandada pelo capital financeiro não
admite outro alinhamento que não seja o modelo único neoliberal que tudo
subordina aos interesses do capital financeiro, dos bancos e das grandes
empresas, dos seus proprietários e aliados políticos.
Este modelo económico e social tenta e está conseguindo
destruir, aniquilar o modelo social do “capitalismo social” saído do pós-guerra
com o seu estado-social de desagravamento das desigualdades sociais, da
educação e saúde universais e gratuitas e da protecção social no desemprego, na
doença e na velhice.
É um modelo com uma “economia que mata” como diz o Papa
Francisco em que todos os recursos do trabalho, em que todos os recursos criados
pela sociedade são tomados pelo capital financeiro.
Trata-se da luta de uma classe privilegiada, reduzida em
número mas detentora da riqueza financeira e económica e também do poder
político, que pretende ampliar a sua riqueza apropriando-se da riqueza que é de
todos e dos rendimentos da classe média e dos trabalhadores.
E isto, nos tempos modernos, é novo no capitalismo. Regressámos
ao tempo em que apenas é concedido aos trabalhadores o mínimo indispensável à
sua própria sobrevivência vegetativa. Em que à falta do subsídio de desemprego ou outros
apoios sociais se lançam milhares de trabalhadores na pobreza.
Engrossando agora o mundo do trabalho também a chamada classe
média, funcionários públicos, professores, enfermeiros, etc, e muitos pequenos
empresários depois do aniquilamento das suas empresas no combate desigual que
mantiveram com as hipper empresas.
A frente dos que estão a ser hoje explorados - é o termo
exacto - por uma minoria minúscula mas poderosa da sociedade, possuída de uma
ganância desmedida, ávida de riqueza, é demasiado ampla para que possa
sentir-se segura num futuro próximo. A reacção de ódio que manifestou para com
o governo e o povo grego demonstra-o. Ficou também claro que a democracia é incompatível
com os seus desígnios.
A Grécia provou-o agora, mas outras Grécias seguramente
surgirão muito em breve.
segunda-feira, julho 13, 2015
Tsipras falhou
Tsypras falhou. Ao abdicar desde o início das negociações do
seu melhor argumento que seria admitir uma eventual saída da Grécia do euro
tornou as ultimas “negociações” mais difíceis para si. Seguros de que jamais
Tsipras admitia uma saída do euro os agiotas credores deram-se até ao luxo de
lhe proporem uma saída “negociada”.
Tsypras deveria compreender que esgotadas todas as cedências
razoáveis, para além das quais já não faz qualquer sentido falar-se de uma
alternativa à austeridade, que constituiu a base das suas promessas eleitorais
e uma estratégia que foi sufragadas pelo povo grego no referendo da semana
passada, só um caminho lhe restava, a saída do euro.
Se não é possível um caminho alternativo à austeridade dentro
do euro então não resta outro caminho aos partidos de esquerda, aos povos dos
países sufocados e aprisionados no euro, do que procurar outra via fora do euro
por mais custos iniciais que tal possa acarretar.
Aceitar a austeridade sem fim, aceitar os ditames da ditadura
financeira, aceitar o futuro sombrio do empobrecimento e do agravamento das
desigualdades sociais, aceitar a capitulação de todos os seus ideais é miserável,
totalmente desonroso e constitui uma deslealdade para com seu povo.
sábado, julho 11, 2015
Tsipras converte o Não em Sim e se rende às exigências da troika
O governo grego deixou a democracia num monte de cinzas e
converteu o Voto Não, de recusa às medidas da troika, num Sim de capitulação e
rendição aos ditames de Merkel e Bruxelas. Ou isto é o que nos querem fazer
crer. O certo é que o voto Não, contrário aos cortes e à alta de impostos foi
torpedeado, e haverá cortes e altas de impostos em toda a linha estabelecida
por Bruxelas. Este surpreendente acordo pode ser para aliviar a dramática
situação do povo grego que requere socorro imediato, e também deixar a troika
descansada no sentido de evitar futuras "insurreições" de países
periféricos.
Os apertos pelo dinheiro e os pedidos de crédito do governo
do Syriza transformaram o Não ao referendo num Sim. A transição da democracia à ditadura financeira foi completa. Não
havia outro remédio: Na Grécia escasseavam os alimentos, os serviços de saúde e
os bancos estavam fechados. Tudo isto e ainda uma fuga de capitais estimada de
mais de 100 milhões de euros diários porque a especulação nunca cessou.
Tsipras não tinha alternativa, e passou de herói a vilão em
menos de uma semana. Para salvar o país ainda que seja por uns meses, teve que
ceder à troika e aceitar os cortes e o aumento de impostos. Se este novo
programa de austeridade deixa a situação igual ou pior que antes, a Tsipras não
lhe restará mais que renunciar por ter actuado como um cavalo de Troya e ter
burlado a decisão dos gregos do passado domingo que votaram 61,3 por cento na
recusa das políticas da troika. Esta
decisão soberana do povo grego foi, no dizer de Jean-Claude Juncker
"totalmente irrelevante" e foi parar ao caixote do lixo. O que só
confirma que a UE funciona como uma ditadura financeira e defenderá sempre os
interesses do dinheiro.
Para a troika, são as
pessoas que devem submeter-se à ditadura da economia e não a economia que deve
estar ao serviço das pessoas. É o mundo ao contrário, de uma total distorção. Tsipras
havia oferecido menos troika e sai como ovelha tresmalhada com mais troika.
Para isso não era necessário haver referendo. Grécia retirou-se do combate sem
sequer esperar pelo primeiro round. Veremos se sai da asfixia com estas novas
medidas ou se cai para sempre no abismo.
(retirado de El Blog Salmón)
quinta-feira, julho 09, 2015
O tsunami financeiro está a caminho
Quando a crise mundial rebentou em
Setembro de 2008, a exposição dos bancos privados na Grécia chegava aos 270 mil
milhões de euros. Os planos de "resgate" ao sistema financeiro
organizados pela UE, o FMI e o BCE, reduziram essa dívida a 50 mil milhões de euros.
Quatro anos mais tarde, em 2012,
quando se decretou a quebra da Grécia, 80 por cento da dívida pública helénica
se devia à banca europeia e 20 por cento a suas instituições. Nos últimos três
anos essa relação inverteu-se e hoje 80 por cento da dívida se deve às
instituições como o Fundo Monetário Internacional e o Banco Central Europeu. O
custo de transferir uma crise financeira iniciada na banca para o governo
significou a quebra da Grécia. Mas ninguém ousa reconhecê-lo.
Dos 230 mil milhões de euros do
"resgate grego", apenas 11 por cento foi parar ao governo grego. Mais
de 200 mil milhões de euros usaram-se no pagamento das dívidas da banca europeia,
principalmente alemã e francesa, numa operação que significou o empobrecimento
de milhões de gregos. Como em todos os "resgates" não ouve nenhuma
injecção de dinheiro real na economia.
O resultado para a Grécia foi
desastroso. O Producto Interno Bruto reduziu-se em mais de 25 por cento nos últimos
cinco anos, o desemprego disparou em mais de um milhão de pessoas, enquanto o
consumo caiu 28 por cento. Sem dúvida, os pedidos da UE pela devolução do
"dinheiro dos resgates" mantêm-se como uma guerra de surdos.
A crise iniciada no ano de 2008 foi
rapidamente mascarada, mas não terminada, com abundantes injecções de liquidez
ao sistema financeiro, responsável pela crise. Agora que a liquidez do sistema financeiro
secou e as instituições financeiras também estão secas não há de onde sacar
dinheiro para "resgatar" os países. A Europa demonstra não possuir
nenhum tipo de resposta e está condenando toda a economia. Os planos de resgate
fracassaram tal como fracassaram as injecções de liquidez à banca ou os programas
de "alívio quantitativo". O tsunami financeiro está a caminho e os líderes
europeus muito bem graças a Deus.
(retirado do elBlogsalmon)
terça-feira, julho 07, 2015
pesadelo económico sem fim
“Acabamos de ver a Grécia enfrentar
uma campanha verdadeiramente vil de intimidação, uma tentativa de assustar o
povo grego, e não só para que aceitasse as exigências dos credores, mas também
para que se livrasse do seu governo.
Foi um momento vergonhoso na
história da Europa moderna, e teria aberto um precedente realmente tenebroso se
tivesse sido bem sucedido.A verdade é que os auto denominados tecnocratas europeus são como os médicos medievais que insistem em sangrar os seus pacientes – e quando o seu tratamento degrada a saúde dos doentes, exigem ainda mais sangramento”.
Um voto 'sim' na Grécia teria condenado o país a mais anos de sofrimento sob políticas que não resultaram e que, na realidade, dada a aritmética, não podem resultar: a austeridade provavelmente encolhe a economia mais depressa do que reduz a dívida, pelo que todo o sofrimento não tem qualquer propósito.
A menos que a Grécia usufrua efectivamente
de um importante alívio da dívida, e, possivelmente, mesmo assim, deixar o euro
oferece a única rota de fuga plausível do seu pesadelo económico sem fim”.
Paul Krugman (The New York Times)