Para que os amigos e prezados comentadores deste Blog entrem também na discussão, transcrevo um excelente Post de Suzana Toscano do “quartarepublica” e os comentários que a propósito trocámos.
Menos selvagem
Uma Comissão criada em 2006 com o apoio do Banco Mundial, presidida pelo Prémio Nobel americano Michael Spencer, liberal ortodoxo, e composta por mais 20 personalidades de relevo mundial – Comissão sobre o Crescimento e Desenvolvimento – publicou um relatório que considera que é necessário um novo consenso para "tornar a mundialização menos selvagem", pondo em causa as políticas de desenvolvimento adoptadas no séc. XX na sequência do chamado “Consenso de Washington”. Este, elaborado pelo economista Jonh Williamson no fim dos anos 80, preconizou a redução dos défices, dos impostos e da despesa pública e a aceleração das privatizações e da desregulamentação.
Chegam agora à conclusão de que o Consenso de Washington “não teve em conta as consequências sociais das políticas que defendia, conduziu à insegurança económica e pôs as populações contra as reformas” consideradas necessárias no mundo global.O relatório da comissão é peremptório: “A ortodoxia tem limites e, se houvesse uma receita infalível, já a teríamos descoberto”. E qual é a principal constatação? Pois bem. É a de que “o crescimento indispensável para fazer recuar a pobreza e assegurar um desenvolvimento sustentado reclama um Estado forte”.E que entendem eles por um Estado forte? De facto, a associação entre o crescimento saudável e o papel do Estado deixa por uma vez o estribilho do apagamento a eito dos sectores públicos versus o sector privado, antes evidenciam que tem que haver um “planeamento a longo prazo que permita funcionários melhor pagos e uma administração “competente, credível e motivada”. Diz mesmo mais, diz que os “investimentos públicos em infraestruturas, educação e saúde, longe de impedir o investimento privado, o estimulam”.
Este relatório é um grande sinal de alarme e um toque de finados ao liberalismo economicista do fim do séc. XX. É que os povos querem é viver melhor, não estão muito interessados em saber quem é que segue de perto as teorias que estão mais em voga…
Cara Suzana Toscano,
“Por uma globalização menos selvagem”, quer dizer, o que está em causa não é a selvajaria da “globalização” em si mesma, mas o seu grau, o grau mais ou menos elevado dessa selvajaria.
A pergunta urge. Que benefícios trouxeram para a humanidade a “globalização? Segundo um Relatório da UE a parcela de riqueza produzida que é destinada aos salários é actualmente a mais baixa desde, pelo menos, 1960 (o primeiro ano com dados conhecidos). Em contrapartida, a riqueza que se traduz em lucros, que remuneram os detentores do capital, é cada vez mais alta.
Em Portugal, 5% da população arrecadava em 1974, cerca de 12% da riqueza produzida, hoje arrecada cerca de 20%.
Falemos claro, quando se diz “globalização” selvagem, quer dizer-se, capitalismo selvagem ou, melhor ainda, imperialismo selvagem.
Não é novidade nenhuma para ninguém, pelo menos desde há dois séculos, que os resultados do imperialismo só poderiam ser aqueles a que assistimos. A democracia neoliberal, forma politica estrutural que melhor serve os objectivos do imperialismo, não poderiam dar outro resultado.
Claro que face ao agravamento social, como madalenas arrependidas, os seus próprios autores, vêm agora com lágrimas de crocodilo, manifestar preocupações sobre os resultados das sementes que espalharam.
Não podemos fugir ao desenvolvimento capitalista nem à democracia politica formal. Podemos sim, imprimir à democracia um modelo Social Democrata que regule o capitalismo imperialista e inverta este ciclo de distribuição da riqueza e desenvolvimento.
Caro Ruy
"podemos sim imprimir à democracia um modelo Social Democrata que regule o capitalismo imperialista e inverta este ciclo de distribuição da riqueza e desenvolvimento", isso é fácil de dizer, mas como transpor esse desejo para a realidade da acção política? Creio que é esse precisamente o pomo da discórdia ou, melhor, a fonte das dúvidas...
Cara Suzana Toscano,
A tarefa não será fácil, seguramente. Uma tal mudança só será possível com a ruptura do actual sistema político. Não será do PSD ou do PS que nascerão forças capazes de uma tal mudança ou mesmo de qualquer outro partido do nosso espectro partidário. Veja-se agora o caso da disputa de liderança do PSD, em que todos os candidatos se apresentam com políticas neoliberais e se tentam credibilizar na afirmação dessas políticas.
Com o continuado agravamento futuro das condições sociais surgirão seguramente novas forças politicas tendo como ideologia uma verdadeira alternativa Social Democrata na base do que antes afirmei. E não apenas em Portugal, onde a crise atinge maiores proporções mercê da corrupção política em que vivemos, mas por essa Europa fora. Levará algum tempo até que o descontentamento se generalize e ganhe uma nova dimensão política capaz de forjar uma nova formação política que objective verdadeiras alternativas.