Neste charco pantanoso em que vivemos, num país de notícias enlatadas como qualquer produto do mercado, variando apenas de marca (Sic,Rtp,Tvi,…) onde se cultiva o “politicamente correcto”, que não é outra coisa senão a cobertura às cumplicidades entre políticos, será de algum modo agradável ouvir uma voz frontal de denuncia da corrupção instalada no País.
Marinho Pinho, bastonário da Ordem dos Advogados, com as denuncias que fez sobre casos concretos de corrupção, conhecidas de há muito e de toda a gente, porque há meses divulgadas pela comunicação social, sem que no entanto, tal divulgação merecesse a devida intervenção do ministério público, teve o mérito de colocar em sobressalto a nossa classe política e mostrar a rede de cumplicidades do nosso sistema político. Desde Marcelo Rebelo de Sousa, passando pelo governo, até Luís Filipe Menezes, todos se mostraram, em seus comentários, incomodados com as palavras do bastonário.
O caso da venda do edifício dos Correios de Coimbra, citado por Marinho Pinho, evidencia bem, a impunidade e a liberdade que goza a nossa classe política em suas altas negociatas. A Administração dos Correios vende, por cerca de 15 milhões de euros, o edifício dos Correios de Coimbra a privados que, no mesmo dia e no mesmo Cartório, o revende a outra entidade por cerca de 20 milhões de euros.
Este negócio, feito há meses, não suscitou quaisquer dúvidas a nenhum dos políticos (ou sequer ao ministério público), que agora se apressaram a criticar Marinho Pinho.
Por alguma razão as propostas de Cravinho contra a corrupção foram reduzidas a metade pelos deputados e, mesmo o que delas resta encontra-se em banho-maria, à espera sabe-se lá de quê.
O nosso sistema político é um sistema corrupto, e vem mantendo-se e perpetuando-se, devido apenas às cumplicidades de toda a classe politica.